Sem licença

A Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA) cancelou a licença ambiental prévia e a licença ambiental de instalação da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Bruaca, em Corupá. As licenças haviam sido emitidas por técnicos da própria Fundação. A FATMA afirma que analisou o processo de licenciamento e detectou falta de embasamento, de informações técnicas relevantes - por se tratar de uma Unidade de Conservação - e que a legislação aplicável à compensação ambiental não foi levada em consideração. As licenças também não foram publicadas no Diário Oficial, como é exigido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). A nota informando sobre o cancelamento das licenças foi assinada pelo Diretor de Controle e Poluição da FATMA, Luiz Antônio Garcia Corrêa, que tomou conhecimento dos protestos contra a hidrelétrica pela internet e pelos jornais. Ele explicou a O Eco que há mais de uma pessoa dentro da Fundação autorizada a assinar licenças desse tipo e que o processo não tinha que passar obrigatoriamente por suas mãos. A revisão das licenças vai ser feita por uma equipe da própria FATMA e deverá se estender por todo o mês de janeiro.

Por Carolina Elia
3 de janeiro de 2005

Os conflitos continuam

A reserva extrativista Verde Para Sempre, no Pará, foi criada em novembro pelo presidente Lula, mas os madeireiros continuam a invadir a área atrás de madeira de lei. A denúncia foi feita pela Comissão Pastoral da Terra e pelo Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz, que vêm tentando combater a ação de grileiros, fazendeiros e madeireiros na região. Na madrugada do dia 30 de dezembro, foi destruída a antena parabólica que viabilizava o acesso à internet no Comitê. A internet era o principal instrumento de denúncia utilizado pelos defensores da reserva Verde Para Sempre, já que as linhas telefônicas costumam ser boicotadas quando há conflitos. O clima de tensão deve aumentar nos próximos dias. Nos dias 15 e 16 de janeiro haverá uma reunião dos governos federal e estadual com a comunidade local para acertar a implantação da reserva extrativista. Os fazendeiros prometem protestos.

Por Carolina Elia
3 de janeiro de 2005

Sexto sentido

Ao que tudo indica, os animais foram capazes de pressentir a chegada das tsunamis. Uma matéria da BBC News (gratuito) conta que no Parque Nacional de Yala, no Sri Lanka, dezenas de turistas morreram afogados, mas não há registro de animais mortos. Uma pesquisadora que trabalha no local não se surpreendeu. Ela afirma que os animais selvagens são extremamente sensíveis e provavelmente ouviram o barulho das ondas à distância. Eles também teriam percebido leves tremores e mudanças na pressão do ar. Na Tailândia, oito elefantes desobedeceram aos seus donos e correram em direção a uma colina minutos antes da chegada das ondas. Eles ainda salvaram 12 turistas, que agarraram com a tromba e colocaram no dorso. O Chicago Tribune (gratuito) conta que tanto na Indonésia quanto na Tailândia os elefantes estão sendo utilizados para remover destroços e corpos em lugares onde os tratores não conseguem chegar.

Por Carolina Elia
3 de janeiro de 2005

A Terra tremeu

Esqueça a contagem de mortos provocada pelos tsunamis de domingo no sul da Ásia. É impossível acompanhar os números. Escolha um e fique com ele. O Globo (gratuito, pede cadastro) diz que 60 mil pessoas, até agora, perderam a vida, e confirma a morte da diplomata brasileira e seu filho de 10 anos, que estavam desaparecidos na Tailândia. O Estado de S. Paulo (só para assinantes) ecoa alerta da ONU sobre epidemias na região, que podem dobrar o número de mortos. O The New York Times dá 59 mil mortos e nem arrisca um número de desaparecidos. Reportagens no jornal arranham o mito criado em torno da falta de um cinturão de monitoramento sísmico no Oceano Índico. Não é ruim ter um, mas também não dá garantia de segurança. Terremotos não podem ainda ser previstos com precisão cirúrgica. Os sismologistas só conseguem prevê-los em grandes ciclos. A informação ajuda o empreiteiro que, por exemplo, resolve fazer uma represa, mas não tem qualquer valor para o cidadão comum. O que lhe interessa é a hora e o dia em que um terremoto vai acontecer. Isso ainda é impossível. Os tsunamis também não são fáceis de antecipar. Em águas profundas não chegam a ter mais que centímetros de altura. Passam de marola a vagalhão quando estão próximos da costa. Os sentidos só percebem o problema quando já é tarde demais. A ciência percebe, só que sem muita precisão. A magnitude de um terremoto tem nada a ver com um tsunami e nem todos os que ocorrem debaixo d’água necessariamente provocam um. A dimensão do que ia acontecer no sul da Ásia, o Centro de Alerta anit-Tsunami do Pacífico, no Havaí, percebeu um tempo apenas antes das pessoas que estavam nas praias da região. Mesmo que o alerta fosse possível, lá pelo menos não ia dar certo. Ninguém tinha um plano de evacuação. O Guardian sai com 55 mil mortos e tem uma extensa reportagem sobre Sumatra, onde as ondas causaram os maiores estragos. Foi quase uma repetição do que aconteceu em 1883, quando a explosão de um vulcão varreu da face da Terra a ilha de Krakatoa, na costa da ilha de Java. Causando um terremoto e na sequência tsunamis cujos efeitos foram sentidos na costa da Europa. A manchete do Indian Express vai pelas consequências globais do fenômeno. Ele fez o planeta tremilicar na sua órbita e alterou a geografia do sul da Ásia. Só não fica claro como. Um geólogo acha que Sumatra está mais alta em relação ao nível do mar. Outro que na verdade a ilha deslocou-se em direção ao Sudoeste.

Por Manoel Francisco Brito
29 de dezembro de 2004

Para onde foi o Brasil

O IBGE soltou ontem pesquisa sobre as tendências demográficas do país e elas mostram o exato custo do desenvolvimentismo agrícola que se abateu sobre o campo brasileiro. O principal fluxo migratório do país entre 1991 e 2000 dirigiu-se a região conhecida como o arco do desmatamento, que vai de Rondônia ao Maranhão, no Norte do país. A chegada desse pessoal degradou ambientalmente a área e a transformou no paraíso dos grileiros de terra. O Globo (gratuito, pede cadastro) diz que a pesquisa registra ainda o encolhimento das grandes cidades e a perda de população nas regiões mais pobres de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais.

Por Manoel Francisco Brito
29 de dezembro de 2004

Mais um golpe

Tudo indica, ainda bem, que o projeto de transposição do Rio São Francisco realmente não vai sair do papel. A idéia não é apenas ruim. No longo prazo, ela servirá apenas para enriquecer empreiteiro. E seu impacto ambiental será desmedido em relação aos possíveis benefícios. Ontem, segundo a Folha de S. Paulo (só para assinantes), a obra perdeu um terço dos recursos que estavam destinados a ela no orçamento do ano que vem. Melhor perder tudo logo.

Por Manoel Francisco Brito
29 de dezembro de 2004

Dissolução

A secretária do Meio Ambiente do governo inglês, Margaret Beckett, dissolveu conselho formado para monitorar questões éticas, sociais e científicas em relação ao uso de sementes genéticamente modificadas nas fazendas da Grã-Bretanha. Beckett, informa o Guardian, tomou a medida porque os conselheiros estavam exigindo coisa impossível: querem que os fazendeiros que se recusem a usar transgênicos tenham garantias que suas plantações não serão contaminadas pelas sementes modificadas. Isso ainda não dá para prometer.

Por Manoel Francisco Brito
29 de dezembro de 2004

O sul da Ásia virou mar

Aconteceu às 6: 59 da manhã de domingo, hora local, 100 milhas a oeste da costa da Indonésia e de uma maneira que segundo o The New York Times (gratuito, pede cadastro) não acontecia há 40 anos. Um terremoto sob o Oceano Índico provocou uma série de tsunamis na supefície, com ondas que ultrapassaram os 10 metros de altura e foram longe a ponto de dar na África. Em cheio mesmo, atingiram as costas de Índia, Sri Lanka, Indonésia, Myanmar e Tailândia. E tiveram um efeito devastador. A edição do Guardian saiu com 11 mil mortos, mas alerta que a conta final será muito maior. O The New York Times fala em 13 mil mortos. Globo (gratuito, pede cadastro) preferiu ficar no meio e deu 12 mil mortos. Esse também foi o número que apareceu na manchete de O Estado de S. Paulo (só para assinantes). O tamanho da destruição é proporcional à força do terremoto. Chegou a 8.9 na escala Richter, desempenho que o coloca entre o 5º maior ocorrido desde 1900 – quando começou-se a medir a intensidade de tremores – e o mais violento desde 1964. O Le Figaro (gratuito) tem reportagem sobre as favelas de palafitas de madras, na India, completamente achatadas pelos vagalhões. Mas o terremoto foi democrático. Destruiu para tudo quanto é lado. No Sri lanka, as áreas de turismo, cheias de europeus e americanos, tiveram a pior sorte. O Indian Express conta em ótima reportagem (em inglês) que no início do tsunami, marcado por acentuada e rápida baixa de maré, as pessoas ficaram curiosas e acorreram à costa para ver o que estava acontecendo. Isso só piorou as coisas, deixando mais gente vulnerável às ondas. Não há país no Índico que treine sua população a enfrentar tsunamis, apesar de o fenômeno não ser infrequente na região. É o que mostra reportagem do Financial Times (área gratuita). Seria pedir demais. O texto informa que não existe nem um programa de monitoramento sísmico naquela parte da Ásia. Se houvesse, embora fosse impossível se determinar a intensidade, saberia-se que um terremoto submarino iria acontecer. Como isso sempre causa ondas gigantes, daria para pelo menos ter evacuado muita gente das zonas costeiras.

Por Manoel Francisco Brito
27 de dezembro de 2004

Aviso

O tsunami na Ásia é um bom momento para “pescar” reportagem que saiu no Guardian (gratuito) no dia 16 de dezembro. Ela relata sobre a intenção da estatal de petróleo peruana de construir um terminal de gás na cidade costeira de Pisco. Nenhum grande problema ambiental com isso – Pisco já é uma cidade degradada – a não ser pelo fato que a área onde ela se encontra é a principal candidata no globo terrestre a receber um tsunami pela frente. Quem avisa é a história. Pisco, desde o século XVI, quando foi fundada, encarou tsunamis devastadores em ciclos de 110 anos. Há 136 anos o fenômeno não acontece por lá. O terminal é parte da operação de extração de gás de Camisea, no interior da Amazônia, objeto de seguidos protestos e críticas de grupos ambientalistas. O gás chegará em Pisco por dutos, onde será liquefeito e exportado.

Por Manoel Francisco Brito
27 de dezembro de 2004

Fechado

Chegou-se a um acordo sobre a construção da usina de Barra Grande, em área de fronteira entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A obra, baseada em levantamento técnico omisso e falsificado, estava suspensa por decisão judicial. O acordo entre empreiteiras, ambientalistas e membros do Movimento Anti-Barragem foi feito na véspoera de natal. Pelo que está escrito, a obra vai custar bem mais cara aos seus donos. Eles terão que indenizar 200 famílias que moram na região, doar muito dinheiro ao Parque Nacional São Joaquim, criar um banco com germoplasma de 14 árvores ameaçadas de extinção, plantar 100 mil mudas de araucárias e doar ao Ibama área de mais de 5 mil hectares com vegetação semelhante a que ficará submersa. Segundo o Valor (só para assinantes) tudo isto vai encarecer a obra em 100 milhões de reais.

Por Manoel Francisco Brito
27 de dezembro de 2004

Risco nas ondas

O Globo trouxe no último domingo de dezembro reportagem sobre as ondas na orla carioca que estão fora do alcance dos surfistas. Fora em termos. Eles estão sempre tentando fazer alguma coisa para surfar nessas águas proibidas. O problema é que elas estão em área militar, o que faz o “penetra” correr um bom risco. A turma de farda os caça a metralhadora e baioneta.

Por Manoel Francisco Brito
27 de dezembro de 2004

Maus-tratos

No zôo do Rio, o que há de comum entre todos os animais é o estresse provocado pela mais absoluta falta de espaço. Tem tigre em cela de 4 metros quadrados e macaco em jaula superlotada. Há excesso de bichos dividindo o espaço do zoológico. O secretário de Meio Ambiente do Rio disse a O Globo (gratuito, pede cadastro) que a instituição sofre com o crescimento urbano no estado sobre suas áreas verdes. Os bichos acabam caindo no meio das cidades, são capturados e levados para o zôo. O aumento no número de hóspedes está levando a direção do Zôo do Rio a mandar alguns para o de Niterói, que pode ser considerado uma espécie de campo de concentração para animais. Já foi fechado pelo Ibama e suas jaulas são diminutas.

Por Manoel Francisco Brito
27 de dezembro de 2004