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Comício Científico

Candidatos à presidência dos Estados Unidos foram convidados por revistas científicas a opinarem sobre ciência e meio ambiente. Bush e Kerry discordaram pouco.

Carolina Elia ·
21 de setembro de 2004 · 20 anos atrás

A menos de dois meses das eleições presidenciais nos Estados Unidos, os principais candidatos ao cargo foram encostados na parede por duas importantes revistas científicas: a americana Science e a britânica Nature. Uma lista de perguntas sobre a posição e as propostas deles para diferentes áreas de pesquisa foram enviadas para o comitê de cada um. Bush e Kerry tiveram que opinar sobre mudanças climáticas, transgênicos, consumismo americano e outros temas que mexem com o futuro da nação que a maioria do mundo teima em imitar.

Os dois candidatos ficaram em cima do muro em vários momentos. O mais embaraçoso foi o provocado pela pergunta sobre mudanças climáticas. O presidente republicano George W. Bush reafirmou que não vai ratificar o protocolo de Kyoto, que estabelece limites de emissão de gases poluentes para os seus signatários. Bush concordou que as mudanças climáticas representam um grave problema, mas disse que a própria comunidade científica ainda tem dúvidas sobre a relação do fenômeno com a emissão de gases poluentes. Na resposta à revista Science, o atual presidente americano defendeu o investimento em tecnologias que reduzam a emissão de gases poluentes, mas permitam a economia crescer.

Depois, em uma pergunta sobre o futuro energético do país, Bush disse que aposta em um tipo de carvão menos agressivo ao meio ambiente. O democrata John Kerry não se comprometeu em assinar o Protocolo, mas defendeu a volta dos Estados Unidos à mesa de negociações e a adoção de medidas internas para reduzir a emissão de gás carbono na atmosfera.Ele é favorável, por exemplo, à comercialização de créditos de carbono, que incentiva empresas poluidoras a pagarem pelo plantio de árvores capazes de seqüestrar da atmosfera cotas de CO2 equivalentes às emitidas por suas instalações.

Os candidatos a ocuparem a Casa Branca também foram questionados sobre os hábitos da sociedade americana, entre eles o consumo excessivo. Bush se limitou a dizer que a maneira de consumir mudou e que o país passou a produzir de forma mais inteligente, mas não explicou como. Kerry também não disse muito. Frisou apenas que era preciso existir uma liderança firme que botasse a saúde pública e as questões ambientais antes dos interesses dos poluidores. Os dois também defenderam a adoção de políticas para combater a “epidemia de obesidade”.

Sobre os transgênicos, os dois deram respostas semelhantes. Nenhum dos candidatos se opõe a alimentos geneticamente modificados. Discordam mesmo é sobre a sua regulamentação. Bush acha que as leis sobre esse tema devem acompanhar o avanço da ciência, e considera as sementes transgênicas um bom investimento diante da demanda do mundo por alimentos. Já Kerry defende um maior controle desse tipo de produto.

Uma das poucas perguntas em que os candidatos defenderam lados totalmente opostos foi sobre investimentos em armas nucleares. Bush disse que vai continuar a colocar dinheiro no setor por uma questão de segurança nacional e defendeu a criação de um lixão atômico no estado de Nevada – mais precisamente em Yucca Mountain. John Kerry afirmou que vai acabar com a ânsia americana de criar uma nova geração de armas atômicas. Para ele, essa posição só incentiva países como Irã e Coréia do Norte a construírem um perigoso arsenal.

Por fim, o jogo de perguntas e respostas terminou com a polêmica sobre pesquisas com células-tronco. Bush, aliado dos conservadores americanos, interpreta como aborto o uso de embriões para esse tipo de estudo. A célula-tronco é uma espécie de célula mãe que, teoricamente, pode se transformar em qualquer outra parte do corpo. Como rim e coração, por exemplo. Cientistas acreditam que pesquisas com esse valioso material genético, encontrado apenas em embriões, poderiam levar à cura de inúmeras doenças, entre elas Alzheimer. Se for eleito, John Kerry prometeu suspender a lei aprovada há três anos por Bush contra o uso de verba federal para pesquisas com embriões humanos. Também teve o cuidado de prometer não deixar a ciência atropelar a ética. No campo da biomedicina, os dois só concordaram em um ponto: a proibição da clonagem humana.

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