Notícias

Plantar árvores para colher sauins

Estratégias para salvar os sauins-de-coleira incluem plantio de mudas para aumentar a área para os animais sobreviverem em fragmentos urbanos.

Vandré Fonseca ·
2 de abril de 2014 · 10 anos atrás

Sauim de Coleira. Foto: Diogo Lagroteria
Sauim de Coleira. Foto: Diogo Lagroteria

Manaus, AM — Domingo é dia de pegar na enxada e fazer crescer árvores frutíferas nativas em áreas verdes de Manaus. A iniciativa está inserida no Plano Nacional de Ação para a Conservação do Sauim-de-Coleira. Ao lado do caiarara (Cebus kaapori) e do cuxiú-preto (Chiropotes satanas), que vivem na região entre Pará e Maranhão, o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) integra o grupo dos três primatas amazônicos mais ameaçados de extinção.

O S. bicolor mede quase 30 centímetros de corpo, além de cerca de 40 centímetros de cauda, e pouco mais de meio quilo quando adulto. Ele tem garras bem afiadas, que permite subir e se locomover com facilidade nos troncos e galhos de árvores. Na hora de comer, busca frutos e insetos, mas pode se alimentar também de néctar e pequenos vertebrados. É o símbolo da cidade de Manaus, mas tem a infelicidade de viver em uma área restrita, nos municípios de Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara.

É uma das regiões mais urbanizadas da Amazônia, onde a floresta é reduzida ou usada para a agricultura. Devido principalmente à perda de habitat, o sauim-de-coleira é considerado criticamente em perigo pelo Ibama e Em Perigo, pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). De acordo com o Plano de Conservação da espécie, se medidas não forem tomadas para reverter a tendência atual, esse sauim pode desaparecer em algumas décadas.

Os sauins que vivem em remanescentes de floresta dentro da cidade de Manaus estão em uma situação delicada. Embora os estudos ainda não sejam conclusivos, já se sabe que populações restritas a fragmentos menores tendem a desaparecer, vítimas de acidentes urbanos ou isolamento. Em uma palestra organizada pelo Museu da Amazônia, o biólogo Marcelo Gordo, da Universidade Federal do Amazonas, falou sobre a situação dos sauins. Na área urbana, segundo Gordo, as populações da espécie estão sob um risco maior. Esses fragmentos já estão sob uma pressão muito grande, com a exploração de frutos ou madeira e caça, além disso, as populações que vivem neles são geralmente pequenas. Por isso, a perda de um indivíduo, atropelado, caçado ou por ataque de animais domésticos, por exemplo, pode ter um impacto muito grande. Além disso, o isolamento leva a cruzamentos consanguíneos, o que pode causar problemas no futuro.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas

O reflorestamento é uma das estratégias mais importantes do Plano de Conservação do Sauim-de-Coleira. Este ano, já foram realizados três plantios, com um total de 1.700 mudas plantadas, dentro da cidade de Manaus. As áreas escolhidas fazem a conexão de fragmentos florestais onde são encontrados sauins-de-coleira e o Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, que se estende ao longo de 7 quilômetros do rio e inclui áreas particulares e os 42 hectares do Parque Municipal do Mindu.

“A ideia é estender as áreas verdes até o Corredor Ecológico do Mindu, com espécies que podem favorecer os sauins”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Primatologia, Wilson Spironello, que acompanha as reuniões do grupo. As árvores não vão resolver o problema, mas o plantio é importante também para sensibilizar a população sobre a importância de proteger os sauins e as áreas verdes.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas

 

 

Leia Também
Fauna Amazônica em risco: o sauim-de-coleira
Macaquinho sob estresse
Em Manaus, a fauna visita a cidade

 

 

 

Leia também

Reportagens
23 de junho de 2006

Macaquinho sob estresse

Crescimento de Manaus acaba com 5 mil hectares de áreas verdes por década e põe em risco o sauim-de-coleira, espécie endêmica dos arredores da capital amazonense

Notícias
28 de março de 2024

Estados inseridos no bioma Cerrado estudam unificação de dados sobre desmatamento

Ação é uma das previstas na força-tarefa criada pelo Governo Federal para conter destruição crescente do bioma

Salada Verde
28 de março de 2024

Uma bolada para a conservação no Paraná

Os estimados R$ 1,5 bilhão poderiam ser aplicados em unidades de conservação da natureza ou corredores ecológicos

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.