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Soltura de trinca-ferros inicia reforço populacional da ave no Parque Nacional da Tijuca

Três indivíduos da espécie – dois machos e uma fêmea – foram soltos nesta quinta-feira pela equipe do Refauna dentro do parque carioca. Expectativa é que novas solturas sejam feitas até o final do ano

Duda Menegassi ·
28 de abril de 2022 · 2 anos atrás

Nesta quinta-feira (28), o setor Floresta do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, ganhou três novos moradores. Com cerca de 20 centímetros, corpo acinzentado, asas esverdeadas, bico preto e olhos delineados por uma faixa branca, os três trinca-ferros agora irão cantar novamente dentro da mata. Os animais, dois machos e uma fêmea, foram soltos pela equipe da ONG Refauna com apoio do parque, e tem como objetivo iniciar o reforço populacional da espécie na área protegida. É apenas a primeira soltura de muitas planejadas para ocorrer ainda este ano, torcem os pesquisadores envolvidos no projeto.

O canto melodioso do trinca-ferro (Saltator similis) fez com que a ave se tornasse um alvo frequente de capturas e do tráfico de animais silvestres. A vocalização é um dos principais motivos que colocaram a espécie no topo da lista de espécies mais traficadas do país, sendo a mais apreendida no estado do Rio de Janeiro.

Não à toa, os três trinca-ferros soltos são oriundos de apreensões e estavam originalmente no Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Rio de Janeiro. De lá, os trinca-ferro passaram por exames médicos e quarentena no BioParque, parceiro do Refauna no projeto. 

No dia 14 de fevereiro, dois casais chegaram nos recintos de aclimatação, já dentro da floresta. Uma fêmea morreu e um macho teve que ser retirado para tratamento médico. O casal remanescente foi solto junto com um terceiro indivíduo, vindo diretamente do BioParque, sem passar pela aclimatação.

“Estamos estudando e aprendendo o comportamento do trinca-ferro para elaborar um protocolo de soltura para a espécie. Por isso queremos testar a soltura de animais com e sem aclimatação, para verificar quais os recursos realmente precisamos para que eles sejam reintegrados à natureza com as maiores chances de sobrevivência”, explica para ((o))eco a bióloga Catharina Kreischer, responsável pelo manejo dos trinca-ferros durante o período de aclimatação.

O ICMBio é parceiro do projeto e atualmente é quem financia o trabalho da pesquisadora. “Nós da equipe do Parque Nacional da Tijuca vemos isso como peça fundamental para recuperação do parque nacional. O ICMBio está investindo muito nesse projeto, que começou com uma emenda parlamentar, e nesse trecho final do projeto – entre aspas, porque a gente não pretende parar – a gente está custeando a pesquisadora com recursos da DIBIO [Diretoria de Conservação da Biodiversidade]. E nosso objetivo é continuar e expandir para outros pássaros que estão ameaçados”, reforça o gestor do parque, Carlos Tavares, que acompanhou a ação.

A soltura também contou com a presença do assessor do deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ), que conseguiu a emenda parlamentar, ainda em 2017, para financiar a construção do recinto para aclimatação dos trinca-ferros, aquisição de insumos e de armadilhas fotográficas.

O canto melodioso do trinca-ferro fez da espécie uma vítima comum do tráfico ilegal de animais silvestres. Foto: Duda Menegassi

Uma estimativa populacional feita pelo Refauna identificou a baixa densidade da espécie dentro do setor Floresta do parque, área conhecida popularmente como Floresta da Tijuca. O objetivo das solturas é justamente dar novo fôlego para a população de trincas e permitir sua expansão pela floresta. Os trinca-ferros possuem uma área de vida aproximada de 1 hectare e hábitos territorialistas. Até mesmo o casal – que fica junto de forma monogâmica – só divide o espaço durante a época de reprodução e de cuidados com o filhote, depois é cada um no seu quadrado de floresta.

Os três indivíduos soltos nesta quinta – cada um com sua anilha própria para fácil identificação – serão monitorados pelo Refauna. E a expectativa dos pesquisadores é que este trabalho, junto com a fiscalização do parque e com a própria fiscalização involuntária de turistas – afinal é o parque mais visitado do país – e de observadores de aves, iniba a captura ilegal dos trinca-ferros no local.

Além do trinca-ferro, o Refauna é responsável pela reintrodução de outras três espécies de animais na Floresta da Tijuca, antes extintas localmente: a cutia-vermelha, o bugio e o jabuti-tinga.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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Comentários 2

  1. Carlos diz:

    Parabéns. É possível reintroduzir macacos assim como os pássaros?


  2. Altair diz:

    Belíssimo trabalho. Parabéns a todos os envolvidos.