Pesquisadores descobriram uma espécie de bromélia e fizeram o alerta de que ela pode estar condenada à extinção pela exploração minerária. A minúscula planta de menos de 2 centímetros de altura ocorre apenas num micro habitat nas rochas da Serra do Pires, em Congonhas, Minas Gerais, onde resiste – por ora – um dos últimos remanescentes de campos rupestres ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero. A pressão dos interesses da mineração sob o seu restrito e desprotegido habitat fez com que os botânicos indicassem que a espécie está Criticamente Em Perigo de Extinção.
A bromélia “serra-pirense” (Hoplocryptanthus serrapiresensis), cujo nome homenageia o morro em que ela habita, cresce apenas em rochas de itabirito, distribuídas em pontos dispersos na serra. Essas rochas ferruginosas são muito cobiçadas para exploração da hematita, um tipo de minério de ferro.
“A presença de mineração é evidente, com sinais visíveis de atividade que se estendem até os limites da área de estudo”, alertam os pesquisadores em artigo publicado no periódico científico Phytotaxa com a descrição da nova espécie.

A estimativa é de que existam menos de 50 indivíduos maduros da bromélia, que ocupam uma área total de apenas 0,2 hectares – menos da metade de um campo de futebol. Esse habitat único e restrito torna a espécie ainda mais vulnerável à extinção.
“A espécie é rara, pouco abundante e está ameaçada de extinção”, resume a botânica Ana Paula Gelli, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e uma das autoras do artigo.
Isso é agravado pelo fato de que a Serra do Pires não é protegida por nenhuma unidade de conservação. Um projeto de lei foi apresentado em setembro de 2023 para criar um Monumento Natural no local, mas segue parado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
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Os pesquisadores advertem que a sobrevivência dessa espécie na natureza é incerta e recomendam “esforços adicionais de conservação para mantê-la viva, pelo menos ex situ”, ou seja, sob cuidados humanos como em jardins botânicos e coleções científicas.
A espécie faz parte do gênero botânico chamado de “Complexo Cryptanthoid”, composto por bromélias endêmicas da região centro-sudeste de Minas Gerais, que crescem apenas em campos rupestres, predominantemente no Quadrilátero Ferrífero.


Uma descoberta em flor
A nova espécie foi coletada pela primeira vez em 2021, ainda anônima, sem flores ou frutos, e levada para cultivo pelo especialista em bromélias Elton Leme, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que também assina o artigo.
A planta possui folhas verdes, finas e pontuadas por pequenos espinhos vermelhos, que formam uma roseta de 10 a 15 centímetros de diâmetro. E foi apenas em 2024, quando a mini bromélia começou a florescer e revelar suas delicadas pétalas brancas que os pesquisadores puderam confirmar que tratava-se de uma nova espécie.
A bromélia-do-Pires não é a única preciosidade do local, que abriga ainda uma das últimas populações selvagens da orquídea Cattleya milleri, endêmica do Quadrilátero Ferrífero e também considerada Criticamente Em Perigo de extinção.
Além disso, as nascentes da serra são fundamentais para o abastecimento da cidade de Congonhas. Com o avanço da mineração no local e a destruição das cangas – tipo de rocha ferruginosa que funciona como uma esponja – e dos campos rupestres, moradores relatam alterações na qualidade da água que chega nas torneiras, como denunciou ((o))eco em reportagem de 2023.
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