O ermitão
De André LealAchei o texto de Carla Lins fantástico.E não entendi por que não deixaram ele cuidando do farol.Abraço e parabéns pelo Eco. →
De André LealAchei o texto de Carla Lins fantástico.E não entendi por que não deixaram ele cuidando do farol.Abraço e parabéns pelo Eco. →
De Pedro P. de Lima-e-SilvaEngenheiro AmbientalComissão Nacional de Energia NuclearGrande reportagem sobre o vilão plástico. Estive na Dinamarca a trabalho e lá nos supermercados as sacolas são de plástico resistente e são maiores; é cobrado o valor de R$0,50 por cada uma, o que faz o sujeito pensar duas vezes antes de jogar fora e faz todo mundo guardar as sacolas que comprou para voltar depois e usar as mesmas. Conclusão: as sacolas tem um tempo de residência de 2 anos em vez de 2 dias como aqui no Brasil, e a geração de lixo plástico é infinitamente menor.Estou nesse momento orientando uma aluna de pós-graduação da UCP realizando uma monografia em Petrópolis exatamente sobre as diversas alternativas, economicamente viáveis, que existem em troca dessa insanidade de sacolas plásticas delgadas que não aguentam o peso de nada, e aí somos obrigados a usar duas ou mais, e consumir toneladas de plástico para carregar as compras para casa. Em casa transformamo-las em sacos de lixo, que após poucos dias viram lixo também. O que o Ministério do Meio Ambiente está fazendo sobre isso? Vou mais longe: o que o MMA está fazendo sobre a questão estratégica, de um lado, o consumo de nosso preciosos recursos naturais e, do outro, a degradação do ambiente pela poluição completamente irracional pelos bilhões de toneladas de lixo? Marina Silva é uma boa pessoa, e foi uma maldade perversa do Lula expor a sua incompetência. Para esse tipo de problema existia o CONAMA que tantas resoluções inteligentes criou, como a da reciclagem de pneus velhos, mas o atual governo do PT parece que "esqueceu" o CONAMA.O MMA não faz nada sobre isso porque: [1] está preocupado somente com a Amazônia, e ainda faz isso mal; [2] a preocupação do governo do PT com ambiente é só para inglês ver; [3] só se olha para a agenda verde e não para a agenda marrom.A raiz do problema está na falta de percepção da administração AeroLula do valor estratégico dos recursos naturais, e na contra-mão da evolução mundial, continua encarando os problemas ambientais como um entrave ao desenvolvimento, e não uma arma estratégica de poupança de recursos naturais e qualidade de vida no presente e no futuro. Além disso, ainda existe uma outra falta de percepção párvoa, que é a incapacidade compreender que a agenda marrom [a área antropizada, incluindo a sociedade humana] é duas vezes mais importante do que da verde [a área preservada]. O conseqüente desprezo pela agenda marrom vai acabar por eliminar os problemas da verde, considerando que nao haverá mais verde para ser preservado.abs, →
De Glenn SwitkesInternational Rivers Network - São PauloAo editor,Achei super-interessante o artigo sobre Itaipu. Faltou lembrar que Itaipu não é uma usina brasileira - tanto no lado brasileiro, tanto no lado paraguaio (durante a ditadura Stroessner) houve impactos sérios. Relatórios entregues a Comissão Mundial de Barragens mostram que milhares de indígenas do lado paraguaio foram sumariamente despejadas sem indenização, relocação às reservas - ou seja foram expulsos sem processo nenhum. Muitas dessas populações hoje moram na periferia da Cidade del Este. Onde está a compensação ambiental para essas populações? →
De AlexandreCaro Editor,Bastante interessante a coluna sobre o Projeto de Lei da Política Nacional de Mudanças Climáticas.Um outro assunto que não tem recebido destaque, ainda na linha de poluição do ar, é a entrada em vigor em maio do Anexo V da MARPOL (Convenção sobre a Poluição gerada por Navios). Talvez merecesse uma matéria.Ver: http://www.imo.org/Conventions/contents.asp/doc_id=678&topic_id=258#30Atenciosamente, →
De Pedro P. de Lima-e-SilvaEngenheiro AmbientalServico de Segurança Radiológica e AmbientalComissão Nacional de Energia NuclearSrs.A digressão sobre ética do Sr. Bernardo Collares Arantes (carta publicada abaixo), Presidente da FEMERJ, contradiz os fatos.Se a questão foi discutida tanto na lista da FEMERJ, como ele mesmo admite, não é estranho não ter havido nenhuma reação de repúdio ou de explicação de nenhum dos membros da FEMERJ, seu presidente Bernardo Collares Arantes à frente, às mensagens das pessoas que se propuseram a detonar o totem, a não ser uma resposta burocrática, como se para apenas se precaver contra futuras acusações? Se a FEMERJ, com seu presidente Bernardo Collares Arantes, tem tanta preocupação assim como sugere o eminente advogado, por que a diretoria da FEMERJ, incluindo o missivista, ouvindo as mensagens trocadas, não se revoltou de imediato, mostrando a lei, contra uma proposta evidentemente ilegal de detonar uma parte de uma montanha que é patrimônio nacional? Por que se calaram diante do caminho evidente que o processo estava tomando? Seria o silêncio conveniente? Por que não alertaram os autores e os cúmplices que poderiam ser processados pelo Ministério Público pelo que ameaçavam fazer?Da mesma forma que havia alpinistas falando da propalada possível queda das pedras, havia muitos outros falando que elas sempre estiveram sólidas. Sobre o laudo da GeoRio que agora pode ser que apareça, pois na época não foi divulgado apesar de pedidos insistentes na própria lista de discussão, um professor de geografia da PUC afirmou de forma muito simples que "todas as pedras um dia vão cair, a menos que se revogue a lei da gravidade". Então que se detonem também as encostas do Corcovado, e de quase todas as montanhas que escalamos. Se a GeoRio é chamada, o que dirá ela sobre pedras fisicamente separadas da rocha matriz? Que elas podem cair? Por que nenhuma universidade do Rio, como a UFRJ ou a PUC, onde se encontram especialistas vários sobre encostas e deslizamentos, não foram consultadas? Por que os órgãos responsáveis como o IPHAN e o CML não foram consultados pela FEMERJ? Por que os órgãos ambientais não foram contactados pela FEMERJ sobre o problema?Há mais um agravante: mesmo admitindo a improvável verdade de que havia risco iminente de queda das pedras, já que as pedras não se moviam mesmo com a aposição de peso considerável, havia tecnicamente inúmeras soluções para fixar as pedras no lugar com impactos ambientais desprezíveis. Uma consulta a eminências em estruturas sobre rochas no Brasil que labutam nesta cidade podem atestar sobre isso.Então os fatos contradizem toda a lenga-lenga sobre ética e moral. A ética e a moral são constantemente usadas pelas pessoas para deixar fazer as coisas que são exatamente contra a ética e a moral. Parece que mais pessoas leram O Príncipe, de Machiavel, do que supõe a venda nas livrarias. Assim como se usam os argumentos de lutar pela paz para fazer a guerra, ouve-se na lista da FEMERJ as mensagens de regozijo pelo crime ambiental cometido. Há várias mensagens, até de pessoas que ocuparam cargos públicos, justificando o crime pelo velho argumento de que se o governo não faz, então que façamos nós. No velho far-west também era assim, e parece que no Rio de Janeiro isso vem voltando à moda nos últimos anos. Há uma mensagem, em especial, falando que esperar por atitudes da GeoRio seria até um erro, porque a GeoRio, segundo o associado, só faz coisas "horrorosas" nas encostas da cidade. Mais bonito deve ser destruir um lance de pedras que está ali há pelo menos milhares de anos, não é não? Sendo o Sr. Bernardo Collares Arantes, presidente da FEMERJ, o que já se justificaria por si só como conhecedor da lei, mas ainda por cima tendo a profissão de advogado, deveria ele ter se calado emitindo apenas uma resposta burocrática diante das discussões sobre detonar um patrimônio?Uma última questão coloca em cheque essa alegação burocrática de ética e moral: segundo as mensagens da lista da FEMERJ, inclusive com confirmação e confissão de autoria, havia quatro pessoas que foram os perpetrantes de manobra covarde, que foram inclusive avistadas por um dos associados que subia logo depois deles. Dessas pelo menos quatro pessoas, estava uma senhora que fazia parte da FEMERJ então. As palavras nas mensagens do Sr. Tonico, réu confesso na lista, são contundentes: "matamos dois coelhos com uma cajadada só, acabamos com o risco de queda das pedras e reduzimos a quantidade de pessoas subindo o Costão."Sobre a afirmação de que houve "pouca diferença" entre o grau de dificuldade da via, um sofisma que não se sustenta: a quantidade de pessoas que com o apoio de um escalador podem vencer um lance de 1o grau é virtualmente infinita, porque qualquer pessoa com uma atividade física usual pode subir um lance de 1o grau, mesmo sem ajuda nenhuma. Já um lance de 2o sup ou 3o grau, e regrampeado para impedir o uso dos grampos como apoio para a subida, reduz esse número em várias ordens de grandeza. Se não fosse assim, muito provavelmente as pedras não teriam sido destruídas. Os argumentos do Sr. Bernardo Collares Arantes não batem com os fatos: veja-se a freqüência atual contra a freqüência anterior e constate-se o inevitável. Se não há, e eu não tenho certeza disso, uma prova cabal de que o objetivo escuso da derrubada das pedras era a elitização da via, então com certeza o resultado prático do ato ilícito foi essa redução!Mais: o Costão ser classificado como uma escalada é brincadeira: a via tem 600 metros de caminhada e [tinha] 12 metros de trepa-pedra de 1o grau, que qualquer pessoa minimamente saudável pode ultrapassar. Meu primeiro Costão foi há 39 anos atrás acompanhado de toda a minha turma de garotos de 11 anos de idade do colégio, e apenas dois guias, sem nenhum risco relevante. Mais tarde, já como montanhista de clube, eu e meus amigos levamos ao Costão desde crianças de 3 anos até senhores de 65 anos, o que hoje já se tornaria uma operação bem mais complicada e arriscada.A publicação subseqüente no jornal O Globo de uma reportagem com o Sr. Bernardo Collares Arantes, contradiz suas próprias palavras de que não há diferença praticamente de grau de dificuldade; ela é eloqüente por si mesma:"— Isso quer dizer que há mais riscos. Uma pessoa despreparada pode cair e se machucar ou eventualmente até morrer. Queremos alertar para esse fato porque não queremos acidentes. Agora, é necessário que as pessoas que não sabem escalar contratem um profissional ou uma empresa que faça o passeio dentro dos padrões de segurança, usando equipamentos — disse Bernardo Collares." [O Globo, 30/01/2004].O Sr. Bernardo Collares Arantes estava certíssimo. Logo depois de ele afirmar isso houve dois acidentes no Costão, via que estava há décadas sem acidentes. Pior, a declaração dele no jornal ainda suscita dúvidas mais pitorescas, para dizer o mínimo: poderiam ter sido derrubadas as pedras como reserva de mercado? E se não há provas de que o foram, certamente o resultado assim se deu, como aliás, afirmam as próprias palavras do Sr. Bernardo Collares Arantes, presidente da FEMERJ.À parte toda a discussão quase semi-inútil, não resta o silêncio: resta o fato de que algumas pessoas, associadas da lista da FEMERJ, montanhistas "de carteirinha", acompanhados de pessoas da FEMERJ ou muito próximas à diretoria da FEMERJ, perpetraram um crime partimonial e ambiental, usando de argumentos questionáveis, decidindo de foro pessoal pela destruição de um patrimônio público, debaixo dos olhos e ouvidos da FEMERJ, que se não tem culpa direta no ato ilícito, na melhor das hipóteses proporcionou o meio e um caldo cultural de ilicitude, e não produziu nenhuma reação sequer em busca das leis de defesa do patrimônio ou do ambiente. Saiu correndo para "regrampear a via", talvez porque a grampeação original ainda não aumentava o grau de dificuldade até o ponto alto o suficente para causar uma redução correspondentemente forte do fluxo de usuários. Com certeza vão dizer que a regrampeação é para dar mais segurança à via de escalada, segundo os padrões de ética do alpinismo. Incrível coincidência, a nova regrampeação aumenta o grau de dificuldade da via...Se a FEMERJ tem de fato tantas preocupações assim com a ética e a moral, então não poderia deixar de acionar reações legais para proteger o meio ambiente de crimes arbitrários de pessoas que se julgam donas de patrimônios públicos, em vez de ficar ameaçando aqueles que denunciam os crimes contra a Natureza. Está tudo de cabeça para baixo. Um crime foi cometido, eu e outros se indignaram, mas a FEMERJ está preocupada em nos calar, não com o crime! Estranho país esse.abs, →
As bordas prateadas da Lagoa parecem anunciar o Carnaval carioca. Espetáculo anual, as toneladas de peixes mortos chegam ao mar e enchem o céu de gaivotas. →
De Lucia Maria PaleariParabéns pela exposição clara, visão sistêmica e relevância do texto. Mais do que isso, parabéns por ter tornado pública a sua visão, o seu pensar.Abraço, →
De Marlene MoonjianSérgio Abranches, adoramos sua reportagem sobre a Ilha do Papagaio, que fantástico, nós aqui nos Estados Unidos adoramos esta ilha pela beleza e pelo que ela representa para todos nós brasileiros. É verdadeiramente um tesouro de maravilha e um privilégio para todas as pessoas que tiveram e vão ter a oportunidade de visitar este lugar de sonhos. A sua reportagen está em exibição nos escritórios centrais da AT&T no sul da Flórida. Congratulations Sérgio Abranches por repartir sua mensagem com os brasileiros nos Estados Unidos. Saudações, →
De Adriana BocaiuvaBelo batismo para a nova repórter Maria Beatriz que fez um ótimo levantamento sobre o Rio Rainha, com fotos e fontes corretas. Como moradora do bairro e "freqüentadora" do rio fico feliz em vê-lo objeto de matéria do O Eco.Gostaria de fazer uma única observação quanto ao traçado apresentado no mapa anexo (a própria prefeitura reconhece a falha) à matéria pois o desenho do rio está errado. O Rio Rainha conta com pelo menos (até onde já pude apurar in loco) 3 braços que contribuem para suas águas que, antes de obras promovidas pela prefeitura na década de 60, se juntavam e constituíam um só rio, o Rainha.Hoje em dia o rio está canalizado em 2 vias que não se comunicam mais. Dois braços que nascem no Alto Gávea (um no vale da vista chinesa dentro do parque da cidade e outro na base do morro do Laborioux no condomínio da Escola Americana) e correm separados , um passando na minha casa (na Rua Mary Pessoa 56) e outro no Instituto Moreira Salles e só se unem um pouco antes de chegarem à PUC, seguindo daí unidos em um único corpo até desembocar no Canal da Visconde tomando o rumo da praia do leblon. O outro braço nasce lá pela altura da Clínica São Vicente, descendo a Duque Estrada, atravessando a Marquês após o portão principal da PUC nesta via, seguindo então pelo Planetário (a céu aberto), atravessando a rua Desembargador Rubens Berardo já subterrâneo até aparecer a céu aberto de novo no tal ponto de ônibus retratado na matéria (na rua Artur Araripe) seguindo subterrâneo e desembocando no trecho do Canal da Visconde de Albuquerque em frente ao Colégio André Maurois, tomando o rumo da lagoa (passando pelo Jóquei Clube). Ufa. Este longo relato serve para demonstrar que apesar de muito bem escondido o rio Rainha é tb muito querido pelos seus freqüentadores. Na minha casa os cachorros e os moradores (além de sapos, garças, gabas, borboletas azuis, micos etc.) freqüentam o rio há gerações, e por isso comemoramos a melhoria da qualidade de suas águas graças a uma intensa batalha de mais de 3 anos da Associação de Moradores do Alto Gávea junto à Cedae para sanar pontos de descarga clandestina de esgoto ao longo de suas margens. Cabe registrar que o pior problema foi sempre a caixa coletora da própria Cedae, na Estrada da Gávea na altura do colégio Americano, que volta e meia transbordava, fazendo com que o esgoto fosse desaguar no rio Rainha pelos dutos de água pluvial. O que foi corrigido, melhorando radicalmente as águas do rio.Parabéns pela matéria, Maria Beatriz. →
De Fábio VillelaOi, Maria Beatriz, Muito interessante sua matéria sobre o rio Rainha, me trazendo inclusive novas informações sobre o rio. Apesar de ter consultado a carta com curvas de nível e vasculhar suas nascentes eu não sabia que ele originalmente desaguava na Lagoa. Quanto às oficinas mecânicas são um problema antigo e que na minha opinião só pode ser resolvido através de ação judicial e força policial para desativar as oficinas ilegais nas margens do rio. O problema das águas "pluviais" contaminadas que são jogadas dentro do rio também é sério, sendo notável como depois da hora do almoço o rio fica mais turvo e a noite ou de manhã bem cedo ele apresenta um aspecto melhor. As comunidades e os edificios de apartamentos lançam restos de detergentes, alimentos, esgoto sanitário e todo tipo de aditivos indesejáveis nas águas, que apesar disso ainda mostram muitas criaturas vivendo em seu ecosistema. Quanto ao video, devido a um problema de software não consegui rodar aqui, mas tenho certeza que vcs fizeram um bom trabalho. Um abraço, →
De Pedro P. de Lima-e-SilvaEngenheiro AmbientalServiço de Segurança Radiológica e AmbientalComissão Nacional de Energia NuclearEduardoPara discutir sobre os carrões e seus danos desastrosos, deveríamos primeiro exigir que o DETRAN páre de encher o saco de todo mundo por causa de um amassadinho na lateral do carro ou um vidro de lanterna rachado, e ao mesmo tempo aprove na vistoria um veículo que solta toneladas de fumaça pelo escapamento!Segundo a prática do DETRAN brasileiro, você não pode andar com um carro amassado, mas pode pode matar gente intoxicada pelo monóxido e os trocentos de venenos na descarga de sua máquina particular de degradação da vida!abs, →
De Wilson CavalcantiSão José dos Campos, SPAo Eduardo Pegurier:Comentário ao que está na sua matéria de 20/12/04 "Controle remoto não funciona", abaixo transcrito:"O ingresso individual em Itatiaia custa R$ 3 por dia. Cerca de um quarto de uma entrada de cinema para passar o dia mergulhado numa das paisagens mais belas do mundo. Na parte alta do parque, o visitante depara-se com vistas raras aos brasileiros. Caminhando a mais de 2 mil metros de altitude, o pulmão aperta um pouco, mas os olhos se espantam quando encontram a grandiosidade das Agulhas Negras e seus 2.787 metros, ou as Prateleiras, para citar apenas duas maravilhas locais."Eduardo: além de esse valor ser uma ninharia, eles não conseguem sequer cobrá-lo. Veja a minha carta que o Manoel Francisco publicou hoje no "Seu Eco". Fui lá recentemente e não me cobraram porque não tinha um funcionário na hora que cheguei para receber...Um abraço, →
Passando pela Praia de Atafona, vemos uma casa com duas janelas, uma ao lado da outra. Embaixo delas, uma boca desenhada faz com que enxerguemos a fachada da moradia como um rosto simpático. Na pequena porta ao lado do “rosto”, encontramos Ines Vidipo encostada no muro apreciando a praia, enquanto um reggae toca na varanda da casa. Casa essa que é também um bar, o “Casa-bar erosão”, negócio administrado por Dona Ines desde 2020. Muito mais que apenas uma pintura, o “rosto” simpático na parede é um grande simbolismo, já que simpatia é o que não falta ali. “Aqui uma hora é um bar, outra hora é casa. Você chega, você fica à vontade, você faz seu churrasco e canta seu karaokê, do jeitinho que eu acho que tem que ser, que é também o modelo de Atafona. É um diferencial”, conta ela ao falar sobre seu bar.
Ines Vidipo “é uma apaixonada por Atafona”, como se define. Antes de se instalar de fato no distrito, era frequentadora da praia há mais de 10 anos e sempre ia com a família. Adorava ficar acampada em tudo quanto é lugar, só para poder aproveitar cada canto de Atafona. “Até em cima do bar de um amigo eu já acampei”, contou. Desde 2020, ela mora no distrito e não tem pretensão alguma de sair.
Além do bar, Ines trabalha na prefeitura de São João da Barra com crianças com deficiência. Mas todo tempo que tem, prefere estar no seu “Casa-bar”. Antes do Erosão, Ines tinha outro bar conhecido como Birosca, de onde teve que sair por causa do avanço do mar.
Foi em uma segunda-feira de carnaval que ela começou a ver o mar chegando em seu antigo bar. “Eu estava fazendo uma caranguejada no dia, sentada em um banquinho e o pessoal comendo caranguejo na varanda, quando vimos que ia cair. O poste em frente inclinou e caiu. Quando ele caiu, balançou o da varanda. Foi aí que vi e pensei ‘é, agora vai cair tudo aqui’”, contou.
Sem desistir, Ines recomeçou no Casa-Bar Erosão, onde permanece até hoje. Muitos dos utensílios que utiliza no bar são reciclados, vindos de lixos deixados na praia e doações. Orgulhosa, ela mostra o quadro com o nome do bar, desenhado e pintado por amigos, e a parede colorida da varanda, pintada e decorada por uma amiga próxima.
Apesar dos esforços de Ines em manter o seu bar em pé e em boas condições, a erosão tem dado sinais. A parte de trás do local é mantida por algumas telhas que, de alguma forma, impedem a parede de cair. No entanto, na cozinha já existe uma rachadura que Ines vai tentar segurar colocando mais telhas. “Porque se cair aquele lado, cai a casa”, comentou, apreensiva. Ela conta que vêm acompanhando, aos poucos, pequenas rachaduras se formando na casa. “Existe uma umidade que vai penetrando por baixo, é erosão mesmo.”
Sua tarefa agora é “manter [a casa] até onde a natureza deixar”, em suas palavras. “É um pouco tenso, sabe? Só colocando muita música, cantando muito karaoke aqui para a gente não ficar muito apreensivo”, desabafou.
Antes mesmo de toda a nossa conversa, Dona Ines fez questão de mostrar a música que idealizou, com a ajuda da Inteligência Artificial.
“Um mar, a água quentinha, misturada com o rio, é uma delícia, não tem quem não goste daqui. Tem gente que não troca um mar desse aqui nem pelos grandes centros”, disse.
Benilda Nunes é conhecida em Atafona pelo seu quiosque localizado no Pontal do distrito, à beira do Rio Paraíba do Sul, onde antes ficava a foz do rio. Chamada de “Barraca da Benilda”, o estabelecimento recebe moradores, turistas e frequentadores de Atafona que buscam um lazer, comida boa e tranquilidade em frente ao rio. Com a barraca há sete anos, Dona Benilda não esconde o prazer que tem com seu ofício. “Eu gosto muito de trabalhar aqui. Cozinho, faço e vendo de tudo um pouco e me divirto também. Brinco, dou risada, cada hora chega um conhecido, a gente conversa e o dia passa”, disse.
Benilda está em seu terceiro endereço. Na infância, morava na Ilha do Pessanha, até que o mar passou a atingir parte do lugar e os moradores tiveram que sair. Segundo ela, havia em torno de 80 casas na ilha, que era pequena e tinha poucos estabelecimentos, como um colégio e um mercadinho. Foi então que ela, junto de sua família, mudou-se para a Ilha da Convivência, que hoje também deixou de existir, como ilha, devido à ação do mar. As cerca de 300 famílias do local, incluindo a de Benilda, também tiveram que sair porque o mar vinha chegando cada vez mais. Após isso, foi morar em Atafona, recebendo um auxílio financeiro da prefeitura por apenas três meses.
Apesar da Ilha da Convivência ser hoje apenas um extenso areal conectado à Praia de Atafona, Dona Benilda se refere ao lugar como se ainda estivesse separado. “Aqui para mim é melhor ainda, eu venho para cá quase todos os dias. Eu gosto mais daqui do que de Atafona. Eu sempre falo: ‘Eu sou daqui, me criei aqui, eu sou da terra da convivência mesmo. Sou da ilha mesmo’” e continuou: “Aqui era muito bom de viver, para tudo, eu pegava caranguejo, botava uma rede no rio, pegava um peixe, qualquer coisa que você quisesse comer tinha. Tinha gente que vinha dar aula aqui, a gente estudava também.”
Religiosa, a fé para ela é um combustível para viver e seguir trabalhando com o que gosta. “Tenho muita fé em Deus, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Penha. Eu tenho fé”, contou.
Nascida em Campos dos Goytacazes, Marina Leite foi morar na cidade do Rio de Janeiro para estudar jornalismo na ESPM. Apesar da mudança de moradia, o que não mudou na realidade de Marina foi a ida para Atafona em todo verão. “Venho passar todos os verões aqui desde que eu nasci e eu não troco nenhum lugar do mundo para passar meu janeiro”, contou.
Marina cresceu ouvindo as histórias dos avós e do pai sobre Atafona. A família costumava ir todos os verões para a casa da avó de Marina, construção destruída pelo mar no ano que a menina nasceu, em 2002. Foi então que a família comprou outra casa para passar os verões, a algumas ruas atrás de onde o mar está hoje.
Apesar de não lembrar da primeira casa devido a sua idade, a jornalista diz que tem muitas memórias na moradia atual. “Todo mundo fala que aqui é um lugar que traz paz. Eu acho muito isso. Atafona é muito diferente de Campos e do Rio”, disse. “Mas eu acho que o que faz com que as pessoas gostem tanto daqui são as memórias que a gente cria no lugar.”
Em meio a tantas memórias, Marina optou por fazer um documentário sobre Atafona para o seu trabalho de conclusão de curso (TCC) da faculdade. Mas não um longa qualquer: a menina realizou seu trabalho a partir de um documentário que o próprio pai havia feito nos anos 90, junto com o padrinho dela. No longa, Marina mescla cenas atuais de Atafona com takes do filme do pai, além de entrevistas com moradores do distrito. Chamado de “Atafona: as histórias que o mar não leva”, o documentário busca falar do lugar para além da erosão costeira e do avanço do mar. Marina propõe, a partir de seu olhar como veranista do balneário, contar histórias e memórias que, segundo ela, fazem tantas pessoas permanecerem ou voltarem à Atafona.
“Atafona é mais do que um lugar que está sendo engolido pelo mar. Por que esse lugar não pode desaparecer? Por causa da gente, das pessoas que frequentam, das pessoas que moram e que querem que esse lugar continue vivo”, completou, se referindo a um dos motivos pelos quais quis fazer o documentário.
Apesar do avanço do mar está cada vez mais intenso, Marina não pensa em deixar de frequentar Atafona, muito pelo contrário. Segundo ela, pretende morar de vez no distrito quando estiver mais velha. “Eu converso muito isso com meus pais, eles têm essa vontade de quando ficarem mais velhos, virem morar nessa casa em Atafona. Eu também tenho essa vontade. É isso que Atafona traz, você não quer ir embora. Você quer ficar aqui, apesar do mar, você não quer sair”, contou.
Amante da biologia, Kauan Amaral escolheu a área como profissão, fazendo a graduação na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Por um acaso ou não, esse apreço pela natureza é refletido na preocupação que tem com a localidade onde nasceu, cresceu e vive até hoje. Com 19 anos, Kauan sempre morou em Atafona e gosta muito de viver ali. Ele conta que não quer ver o distrito ser destruído por inteiro e ficar apenas em sua imaginação. “É uma coisa que a gente tem que levar a sério, porque se a gente não fizer nada, nós vamos sumir. Vamos perder nossa história”, disse ao citar o relatório da ONU de 2024, o qual aponta que até 2050 o mar vai subir 21 cm em Atafona.
Toda essa preocupação fez com que o menino, junto com mais três amigas, fizessem um trabalho para a escola denunciando a erosão costeira e o avanço do mar no lugar. O projeto “SOS Atafona”, realizado em forma de esquete, recebeu o terceiro lugar em dezembro de 2024 do Festival Transformar Seeduc 2024, iniciativa da Secretaria de Estado de Educação. A premiação ocorreu no centro do Rio de Janeiro, no Teatro Riachuelo. Segundo Kauan, conseguir levar a questão de Atafona para outros lugares, principalmente metrópoles como a cidade carioca, é muito importante para que mais pessoas conheçam e se sensibilizem com a causa. “Quando você é do interior e você vai pro Rio, ninguém conhece a sua história. A gente daqui sabe o que acontece lá no rio, mas será que eles lá sabem o que acontece aqui? Então a gente levou essa pauta, levamos que Atafona precisa de ajuda, contamos nossa história”, disse.
Para Kauan, a melhor parte de viver em Atafona é poder estar perto da natureza, das praias e do ar fresco. “Eu gosto muito de ir lá ver o mar, pra mim não tem coisa melhor. E o que eu amo fazer, acho que é minha coisa favorita, é ir ver o nascer do sol. E no final de semana, eu e meus amigos saímos, a gente gosta de ir à praia, jogar vôlei, futevôlei, e é sempre isso, não tem outra coisa para fazer aqui e mesmo assim a gente gosta muito de sair todo final de semana para isso”, lembrou.
No entanto, Kauan fala do quão ruim é ir à praia e encontrar escombros pelo mar, principalmente os vergalhões ou tijolos. Ele teme que, daqui a um tempo, a praia de Atafona fique completamente imprópria para banho. “A frustração é que ninguém faz nada por isso e a gente tem que ir direto lá para Grussaí [distrito vizinho], tendo aqui uma praia vasta…”, disse, decepcionado. Por isso, para ele, é importante que todos preservem e façam algo pelo distrito, principalmente os jovens.
“Nós, jovens, somos o futuro. Eu acho que se a gente mudar agora, num futuro próximo a gente consegue sim mudar alguma coisa. Também espero que não seja só por aqui, isso tem que ser uma coisa coletiva mundialmente, pq 1% do mundo fazendo uma coisa, é bom, mas não é suficiente. O coletivo é muito importante”, completou.
Antes do andor de Nossa Senhora da Penha chegar aos barcos para o início da procissão fluvial de Atafona, tradição da festa da padroeira, dezenas de fiéis a acompanham pelas ruas do distrito, enquanto rezam e cantam. Com uma blusa escrito “#atafonapedesocorro” nas costas, Patrícia Abud é uma das devotas que seguem Nossa Senhora até os barcos à espera da santa na beira do Rio Paraíba do Sul. Emocionada do início ao fim, Patrícia canta e agradece à padroeira da cidade que frequenta desde criança.
Patrícia é uma das mais de 100 integrantes da associação SOS Atafona, que dialoga com o poder público, organiza manifestações e busca mostrar, para cada vez mais pessoas, o que acontece no distrito. “Cada oportunidade que eu tenho, eu peço: ‘vamos lá ouvir a gente o SOS Atafona, dar voz para gente’. Eu sei que isso causa impacto, a nossa camisa causa impacto, mas não adianta só causar, a gente precisa fazer disso uma voz, para que a gente consiga que nos escutem, que o poder público nos escute”, comentou.
Devota de Nossa Senhora da Penha, Patrícia diz que Nossa Senhora lhe dá força para seguir lutando por Atafona. “Eu acredito muito que tenho uma missão na vida, que é ajudar o outro, e o que eu estou vivendo é essa missão.” Mas essa força espiritual, Patrícia também recebeu quando descobriu um câncer de mama em 2021. Após alguns médicos dizerem que ela não tinha nenhum problema específico, Patrícia mesmo assim não se conformou e, em uma ida a outro profissional, teve o diagnóstico. Hoje, já operada do tumor, ela explica o quanto Nossa Senhora foi importante nesse processo. “Minha médica dizia que era coisa [o câncer] da minha cabeça, porque meus exames recentes não davam nada. E quando eu resolvi ouvir aquela vozinha na minha mente, eu fui procurar e tinha. Eu cheguei ali na igreja e falei: "Nossa Senhora, caminha comigo, eu vou vir aqui sempre na sua festa para agradecer que nunca soltou as minhas mãos", contou, emocionada.
Histórias e memórias é o que não faltam quando as pessoas se referem à Atafona. E com Patrícia não é diferente: ela sonha que seus netos, no futuro, possam também criar muitas memórias no local. “Se eu puder fazer com que eles construam amizades como as que nós temos aqui em Atafona, já valeu tudo. Atafona tem isso. A cada esquina é uma história”. Por isso, ela segue lutando, articulando e torcendo para que algo seja feito no lugar onde criou tantas lembranças e que sonha que seus filhos criem também.
Às 5 e meia da manhã, “Nenéu” aparece ao lado de sua fiel companheira de quatro patas, a Pretinha, para pescar na Praia de Atafona. Com as duas partes de uma prancha quebrada, amarradas uma em cima da outra, o pescador enfrenta as ondas da praia para tentar garantir o seu almoço ou alguma renda para si. Pretinha o observa da areia e espera pacientemente. Na volta, Nenéu retorna com o semblante triste, de quem não conseguiu pescar um mísero peixe.
José Luiz Gonçalves Rosa, conhecido em Atafona como Nenéu, é morador do distrito há 49 anos. Antes de morar na localidade, o pescador residia com a sua família na Ilha da Convivência, onde nasceu em 1974. Com um ano de idade, teve de se mudar para Atafona devido ao avanço do mar na ilha, que fez ele, sua família e outras dezenas de moradores saírem de suas casas.
Em cima das ruínas de sua penúltima casa, que foi derrubada pela defesa civil devido ao risco do avanço do mar, Nenéu aponta para o oceano e diz: “minhas outras casas estão para lá”. Já foram quatro moradias perdidas para o mar. Na última, Nenéu viveu por 15 anos. Emocionado, ele conta que precisa ficar perto do mar, mas não consegue pagar o aluguel de uma casa pela orla. Atualmente, mora em uma antiga kitnet de seu pai em Atafona.
Nenéu então mostra seu barco, instalado em frente às ruínas de sua casa. Comprado em 2020, o pescador investiu o dinheiro que ganhava com a pesca e a confecção de redes e pagou o barco por R$10 mil. No entanto, naquele mesmo ano, a embarcação quebrou enquanto ele pescava em alto mar. Hoje, não tem mais condições para bancar o conserto do barco. Nenéu se emociona ao olhar para a embarcação ali parada, com o sonho de um dia conseguir voltar a pescar com ela.
O vento nordeste sopra forte e é possível ver voando as areias das dunas que ocupam o lugar onde era o quintal de Sônia Ferreira, moradora de Atafona há 27 anos. Ela entra no que resta da área pelas dunas, porque o portão da frente da casa já foi tomado. Enquanto caminha por ali, seu rosto demonstra uma espécie de luto e, ao mesmo tempo, decepção por tudo que vem acontecendo. Uma estátua de Nossa Senhora da Penha, que antes ficava ao lado de algumas plantas no quintal, hoje mora com Dona Sônia na casa da filha, há algumas ruas atrás de onde o mar está.
Nascida em Campos dos Goytacazes, Soninha – como é conhecida no distrito – cresceu aproveitando as férias em Atafona e sempre teve no lugar um refúgio de paz e memórias boas. Em 1978, ela e o marido decidiram construir uma casa de veraneio, onde recebiam toda a família.
Em 2019, o primeiro pedaço da casa de Dona Sônia caiu. Vendo o mar avançar, em 2022 ela decidiu demolir sua casa, antes que a perdesse de vez e inesperadamente. Depois da demolição, Sônia se mudou para a casinha na parte de trás do terreno, onde ficava o caseiro. Até que o mar passou a ameaçar o espaço também e, em outubro de 2023, ela foi morar com a filha, ainda em Atafona.
Quase dois anos depois, as ruínas da casa passaram a ser cada vez mais invadidas por areias, formando dunas no entorno e dentro do que antes era o quintal da casa de Sônia. Algumas de suas coisas ainda estavam na pequena casa de trás, onde viveu até 2023. Para quem vê de fora, pode até ser apenas uma ruína de uma casa. Mas, para ela, continua sendo o lar onde criou seus filhos, reuniu sua família e viveu uma vida.
Soninha conta que, além do mar, a areia também chega com muita força e vai destruindo as coisas. “A areia entra de uma forma muito agressiva, muito forte. Esse vento nordeste que é tão gostoso aqui em Atafona, está muito forte e vem trazendo essa areia. E não tem mais jeito, caiu outro pedaço do muro de anteontem para cá e aí vai. É mais um pedaço, outro pedaço e vai acabando. ” Precisou, então, retirar o quanto antes as suas coisas da casa, principalmente álbuns de fotos e outros objetos de grande valor sentimental.
Mas não foi só pela areia e o mar que a casa de Dona Sônia foi invadida. Com a casinha de trás ainda em pé, e diversos pertences dela ali, a casa passou a ser usada por moradores de rua e usuários de drogas, além de outras pessoas que entraram e roubaram o que ainda restava de móveis e objetos de Sônia. “Eu tinha ali no escritório muitos álbuns, muitas fotos, muitos porta-retratos, muitas coisas. E essas coisas foram jogadas no chão, foram espalhadas, foram pisadas, porta-retratos foram quebrados”, contou.
Em abril de 2025, ela decidiu então, demolir também a casinha de trás e tentar, aos poucos, “virar a página”. Segundo ela, é a fé que a mantém forte para seguir com a vida e continuar lutando pelo distrito.
“Deus e Nossa Senhora precisam e dão muita força para a gente, porque senão a gente não aguenta tanta destruição dos nossos sonhos, dos nossos encontros, da nossa família, dos nossos momentos de alegria. Então eu continuo com as minhas orações para agradecer que estou virando essa página.”, disse.
Deivid Soares nutre um amor pelo mar desde criança e sempre sonhou em ser pescador. Após pressões da mãe, entrou na escola com 8 anos de idade. No primeiro mês de aula, levou falta todos os dias, mesmo sem deixar de ir um dia sequer. Sem entender, perguntou à professora o motivo de seus registros de falta. Foi então que descobriu que seu nome era Deivid, e não Leandro, como sempre foi chamado pela família e por amigos. Em Atafona, é conhecido por todos como o “pescador Leandro que ficou à deriva no mar”.
Era 25 de dezembro de 2024, Leandro sabia que não haveria ninguém pescando na data, mas a vontade de estar no mar era maior. Foi então que, enquanto pescava, caiu no meio da Bacia de Campos. “Eu tentei voltar para o barco, mas ele estava ancorado e tinha um turbilhão de água muito, mas muito forte.” Nadou, nadou e nadou até sua exaustão física, mas não conseguiu chegar ao barco.
Religioso e de muita fé, Leandro conta que a todo momento falava com Deus. “Eu falei assim: ‘Ai, meu Deus, eu não sei aonde que eu vou parar, mas eu entrego minha vida ao Senhor’. Com grande conhecimento do mar, ele sabia que não podia se machucar, se não atrairia os cações, e que se nadasse à favor das águas, chegaria num cinturão de boias da Marinha. Dando o seu máximo para chegar até lá, as águas mudaram o curso.
“Aí veio a experiência de pescador. Eu comecei nadando totalmente para terra, poente. Comecei andando de lado. Nadando para terra, a corrente já era tão grande que me empurrava de lado. Aí eu cheguei perto da boia e subi”, contou.
Já de noite, com muito frio, Leandro sentia as mucosas do nariz queimando, de tanta água salgada que havia entrado. Usava o atrito das mãos para se esquentar. “Eu fiz isso mais algumas vezes na madrugada. Cheguei a pensar que eu ia morrer mesmo de frio. Nem na água eu fiquei tão preocupado. Agora lá eu pensei que ia morrer.”
No dia seguinte, Leandro viu um barco de pesca. Fazia sinal, mas ninguém o via. Depois, mais duas embarcações, e nada. “Chegou uma hora que eu duvidei da minha vida. Eu falei: ‘Será que eu tô vivo mesmo? Será que eu tô vendo eles e eles não tão me vendo’?”. Em Atafona, a esposa de Leandro começou a ficar preocupada pelo não retorno do marido, apesar de saber o quanto ele gostava de ficar no mar. Chamou então uma amiga que trabalhava numa rádio de comunicação para procurar por Leandro.
Duas embarcações foram à procura do pescador. Chegaram ao seu barco, mas não viram nada ali. Leandro estava mais à frente, nas boias. “Pegaram o barco, começaram a rebocar para a terra. E o outro barco veio a favor das águas me procurando. Eu vi ele primeiro do que ele me viu. E gritava: ‘Meu Deus, segue as águas, segue as águas e vai me achar’. Foi então que encontraram o pescador e seguiram para Atafona, onde Leandro foi recebido com muita comemoração.
“Hoje eu venho na igreja e falo: ‘Não tenho nada a pedir, eu só tenho agradecer’”, contou. Sua fé, que já era grande, agora se multiplicou. Leandro faz questão de estar presente em todas as missas. Ele conta que, em geral, os pescadores utilizam-se muito da fé para enfrentar o mar, principalmente com o avanço cada vez maior e o rio perdendo sua força a cada ano.
“Foi uma cena impressionante, parecia um outro World Trade Center.” Foi assim que Aluysio Barbosa se referiu à queda do “Prédio do Julinho”, único edifício que existia em Atafona, em 2008. Ele caminhava com o filho e um amigo pela praia, quando se deparou com o ângulo em que o prédio estava: “era um ângulo maior que a Torre de Pisa”. Foi ali que Aluysio teve a certeza que o prédio iria cair. Ao se afastarem um pouco do local, o edifício inclinado foi puxado por um vergalhão e, conta Aluysio, “ele caiu sobre si mesmo, parece que foi perfeito”. Após a queda, uma nuvem de fumaça e poeira se formou na região. Aluysio segurou nas mãos das crianças e disse “essa poeira vai baixar, não se assustem com o vento e não desgrudem de mim”. No entorno, várias pessoas assistiam a cena e gritavam. “É como se a destruição também tivesse virado um espetáculo em Atafona”, disse ele.
Aluysio Barbosa é jornalista, poeta e amante de Atafona. Nascido em Niterói (RJ), em meados dos anos 70 seus pais se mudaram para Campos dos Goytacazes, quando ele tinha apenas 1 ano. Foi então que todos os verões passaram a ser em Atafona. Até que, não querendo mais ser apenas um veranista, Aluysio decidiu mudar-se para o distrito em 1994 e permaneceu até 2005. Hoje mora em Campos dos Goytacazes, mas continua retornando aos finais de semana e nos verões para o distrito.
A admiração por Atafona é transbordada para os versos de seus poemas, muitos voltados para a vida no distrito. “Atafona é minha grande musa inspiradora”, disse. Aluysio lembra com orgulho de um episódio em que passava pela praia e viu um antigo pescador, que acabara de pegar um robalo. Quando passou por ele, o pescador disse “Aluysio, o poeta de Atafona”. “Esse foi o maior elogio que alguém me fez na vida. Para mim é um título nobiliárquico.”
Dentre diversos poemas, histórias e matérias redigidas, Aluysio lamenta o fato de o avanço do mar está destruindo, aos poucos, um lugar com tamanho apreço dos moradores e frequentadores. “De um ano para o outro você tem mudanças drásticas na geografia física de Atafona. Isso são casos levados, são memórias, são histórias. Aqui não tem esquinas que não tenha uma história, um papo cabeça que você levou, um namoro, um desentendimento”. E completa: “E fisicamente, essas memórias hoje estão submersas pelo mar.”
Jornalista há 30 anos do Grupo Folha, um dos principais veículos de Campos dos Goytacazes, Aluysio também acompanhou o avanço do mar pelas matérias que redigiu ao longo do tempo. Segundo ele, há uma noção de que todo esse processo de destruição em Atafona vem sendo cada vez mais banalizado. “Tanto o poder público municipal, quanto o poder público estadual, quanto união, executivo nas suas três instâncias… Não faltou representante também, parlamentar. Mas nada se reverte em concreto.”
“As pessoas já aceitam como uma coisa inexorável. É só um novo capítulo de uma velha história. Um novo capítulo de uma história muito antiga que se repete sempre”, completou.
“Enquanto existir Atafona, eu estou feliz”, disse Camila Hissa, gerente do Restaurante Ricardinho, um dos mais conhecidos estabelecimentos de Atafona. Moradora do distrito desde que nasceu, Camila deseja permanecer ali até quando não puder mais. Durante sua vida, viu os pais mudarem o restaurante de endereço algumas vezes. Hoje, na administração do atual negócio, Camila reflete sobre as soluções que podem haver para Atafona e torce para que algo seja feito.
Com um filho de 7 anos, Camila pretende continuar o criando em Atafona, para que ele possa também ter boas memórias ao lado da família. Segundo ela, o local tem tudo o que valoriza: ar fresco, paz, amigos, família e sem qualquer discriminação.
“Atafona sempre foi essa coisa meio homogênea, de que todo mundo se mistura e todo mundo é igual. Você vê as vezes o pescador com o desembargador, um médico conversando com pescador e todo mundo é amigo… É um lugar onde as pessoas vem e se sentem à vontade para ser elas mesmas”, contou.
O Restaurante Ricardinho foi inaugurado em 1978 pelos pais de Camila. Localizado no antigo pontal de Atafona, o mar passou a avançar no lugar onde ficava o restaurante e, então, precisaram encontrar outro lugar. No segundo endereço, o negócio não durou uma semana, o mar chegou rápido. Mudaram-se então mais duas vezes e hoje, no quinto endereço, o restaurante já permanece há cerca de 28 anos. “No quarto [endereço], a minha mãe não esperou o mar chegar. Quando ele estava na porta, ela já se mudou e veio para cá. Diferente dos outros locais, que têm histórias de panela sendo carregada, fogão, geladeira, tudo boiando…”, lembrou Camila.
Apesar de não ter vivido todas as mudanças de seus pais, a gerente cresceu ouvindo as histórias e hoje tem noção do quão doloroso é perder um local para o mar, seja uma casa, seja um restaurante. Para ela, toda essa perda não é culpa dos moradores de atafona, e sim resultado de algo muito maior.
“A conversa não é só qual é a solução, porque a solução passa por tudo isso: passa por você mudar o que está sendo feito, repreender quem está fazendo coisa errada… E a gente também tem que cuidar do rio, não é pensar que só o mar está avançando. A gente tem que entender que o rio também está fraco, também está assoreado, então o que a gente precisa fazer? Essa é a pergunta”, disse.
Segundo ela, a sua geração tem mais consciência do que vem acontecendo, diferente da geração de seus pais que mal sabiam do que se tratava e como acontecia. “O que estamos fazendo de verdade para mudar isso? O que to fazendo de diferente? Como posso contribuir? Fico tentando buscar respostas e cada vez mais conhecimento”, completou.