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Carnatal

Com pinheirinho de plástico ou artificial, o Natal virou um carnaval onde vale tudo. Até elefante branco boiando em lixo com rótulo de projeto cultural.

23 de dezembro de 2004 · 20 anos atrás

Quem não é a Bradesco Seguros para armar uma árvore no meio da Lagoa Rodrigo de Freiras e não pode se dar ao luxo de montar uma usina elétrica, tem que escolher se passa o Natal entre pinheiros naturais ou artificiais. Se levar o natural, deve saber que está condenando sua árvore à lenta tortura. Ela morre devagarzinho dentro dos vasos. As árvores de plástico fazem sucesso no Brasil. Além de dar menos trabalho, plástico não morre. Tem mais tempo de uso. Seu custo-benefício, inevitavelmente, é maior. A grande maioria opta pelo plástico por causa dessas vantagens. E carrega para casa, sem saber, um diploma de consciência ambiental ou coisa parecida.

A guerra entre o plástico e o natural na indústria da árvore de Natal é feroz. A Associação Canadense de Produtores de Árvores de Natal afirma que os pinheiros fazem parte de uma tradição natalina e contribuem para que as festas sejam uma experiência real e enriquecedora. Reprova, é claro, as árvores artificiais (plásticas) e alega que os pinheiros naturais têm efeitos positivos no meio ambiente. Pelo que dizem, suas fazendas de árvore devem ter servido de modelo para o pessoal que escreveu o Protocolo de Kyoto. São máquinas de seqüestrar carbono, na visão de seus donos.

Além de produzirem um dos principais símbolos natalinos, suas árvores liberam oxigênio mais aceleradamente no crescimento e eliminam o dióxido de carbono do ar, reduzindo o efeito estufa na atmosfera da Terra. Mas não é só isso. Os membros da Associação afirmam ainda que as plantações de pinheiros operam milagres na natureza absolutamente dignos do Natal. Melhoram a estabilidade do solo, reduzem a poluição visual, realçam a paisagem e agregam valor às terras que não poderiam ser utilizadas para outro tipo de cultivo. Também servem como hábitat para a vida silvestre e são naturalmente biodegradáveis. Proclamam, igualmente, que seu recurso é renovável.

Como, aqui no Brasil, a gente gosta mesmo é de fantasia e já se acostumou a empurrar a sujeira para debaixo de tapete, no Rio de Janeiro a árvore de Natal flutuante da Bradesco transformou-se num projeto cultural, virou tradição nas festas de fim de ano e atrai milhares de pessoas de todos os cantos do país para admirar na lagoa o brilho e a beleza do monumental enfeite.

A base da árvore tem cerca de 700 metros quadrados de área e é formada por onze flutuadores, pesando 18 toneladas cada um. Quatro geradores garantem seu suprimento de energia: dois de 625 KVA de potência, um de 250 KVA e outro auxiliar com 8 KVA. Juntos, eles produzem energia suficiente para atender a 150 apartamentos de dois quartos. Fora o desperdício de energia, não posso deixar de pensar que a árvore pomposa flutua sobre águas poluídas. Num país como o nosso, isso chega a ser tão patético quanto o avião do presidente.

A Bradesco Seguros investe R$ 2 milhões todo Natal neste projeto flutuante. Com vendas nos olhos, o carioca se fantasia de parisiense e fica deslumbrado com sua Torre Eiffel provisória. O que é motivo de orgulho para a maioria, para mim é motivo de constrangimento. Parece ostentação desnecessária.

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