Mulheres no combate ao fogo no Pantanal

Nem todo o Pantanal cabe no idílio das paisagens de lagoas e praias de areias brancas. Há pantanais profundos, distantes dos rios. Mas nem eles escaparam da queimada histórica de 2020. E é em lugares assim que estão em curso projetos inovadores de conservação e restauração do bioma.

Inovam na proposta e na execução. Numa cultura em que a imagem dominante é a do peão, neles são as mulheres que produzem mudas e estão à frente da prevenção e do combate de incêndios.

Míriam Maria da Rosa Amorim, de 31 anos, é uma liderança na comunidade de São Pedro da Joselândia, Mato Grosso. Situada a 60 quilômetros do porto razoável mais próximo e só acessível por uma estrada esburacada, a Joselândia tem pouco mais de mil habitantes, que vivem da pecuária e da agricultura familiar.

“Vivemos numa cultura muito fechada, isolada e abandonada pelo poder público. Sou mulher, mas combato incêndio, ando no mato atrás de semente. Isso não é visto com bons olhos por muitos, os homens não gostam, mas aturam. Sigo porque se a gente não começar, não vai melhorar nunca”, frisa ela.

“É duro, pelo serviço pesado e pelo machismo, mas a gente dá conta”, diz Miriam. “Restaurar é distribuir o amor de mãe. Amor pela terra e por nossos filhos”, enfatiza ela, que mobiliza as mulheres em parceria com a amiga Terezinha de Jesus Gumercindo, de 33 anos. As duas combateram juntas o fogo e agora trabalham para que ele não volte.

A comunidade recebeu duas iniciativas. A primeira foi a estruturação, em 2021, de uma Brigada Pantaneira, iniciativa que teve à frente o Instituto SOS Pantanal, que no local fez parceria com a Associação Rural de São Pedro da Joselândia, doou equipamentos e deu treinamento de combate e prevenção de incêndios para moradores.

A segunda iniciativa é parte do projeto “Recuperação de Florestas Ribeirinhas Pantaneiras: beneficiando água, solo, peixes e populações do entorno da RPPN Sesc Pantanal”, chamado Aquarela Pantanal, integrado por numerosas instituições públicas e privadas e financiado pelo GEF Terrestre/Funbio.

“Sofremos muito em 2020 e 21, aprendemos a fogo, no desespero. Também estamos conquistando nosso espaço junto dos homens, nem à frente nem atrás, é do lado. Mulher pantaneira é guerreira e tem esperança. Fazia seis anos que não havia flores. Esse ano, choveu e floriu. Está cheia de flor a Joselândia”, diz Terezinha.

Arte: Fernando Rocha Reportagem: Ana Lúcia Azevedo