que agitam as águas do Pantanal
As águas dos rios pantaneiros correm com lendária lentidão e criam cenários onde parecem reinar silêncio e tranquilidade. Mas tudo muda quando há ariranhas na área. Onde tem ariranha, há algazarra e animação. E também equilíbrio ambiental, pois ariranha só vive em ambiente saudável, asseguram cientistas.
As ariranhas já habitaram a Mata Atlântica e ocasionalmente são encontradas no Cerrado. Mas a caça e a degradação ambiental as levaram às raias da extinção. A espécie resiste apenas na Amazônia e no Pantanal, onde a população total é incerta, não mais do que 3.000. Elas chegam a 1,7 metro e podem pesar mais de 30 quilos.
Ariranhas são do barulho. O mundo delas é feito de som. Elas brigam em altos brados, assobiam e dão uma espécie de risada umas para as outras, berram com jacarés. E saboreiam suas presas com sonoros e gulosos nham, nham, nham. Curiosas, emitem sons que mais parecem gritinhos de assombro.
Altamente sociáveis e comunicativas, vivem em grupos que podem chegar a reunir mais de dez animais. Botam onças-pintadas para correr, não se intimidam e podem perseguir jacarés. Põem ordem nos rios e mantém sob controle a população de piranhas, um de seus pratos favoritos.
É assim a vida do Três Irmãos, nome em alusão ao rio no Pantanal de Poconé, onde vivem as lontras gigantes. O Rio Três Irmãos tem praias de areia branca, barrancos vermelhos e águas frescas e turvas, o ambiente ideal para as lontras exigentes.
As ariranhas passam 60% de seu tempo pescando e comendo – ingerem até 10% de seu peso por dia. Não é gula. É necessidade, para manter o grande gasto energético de sua vida semiaquática. Vão à terra somente para se refugiar e secar sua pelagem, que tem a maciez do veludo.
Paradoxalmente, os filhotes de ariranha não sabem nadar e são vulneráveis nos incêndios a morrer queimados ou afogados em tentativas de fuga de suas tocas. Em 2020 muitos filhotes morreram assim, com impacto ainda desconhecido sobre a população da espécie.
“As ariranhas são corajosas, não têm medo de nada. Mas não têm defesas contra o ser humano. É por isso que nós difundimos o conhecimento sobre essa espécie fascinante, que tem muito a nos ensinar sobre o equilíbrio ambiental”, enfatiza Caroline Leuchtenberger especialista em lontras da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).