Notícias

Falta de transparência impede análise sobre legalidade da extração de madeira na Amazônia

Nenhum dos nove estados que compõem o bioma libera informações adequadas sobre cadeia madeireira, mostra estudo do Imazon divulgado nesta quinta-feira (30)

Cristiane Prizibisczki ·
30 de junho de 2022 · 2 anos atrás

Somente entre agosto de 2019 e julho de 2020, os dados mais atuais, 462 mil hectares da Amazônia registraram extração de madeira. A área é equivalente a duas vezes o território de Tocantins, mas, apesar da magnitude, não é possível checar o quanto dessa madeira foi retirada de forma legal, revela estudo conduzido pela Rede Simex (Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira), publicado nesta quinta-feira (30).

Isso acontece porque os nove estados que compõem a Amazônia Legal apresentam problemas no controle da cadeia madeireira, além de restrições de acesso a dados públicos, mesmo após uma década da implementação da Lei de Acesso à Informação (LAI), diz o documento.

O trabalho analisou a evolução da extração madeireira entre 1980 e 2020, por meio da avaliação de seis indicadores relacionados à divulgação de dados das autorizações para exploração florestal, além da análise do Documento de Origem Florestal (DOF) e Guia Florestal (GF).

Tanto o DOF quanto a GF são documentos obrigatórios para o transporte e o armazenamento de matérias-primas, produtos e subprodutos florestais, desde o local de extração ou beneficiamento até o destino final. Com acesso a esses dados, seria possível cruzá-los com as áreas de exploração madeireira indicadas pelas imagens de satélite e verificar as ilegalidades.

O que a Rede Simex – formada por Imazon, Idesam, Imaflora e ICV – encontrou foi que os estados têm diferentes níveis de transparência. 

Acre, Amapá e Maranhão ficaram com as piores avaliações, já que não divulgam nem as autorizações nem os documentos de transporte. Roraima, Rondônia e Tocantins têm dados de autorizações acessíveis, mas eles não são atuais e estão incompletos, além de não divulgarem informações sobre o DOF. 

No Amazonas, segundo estado com maior área de exploração madeireira na região, os dados de autorização são acessíveis e atuais, porém estão incompletos. Neste estado, as informações sobre o DOF também não são disponibilizadas.

Pará e Mato Grosso ficaram nas melhores posições do ranking de transparência, mas não deixam de ter problemas. O Pará dá acesso tanto aos dados de autorização quanto às Guias Florestais, porém apenas os primeiros são atuais e completos. 

Já no Mato Grosso, responsável por mais da metade da área com exploração madeireira na Amazônia, os dados das autorizações e das Guias Florestais são acessíveis e atuais, mas não é possível fazer um download único da base de dados dessas guias, que permita realizar uma avaliação unificada.

Outro problema encontrado pelos pesquisadores é que os sistemas de controle oficiais ainda não se encontram completamente blindados de fraudes documentais e de contaminação de suas cadeias produtivas com madeira de origem ilegal. 

“A transparência e o acesso à informação são condições fundamentais para a promoção da legalidade e da sustentabilidade do setor florestal madeireiro. É importante que os dados estejam abertos a toda a sociedade, contribuindo para a rastreabilidade da produção de madeira na Amazônia e valorizando o manejo florestal sustentável”, diz Vinícius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do ICV.

Para ler o estudo completo, clique aqui.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Reportagens
26 de outubro de 2021

Assim como desmatamento, exploração madeireira avança pelo norte de Rondônia

Divisa entre RO, MT e AM é conhecida como a “nova fronteira do desmatamento”. Do total explorado no estado, em ao menos 5 mil hectares e retirada de madeira foi feita de forma ilegal

Reportagens
25 de outubro de 2021

Exploração ilegal de madeira aumenta no Mato Grosso e chega a 88,3 mil hectares em 2020

Ilegalidade atinge 38% da área total utilizada para extração de madeira no estado. Mais de 10 mil hectares explorados de forma ilegal foram em áreas protegidas

Notícias
14 de setembro de 2021

Mais da metade da exploração de madeira no Pará é ilegal, aponta estudo

Entre 2019 e 2020, cerca de 50 mil hectares do estado foram explorados para extração de madeira, sendo 55% sem autorização

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.