A pecuária é hoje o maior indutor de desmatamento na Amazônia. Pastos para o gado cobrem cerca de 90% da área total desmatada no bioma, e mais de 90% dos novos desmatamentos são ilegais
O agravamento das questões ambientais no nível mundial e a crescente pressão de consumidores tem feito mercados internacionais endurecerem cada vez mais suas regras para importação de carne
Depois de muitos anos de discussão, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) deu início a uma proposta de regulamentação da rastreabilidade individual de bovinos no país
A medida é vista como alternativa ao hoje falho sistema de rastreabilidade por lotes usado no Brasil e viria para garantir maior qualidade sanitária e ambiental da carne produzida internamente
Mas até que ela seja de fato implementada no Brasil, muitos obstáculos terão de ser superados, como resistências do setor e divergências dentro do próprio governo
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já se manifestou sobre o assunto, sugerindo que o sistema seja voluntário e com prazo mínimo de oito anos para adaptação dos produtores rurais
Para Paulo Barreto, pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a proposta da CNA pode significar uma postergação infinita do pecuarista em aderir ao sistema
O pecuarista não está interessado. Não é ele que vai evoluir nessa agenda, isso eles deixaram claro. Se é voluntário, teoricamente o prazo é infinito, então pode ser nunca
Paulo Barreto Imazon
Para a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, da qual o Imazon faz parte, o fortalecimento da rastreabilidade é fundamental para dissociar a cadeia da carne do desmatamento ilegal
Secretários do próprio MAPA ainda divergem sobre o papel do ministério na construção de ferramentas ambientais – e não somente sanitárias.
A ((o))eco, o ministro Carlos Fávaro diz que a rastreabilidade indireta é “fundamental para a pecuária brasileira
Reportagem Cristiane Prizibisczki
Fotos: Cristiane Prizibisczki, Marcio Isensee e Sá, Maurício Pimentel (AFP), Valter Campanato / Agência Brasil,
Edição Marcio Isensee e Sá