O estado do Rio de Janeiro ganhou uma nova unidade de conservação. Essa, entretanto, não é uma boa notícia para o meio ambiente
A criação de uma APA sobreposta ao Refúgio de Vida Silvestre do Médio Paraíba dá brechas para flexibilizar a proteção ambiental ao longo do rio Paraíba do Sul
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Uma APA é menos restritiva aos usos no território e permite atividades incompatíveis com o Refúgio, como extração mineral e loteamento
Ricardo Wagner Gestor do REVIS Médio Paraíba
Meu nome é Ricardo, sou biólogo, gestor do Refúgio de Vida Silvestre Estadual do Médio Paraíba, Unidade de Conservação criada em 2016 com o objetivo de proteger o Rio Paraíba do Sul, suas margens e suas ilhas. No ato de desenho, de delimitação da unidade, foram pensadas diversas estratégias, inclusive estratégias de salvaguardar os empreendimentos já licenciados, as áreas urbanas que não tinham interesse de serem preservadas, que já eram áreas urbanas consolidadas. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o Rio Paraíba do Sul, ele ainda é um ambiente que protege e salvaguarda muita biodiversidade, inclusive duas espécies ameaçadas o Surubim-do-Paraíba e o Cágado-do-Paraíba. A gente tem aqui diversas outras espécies que utilizam o ambiente da unidade, seja na margem do rio ou dentro do rio. A gente tem 160 espécies de peixes hoje mapeadas e monitoradas. Temos onça, jaguatirica, cachorro do mato, paca, capivara. Então é uma imensidão, uma biodiversidade muito rica, que utiliza todo esse ambiente do refúgio e as suas margens como área de vida e de reprodução. É mais uma força, um grau de proteção para essas áreas que são tão sensíveis e exercem um papel tão importante para a manutenção do Rio Paraíba do Sul, tanto na qualidade de água, na quantidade de água e áreas de suporte para biodiversidade. Toda essa biodiversidade que o refúgio vem protegendo.
Um projeto de decreto legislativo, em tramitação na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, prevê a extinção de vez do Refúgio
((o))eco foi à sede administrativa do Refúgio para conhecer a área protegida
Criado em 2016 com cerca de 11 mil hectares, o Refúgio abrange parte do território de 13 municípios
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Protege ambiente de espécies ameaçadas e únicas como o surubim-do-paraíba e o cágado-do-paraíba
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Daiane dos Santos Guarda-Parque do REVIS Médio Paraíba
Eu comecei minha jornada no INEA com 19 anos, quando eu comecei com o voluntariado e hoje sou Guarda-Parque do Refúgio do Médio Paraíba. Com a criação do refúgio, mudou muita coisa. Mudou em questão de caça, pesca irregular, areais, as pessoas começaram a ver que o rio agora não é mais uma bagunça, entendeu? Tem uma equipe que monitora, que tenta cuidar, a gente tenta fazer também educação ambiental com os moradores. Explicar a importância do nosso Rio Paraíba do Sul. Tem muito lugar que depende da água do rio Paraíba do Sul, como também aqui em Juparanã. Então as pessoas começaram a ter uma outra visão depois que o refúgio entrou. Eu também como moradora de Juparanã, eu achava que esse era totalmente poluído. E ele não é. Com as suas curvas, ele vai limpando algumas áreas do rio. Tem muitos animais que depende dessa água, como o cágado que eu não conhecia, que é uma espécie que só tem aqui no Rio Paraíba do Sul, entendeu? E ele está sumindo. O Surubim. Então são vidas que a gente não dá importância, mas eles dependem muito do Rio. A minha visão hoje, se a gente não preservar, esses bichos vão acabar sumindo.