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Newsletter O Eco+ | Edição #202, Junho/2024

Combatendo fogo com fogo, obra no Portão do Inferno e um alerta sobre os impactos de fenômenos naturais

Newsletter O Eco+ | Edição #202, Junho/2024

23 de junho de 2024

Encravado no coração do Cerrado, o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães abriga a vegetação considerada hoje como sendo a  mais propensa a incêndios da Terra. Em nível global, as savanas, entre os demais ecossistemas do planeta, respondem atualmente pela maior parte da área queimada global e pelas emissões de carbono associadas. Em 2023, no entanto, o Parna da Chapada dos Guimarães teve apenas três hectares atingidos por incêndios, algo que só foi possível com uma mudança de paradigma na relação entre homem-fogo, mostra a reportagem de Cristiane Prizibisczki. Ao contrário do incêndio, que invade todos os espaços, destruindo a fauna e a flora que encontra pela frente, as queimas prescritas têm dia, hora e condições específicas para acontecer. São realizadas sempre em pequenas extensões, quando a umidade do solo ainda é relativamente alta em área controlada e sob condições atmosféricas previamente estudadas. Dessa forma, o fogo passa rápido sobre a área, afetando apenas a camada mais superficial do solo, e não afeta as raízes.

Enquanto os incêndios têm sido menores, o Parna da Chapada dos Guimarães enfrenta outros problemas: Cristiane Prizibisczki revela que após pressão do governo de MT, Ibama e IPHAN liberam obra no Portão do Inferno, um paredão rochoso constituído ao longo de milhares de anos. Nos anos 2000, a estrada Cuiabá-Chapada dos Guimarães foi pavimentada, ganhando o nome de MT-251, contando com uma ponte que passa pela lateral do Portão do Inferno. A área, que geologicamente já era propícia para deslizamentos, ficou ainda mais vulnerável com o intenso tráfego. Entre 2019 e 2023, o Governo de MT foi comunicado várias vezes sobre as quedas de blocos rochosos. Em 2023, novos deslizamentos aconteceram e então o governo do estado apresentou uma proposta de intervenção emergencial no local. A única medida que não foi autorizada pelo ICMBio naquele momento foi a retirada de blocos rochosos, justamente por ali existir um sítio arqueológico de cerca de 4 mil anos, ainda pouco estudado. Em 2024, no entanto, para a surpresa inclusive dos órgãos ambientais federais, o governo Mauro Mendes apresentou a proposta de retaludamento do Portão do Inferno: isto é, a retirada total do maciço de rochas do paredão, o que envolverá o deslocamento de 180 mil m³ de rochas.

Na reportagem de Carolina Lisboa, um estudo inédito revela que terremotos, furacões, tsunamis e vulcões colocam em risco cerca de 10% das espécies de vertebrados terrestres do mundo. Os resultados indicam ainda que 70% das espécies mais suscetíveis (615 répteis, 267 anfíbios, 266 aves e 207 mamíferos) só ocorrem em ilhas. “Além dos impactos humanos, a frequência e a magnitude dos fenômenos naturais impulsionados pelo clima, como por exemplo as inundações no sul do Brasil, devem aumentar nos próximos anos, com impactos desconhecidos. Isso ressalta a necessidade de implementar medidas de conservação.”, alerta o pesquisador Fernando Gonçalves, ligado ao Centro de Dinâmica da Biodiversidade e Mudanças Climáticas da UNESP-Rio Claro. O estudo aponta que a conservação e restauração ao nível dos ecossistemas podem mitigar eficazmente a ameaça a longo prazo representada pelos riscos naturais para a biodiversidade, embora a eficácia de tais esforços possa depender da frequência e magnitude desses eventos.

Boa leitura!

Redação ((o))eco

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Me chame pelo nome. Um novo estudo revela que elefantes chamam uns aos outros pelo nome e respondem quando ouvem outros chamarem o seu nome. Pesquisadores analisaram centenas de cantos de elefantes registrados ao longo de mais de um ano no Quênia. Eles identificaram os sons específicos que os elefantes emitiam e reproduziram chamadas gravadas, descobrindo que os elefantes respondiam ao som de seus amigos ou familiares – eles falavam de volta ou se aproximavam do alto-falante. Os elefantes responderam com menos entusiasmo ao som de outros nomes. [Yale360]


Mosquitaiada. Para muitas pessoas, as picadas de mosquito são irritantes. Para uma ave rara do Havaí, eles são mortais. Os mosquitos não são nativos do Havaí. Eles transmitem malária aviária. E as trepadeiras havaianas, pequenos pássaros encontrados apenas naquela região, ainda não desenvolveram defesas imunológicas para revidar. Os efeitos foram devastadores: haviam mais de 50 espécies de trepadeiras. Hoje, 17 estão à beira da extinção. Conservacionistas em Maui tentaram vários caminhos: plantar mais árvores, estabelecer programas de reprodução. Mas agora estão tentando inovações: soltar milhões de mosquitos incapazes de acasalar na natureza, como forma de controle populacional. [NPR]

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O repórter de ((o))eco Aldem Bourscheit, também membro da iniciativa Report for the World, comenta os impactos das inundações no Rio Grande do Sul.

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Esse episódio do podcast de política Medo e Delírio em Brasília conta com a participação especial de Marcio Isensee, Diretor de Conteúdo de ((o))eco, com a notícia ambiental da semana: imagens mostraram um comboio do Exército ao lado do foco de incêndio no Parque Nacional do Itatiaia. O vídeo, feito por uma câmera que monitora 24 horas o parque, com transmissão ao vivo no Youtube, levantou a hipótese de que os militares possam ter alguma relação, ainda que acidental, com o início do fogo.

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