Para acabar com os garimpos ilegais, é preciso varrer a corrupção
O Ministro do Meio Ambiente do Peru, Antonio Brack, fala com
exclusividade sobre o problema da mineração em Madre de Dios, na
Amazônia peruana.
Maria Emília Coelho
O ambientalista peruano Antonio Brack é o primeiro Ministro do Meio
Ambiente do Peru. Desde maio de 2008, tem a difícil missão de combater a
exploração ilegal de ouro Madre de Dios, que se iniciou há mais de 50
anos. Atualmente, lidera o processo de formalização da atividade com
associações de mineradores artesanais, além de levar o tema para a
política nacional. Um ano após o Decreto de Urgência 012-2010, que
suspende as solicitações de lavra em Madre de Dios, e que proíbe a
operação das dragas, Brack fala a
((o))ecoamazonia com exclusividade.
Quais foram as principais ações para a formalização da atividade mineradora em Madre de Dios, em 2010?
Brack – Formou-se o Grupo de Trabalho Técnico
Multissetorial para apoiar fortemente o processo. Além disso, abrimos um
escritório do Organismo de Avaliação e Fiscalização Ambiental (sigla em
castelhano, OEFA) para monitorar o cumprimento das obrigações de órgãos
fiscalizadores como o Governo Regional de Madre de Dios e o DICAPI
(Dirección General de Capitanias y Guardacostas del Perú), bem como
trabalhar em coordenação com o fiscal especializado em assuntos
ambientais do Ministério Público em Madre de Dios. Junto com o Instituto
Geológico de Mineração e Metalúrgica criamos as áreas de exclusão, onde
não haverá concessões nem petições. Também trabalhamos em ações de
capacitação e sensibilização para divulgar as bases para a formalização,
melhorar as práticas de mineração, e discutir seus impactos.
Quais são as ações previstas para este ano, com a promulgação do
Decreto de Urgência 04-2011, que prorroga o prazo para a implantação do
D.U. 012-2010, por 12 meses?
Brack – Continuar somando as organizações de
mineradores no processo de formalização, identificando tecnologias que
no usam o mercúrio, exigindo o cumprimento de todos os requisitos para
operar e, sobretudo, evitando a destruição de nossas florestas. Também
devemos exigir o respeito às áreas onde não se pode realizar a
mineração, e promover a atividade em conformidade com as normas
ambientais. Diversos setores vêm realizando estudos sobre o tema do
mercúrio em Madre de Dios e seus impactos. Nesse sentido, estamos
trabalhando em um documento que consolida todas essas informações. Será
publicado este ano, e seus resultados servirão de base para o
planejamento de propostas específicas.
“Muitas
das autoridades, que são aqueles que deveriam fiscalizar a mineração em
Madre de Dios, estão aliadas com os mineradores informais, ou seja,
envolvidos em uma atividade que traz consigo a evasão de impostos e o
tráfico de pessoas.”
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Qual a principal dificuldade neste trabalho?
Brack – A dificuldade reside em um tema que deve ser
dito com clareza e coragem. Muitas das autoridades, que são aqueles que
deveriam fiscalizar a mineração em Madre de Dios, estão aliadas com os
mineradores informais, ou seja, envolvidos em uma atividade que traz
consigo a evasão de impostos e o tráfico de pessoas. Algumas antigas
autoridades locais estão em processo de investigação por crime ambiental
pela Procuradoria Pública do Ministério do Meio Ambiente. É o caso do
ex-prefeito Luis Bocangel, que possui uma draga. Uma ação que deve ser
feita de imediato, repetindo-se com certa regularidade, é a substituição
das autoridades legais e dos inspetores florestais das diferentes
instituições de Madre de Dios, para evitar que caiam em corrupção e
endossem crimes ambientais. Recentemente, tivemos algumas coordenações
preliminares com o novo Governo Regional de Madre de Dios, que
evidenciam um grande interesse da nova administração em formalizar a
atividade a mineira.
E a exploração do ouro ilegal nas zonas de amortecimento do
Parque Nacional Bahuaja Sonene e da Reserva Nacional Tambopata? Como
está o controle nessa região?
Brack – Estamos realizando o censo de mineiros nesta
região. A Procuradoria Especializada em Crimes Ambientais do Ministério
do Meio Ambiente também vem visitando a região frequentemente e
insistindo que as autoridades judiciais, como a Fiscalía de la Nación
cumpra o seu papel em defender o Estado do Peru. Infelizmente, o
Mistério do Meio Ambiente não pode ir mais longe, pois a paralisação e o
impedimento das atividades ilegais competem diretamente ao DREMH
(Dirección Regional de Energia y Minas e Hidrocarburos), ao DICAPI
(Dirección General de Capitanias y Guardacostas del Perú), e à
Fiscalía de la Nación.
Para as áreas já degradadas pelo garimpo existe algum projeto?
Brack – Estamos trabalhando o Plano de Recuperação de
Áreas Degradadas pela mineração informal, através da identificação de
áreas adequadas para o reflorestamento na região. Nesta fase,
experimentaremos diferentes leguminosas que ajudarão a melhorar a
qualidade do solo e a produzir matéria orgânica. Em médio prazo,
permitirá a instalação de uma variedade de espécies, recuperando a
floresta e seu poder produtor, tanto para os serviços ambientais, como
para a comercialização de espécies de alto valor econômico.