No O Globo de 13 de junho, encontrei uma matéria que diz que a Internet vai unir os povos da floresta. “Representantes de populações tradicionais de florestas do país, se reuniram ontem, no Jardim Botânico, para discutir a criação de uma rede de informações entre suas comunidades pela Internet. O projeto prevê a ampliação do número de comunidades com postos de acesso à Internet. O objetivo é reeditar, aproveitando a tecnologia, a Aliança dos Povos da Floresta, projeto do ambientalista Chico Mendes abandonado após sua morte. Índios, seringueiros, povos ribeirinhos e quilombolas vêem na rede um instrumento de defesa e de difusão cultural”.
Não sei onde eles querem chegar. Não me refiro aos índios. Estes já perderam a bússola faz tempo e com certeza, não encontrarão suas raízes na Internet. Pelo contrário. Estarão cada vez mais brancos, pálidos e distantes do que eles chamam de vida. Se o banho de civilização, que inclui cachaça, já arrebatou grande parte desse povo, a Internet sem dúvida vai exterminar os que sobraram. E, sem dúvida alguma, as terras que lhes restam farão parte do pagamento pelo acesso a Internet.
De acordo com o que diz Aílton Krenak, líder indígena e um dos coordenadores do projeto, através da Internet, comunidades isoladas poderão proteger seus territórios, denunciando atividades predatórias. Ao invés disso, os índios vão acabar interessados em sites “divertidos”.
E não porque são índios. Mas sim porque já deixaram de ser. Índios morrem de fome em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Civilizados pintando numa tribo, com um computador e um atendente da Virtua a tira colo, é prato cheio para os meninos do Casseta & Planeta. Muito embora camisetas do flamengo e maços de cigarro já sejam sutis sinais de um estupro cultural.
O tal do homem branco, também meio perdido e sem saber o que fazer com os índios, oferece ferramentas que distanciam ainda mais, o índio do que é ser índio. A população urbana, que não encontra índios na esquina, tende a ter deles uma imagem favorável, embora os veja como algo muito remoto. “Os índios são considerados a partir de um conjunto de imagens e crenças amplamente disseminadas pelo senso comum: eles são os donos da terra e seus primeiros habitantes, aqueles que sabem conviver com a natureza sem depredá-la. São também vistos como parte do passado e, portanto, como estando em processo de desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas três últimas décadas tenha se constatado o crescimento da população indígena”, diz o site da FUNAI.
Bom, é óbvio que a cultura e os costumes indígenas são considerados história, coisa que ficou para trás. No entanto, perder a identidade não os impede de fornicar. Se miséria e fome fossem métodos contraceptivos, o Brasil teria pouquíssimas crianças e nenhuma delas estaria vendendo bala em sinal de trânsito.
Voltando a Internet, ao orkut indígena. Se o objetivo é fortalecer o vínculo entre as tribos, acredito que o primeiro passo seja deixá-los em paz, mantê-los protegidos. Afinal, apesar de saber que isso pode soar pejorativo, afirmo: Índio genuíno é espécie em extinção. No Brasil, eles perdem feio para o peixe-boi, para as baleias jubarte e outros animais indefesos que por sorte, caíram no agrado dos homens brancos (ou encardidos).
O fato é que vejo o acesso à Internet longe, muito longe do que seria realmente “proteger” territórios e civilizações indígenas. É como tentar calar a boca de uma criança distraindo-a com novo brinquedo.
Leia também
COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas
Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados →
Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial
Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa →
Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia
Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local →