Salada Verde

Cidades brasileiras recebem ação nacional em homenagem ao cacique Raoni

Atividades começam no dia em que Bolsonaro vetou projeto de lei que alteraria formalmente o nome do Dia do Índio, uma reivindicação das populações indígenas

Cristiane Prizibisczki ·
2 de junho de 2022 · 2 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

No dia em que o presidente Jair Bolsonaro vetou o projeto de lei que alteraria formalmente o nome do “Dia do Índio” para “Dia dos Povos Indígenas”, 50 cidades brasileiras amanheceram decoradas com a figura do cacique Raoni Metuktire, um dos poucos ícones vivos de sua geração na luta pelos direitos indígenas e pela preservação ambiental e único indígena brasileiro indicado ao Prêmio Nobel da Paz.

A iniciativa é de 20 organizações da sociedade civil. Entre hoje (2) e o próximo dia 5, quando é comemorado o Dia do Meio Ambiente, lambes de 5 metros quadrados com artes mostrando o líder mebêngôkre serão instalados em cidades brasileiras, incluindo 24 capitais. Também estão previstas a criação de murais e projeções sobre o líder indígena.

“Homenagear Raoni nos 50 anos do Dia do Meio Ambiente é uma forma de fazer com que as novas gerações conheçam este símbolo vivo da paz e do diálogo. Em tempos de tanta intolerância e radicalismo, a lembrança de Raoni é sopro de esperança para todos nós”, diz Jonaya de Castro, gerente do projeto Megafone, um dos organizadores da ação.

Raoni Metuktire

O cacique Raoni nasceu em Mato Grosso, na aldeia Metuktire, localizada na Terra Indígena Capoto-Jarina. Sua idade é incerta, mas acredita-se que ele tenha hoje 91 anos. Durante sua vida, Raoni foi protagonista em diversas lutas em favor dos povos indígenas e da Amazônia, incluindo a criação do Parque Indígena do Xingu. 

A partir de 2000, o cacique também lutou ativamente contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Afastado da cena pública desde então, o cacique voltou em 2019, 30 anos após a viagem que realizou com o cantor Sting para divulgar a mensagem de preservação das florestas.

Em seu retorno, ele percorreu países da Europa em busca de apoio pela preservação da floresta amazônica, tendo se encontrado com diversos políticos e personalidades.

O presidente Bolsonaro reagiu ao retorno de Raoni em seu discurso na ONU em 2019, dizendo que o cacique é usado como “peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”.

Ao vetar a mudança do nome do Dia do Índio para Dia dos Povos Indígenas, nesta quinta-feira, Bolsonaro argumentou que “não há interesse público na alteração”.

A mudança do nome é uma reivindicação dos povos indígenas, que consideram o termo “indio” pejorativo, por evocar um estereótipo presente durante o período colonial no Brasil.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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