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Após se abrigar em árvore, onça-parda é solta na Rebio do Tinguá, em Nova Iguaçu

Macho, jovem e saudável, suçuarana é solta após passar uma noite na base do ICMBio na Reserva Biológica do Tinguá. Soltura foi deixar a porta aberta

Daniele Bragança ·
20 de julho de 2020 · 4 anos atrás
Sob efeito da anestesia e protegida do frio com coberta e um casaco do ICMBio. Foto: NGI Teresópolis.

Ao contrário de jabutis, onças-pardas sobem em árvore. E com certa facilidade, o problema é descerem de lá quando se sentem acuadas. Foi o que aconteceu com o personagem desta história, um jovem felino que resolveu subir em uma árvore de 3 metros de altura, por volta do meio dia de 16 de julho, em uma propriedade particular na área urbana do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. 

Se sentindo encurralado, de lá não quis sair sozinho.  

O resgate do felino, que aconteceu pelo tradicional método: tiro com dardo tranquilizante com arma de ar comprimido + intervenção dos bombeiros + medição de peso, altura e saúde pelo veterinário + soltura em uma unidade de conservação, ocorreu bem, entre os dias 16 e 17 de julho. “A onça está em [na Reserva Biológica de] Tinguá, se recuperando para conseguir voltar à natureza. Já acordou, mas está sonolenta”, afirma a analista ambiental Gisele Silva de Medeiros, que trabalha na Rebio desde 2013, em áudio mandado às 10h da manhã de sexta-feira (17).

A operação que Gisele acompanhou de perto foi tumultuada, mas aquela movimentação normal de resgate de animal que não se vê todo dia, pelo menos não na região metropolitana do Rio de Janeiro. 

O início do resgate, na propriedade particular próxima da BR 040, começou na tarde de sexta-feira (16). Primeiro, os moradores ligaram para tudo o que era lugar para avisar que havia uma suçuarana em cima de uma árvore. E ela não fazia nenhum sinal de que sairia de lá sozinha. Gato é gato, mesmo um com 35 quilos. Alguém chamou os Bombeiros, outros contactaram o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), outros ainda ligaram para a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente e, assim, uma força-tarefa com muitas pessoas foi montada com o objetivo de tirar o felino lá de cima. 

Sim, onças sobem em árvores. Foto: NGI Teresópolis/ICMBio.

E não era uma árvore qualquer, mas uma imensa e localizada em cima de um barranco, com casas de um lado e um riacho no outro. Que péssima escolha de local para se abrigar, deve ter pensado a onça-parda, pois mesmo com a chegada de muita gente, de lá ela não ousou sair.  

Ao todo, cerca de 22 pessoas foram mobilizadas no resgate, entre polícias ambientais (do Comando de Polícia Ambiental/CPAM), bombeiros, policiais civis (da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente/DPMA), servidores da prefeitura de Duque de Caxias, funcionários da concessionária que cuida da BR 040 (Concer), veterinários da Universidade Estácio de Sá e funcionários da Hypnos Anestesia, que trouxeram o aparato para a anestesia ser administrada, além dos analistas ambientais do Núcleo de Gestão Integrada de Teresópolis, da qual a Rebio do Tinguá, destino final da onça, faz parte desde maio.

“Chegando ao local, a gente precisou verificar como estava o animal, tanto as condições clínicas do paciente, que se encontrava bem, quanto seu estado, com medo, em cima da árvore (…). Uma árvore em cima de um barranco que tinha, de um lado uma casa, e do outro um riacho. O que complicava, caso o animal caíssse dentro do rio, depois de anestesiado, teríamos uma complicação grande”, explica Rafael Nudelmann, responsável pela anestesia, em conversa com a analista Gisele Silva de Medeiros, que gravou a conversa e disponibilizou para nossa reportagem. Todas as fotografias e vídeos que compõem essa matéria foram disponibilizados pelas pessoas que participaram do resgate. 

O animal foi atingido com o dardo e caiu em sono profundo, ainda preso na árvore. Coube a dois bombeiros subir na árvore com a ajuda de uma escada para puxar o animal. Após o resgate, a onça-parda foi examinada. Pesava 35 quilos e estava saudável, embora com bastante frio.

Monitoramento médico da onça-parda Foto: NGI Teresópolis/ICMBio.
Transporte para Tinguá. NGI Teresópolis./ICMBio.

“A gente conseguiu monitorar o animal, pressão arterial, elétrica, oxigenação, além do exame clínico e físico do animal. Se encontrava bem, um pouco desidratado, mas se mostrando macho, jovem, em perfeitas condições clínicas, e a gente fez a remoção do animal até aqui, no local de soltura”, continua Nudelmann.   

Já na base da Reserva Biológica do Tinguá, a onça ficou dormindo em um cômodo com colchão e cobertor. Acordou lentamente, ao longo da manhã. Por orientação do veterinário Jefferson Pires, da Universidade Estácio, que liderou o resgate, era importante que a soltura ocorresse próximo do anoitecer, e assim foi feito. Já de pé, foi observada por algumas horas antes de abrirem a porta, às 18h da tarde, e ela fugir para a mata fechada. “Demorou uns 15 minutos e saiu”, relata Gisele Silva de Medeiros. 

Enfim quentinha. NGI Teresópolis/ICMBio.
Voltando pra mata, às 17h42 do dia 17 de julho. Imagem: Reprodução/vídeo.

 

 

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  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

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Comentários 1

  1. Roger diz:

    Quero saber qdo vão cessar os atropelamentos de animais na br040, o sequestro e comércio de pássaros, " tiro ao alvo" em preguiças, qdo a concer e os demais órgãos irão providenciar dutos e cercas nas estradas para proteção e deslocamento natural dos animais. Todo dia ocorre extração de palmito, corte de árvores anonaceas raras, caça…
    Porque qualquer um entra na reserva, e praticamente todos que invadem são criminosos. O lixo da região do quitandinha em Petrópolis vai todo para dentro da reserva (sofá geladeira, carro…)
    Já tentei denunciar, fiquei correndo risco, ninguém faz nada, só querem botar dinheiro no bolso. Enquanto isso o efeito cumulativo cessa o curso da água, e as gerações da vida silvestre ao todo.