Com as conquistas da última década na área ambiental, especialmente no que concerne à legislação e proliferação de órgãos e conselhos ambientais, nós acreditávamos que o retorno à época do crescimento a qualquer custo era impossível. Ledo engano. Aliás, ele volta mais voraz. E sempre com o título de desenvolvimento sustentável.
São assustadoras as últimas notícias sobre obras ou atividades desenvolvimentistas que podem ter graves conseqüências ambientais e, embora pareçam desconexas, há uma relação estreita entre as mesmas, ou pelo menos o pano de fundo é “que se lixe o meio ambiente”.
Talvez pela abrangência, o que mais choca à primeira vista é o anúncio do nosso presidente, no dia 23 de setembro, de que o governo irá realizar as obras necessárias para proporcionar o desenvolvimento da Amazônia e de toda região Norte do país. “Vamos dar um salto de qualidade para aumentar a produção e a exportação na região e vamos tentar levar este desenvolvimento para outros estados”. Isto significa, entre outros desastres, que lá vem mais soja, da transgênica, para a região, evidentemente em grande escala. Como bem se sabe, o cultivo da soja é quiçá o pior de todos, por ser arrasador em termos ambientais. Não sobra nada nestes mares de soja que já existem no país.
Continuando com a soja, surge a notícia da briga interna no grupo do Banco Mundial em torno da liberação de um empréstimo de U$ 30 milhões para o Grupo Amaggi, do governador de Mato Grosso, o maior produtor de soja do mundo. A briga em si está bem noticiada nos meios ambientais, graças à ação de ONGs. Mas, resumindo, o Conselho Diretor da Corporação Financeira Internacional (IFC), órgão do grupo do Banco Mundial, aprovou o empréstimo, contra as próprias normas da instituição e contra a opinião manifesta do presidente de ambas as instituições. Bem, com quem pode não se brinca… O resultado evidente é mais soja para a Amazônia do Mato Grosso. A aprovação deu-se, também, no dia 23 de setembro. Que infeliz ou feliz coincidência!
Nosso próprio O Eco publicou o artigo de Ronaldo Brasiliense “Índio quer soja“, sobre os Parecis, ainda no estado de Mato Grosso, que querem plantar soja em de sua reserva e informa que “várias empresas interessadas em cultivar soja no Mato Grosso já ofereceram parcerias aos indígenas para conseguir partes de suas reservas para o plantio”. E lá vem mais desmatamento e mais soja, que evidentemente não vai parar nestes já vastos. Pelo visto da transgênica também, se é que o Senhor Presidente edita outra Medida Provisória sobre o assunto, o que deve ocorrer brevemente, segundo as declarações do governo.
Chega de soja, vamos falar de algo mais agradável: água, que nestes dias secos no Centro Oeste é tão esperada pela forma pluvial, pelo menos para afastar a fumaça que nos envolve, proveniente das reiteradas e absurdas queimadas propiciadas pela agricultura, eminentemente de soja, e pela pecuária extensiva.
E temos de ouvir e nos sentir culpados pela falta de água no Nordeste, diante do ensinamento moral do Senhor Presidente: “Não sei como alguém pode ser contra levar um caneco de água para quem anda seis léguas com um pote na cabeça, depois que a vaca já bebeu água”. Sobre o assunto nos ensina o professor da USP, Dr. Rebouças, em entrevista ao O Eco, que a dita transposição do São Francisco “é mais um capítulo da famigerada história da seca” e dá a entender claramente que há outra formas de se obter do precioso líquido, para encher os canecos dos famélicos e sedentos patrícios, principalmente através do aproveitamento de águas subterrâneas e aqüíferos. E informa mais: que o Comitê de Bacia do rio São Francisco, criado pelo próprio governo, é contra a transposição.
Chega de notícias ruins, não recomendo nem que leiam a última matéria de Marcos Sá Corrêa sobre a hidroelétrica de Barra Grande. É dose para elefante e aliá. Vamos acender nosso fogão elétrico, fazer um sorvete gostoso no nosso refrigerador e umas fritas, de preferência transgênicas, no óleo de soja que é mais barato, e convidar amigos para meter o pau nos governos… Afinal ninguém é de ferro. Desculpem-me, ia me esquecendo, a água que vou servir é mineral.
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