Em Juazeiro do Norte, no Ceará, a prática de corridas de jumentos chamou a atenção da presidente da União Internacional Protetora dos Animais. Em reportagem publicada no Diário do Nordeste, no dia 05 de agosto, Geuza Leitão afirma que vai defender os jumentos e tentar abolir as corridas. “O jumento não é como o cavalo, pelo contrário”. “Não é um animal arisco, para competir, mas dócil, vagaroso. Submetê-lo à corrida é abuso”. Ela afirma que para fazer o quadrúpede correr, os “jóqueis” colocam cigarros acessos nos seus ouvidos.
A corrida de jumentos. pode até infringir a lei que protege animais de qualquer tipo de abuso ou maus-tratos Mas faz parte da cultura nordestina. Depois de me deparar com a notícia acima, resolvi pesquisar o assunto e descobri que a atração não é privilégio brasileiro. No sul da Itália, por exemplo, se anda de lambreta para ganhar tempo e se assiste a uma corrida de jumentos para passar o tempo.
Bom, como se vê, alguns se divertem vendo jumentos correr, outros prezam pela sua saúde e há, em relação a esses animais, um terceiro grupo que os qualifica como pragas. O diretor do Centro de Zoonoses do Cariri, Ricardo Pierre Martins, por exemplo, diz que ninguém quer o animal “nem de graça”. Vagando à toa pela cidade, correm o risco de morrerem atropelados, ou provocarem acidentes. Soltos e sem ocupação, fazem estragos nas plantações. Bem, visto desse ângulo, talvez os jumentos atletas não tenham um futuro de vida tão ruim. Devem ser bem tratados por seus donos, provavelmente não se metem em acidentes em pelo menos num curto prazo, estão livres de virar comida estrangeira.
É isso mesmo. Um frigorífico instalado no interior do Ceará aguarda apenas uma autorização do Ministério da Agricultura para começar a abater e exportar a carne do animal para cinco países da Europa e da Ásia. Parece que o Brasil, em especial o Nordeste, depois de usar e abusar do jumento como meio de transporte e deixá-los de lado em troca de bicicletas e motos, não encontrou nada melhor para fazer com eles do que processá-los como salsichas.
O abate de eqüinos no Brasil para exportação não é novidade. Empresas no Rio Grande do Sul e no Paraná atuam na área, mas o cavalo era o animal até então mais usado. A principal utilização da carne de jumento é na fabricação de embutidos, mas ela também pode ser preparada como a carne bovina, cozida ou assada. O pessoal que mata quadrúpedes para fazer deles comida diz que carne de jumento tem um sabor mais adocicado.
O frigorífico cearense não terá um criatório de jumentos para o abate. A matéria-prima virá de animais apreendidos na beira de estradas nos Estados do Nordeste. Só no Ceará, o Dert (Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes) captura entre 800 e mil jumentos abandonados por mês. A capacidade do frigorífico, instalado em Santa Quitéria (250 km de Fortaleza), é de 3.000 animais por mês. Sendo assim, jumentos transeuntes que se cuidem ou tratem logo de arrumar um dono, de preferência um que queira colocá-los nas corridas. Em algumas, eles ganham até prêmios.
No site Noolhar, encontrei uma matéria que divulgava uma feira de artesanatos e anunciava o seguinte: “Além da exposição e venda dos produtos, a programação vai contar com uma corrida de jumentos a partir das 9 horas, que terá premiação em dinheiro para os cinco primeiros colocados na disputa e uma saca de milho para o animal vencedor”. Achei divertido. Gostei de saber que o animal é premiado com uma saca de milho. Parece justo. Só não sei se a saca de milho compensa as queimaduras de cigarro no ouvido.
Nesta mesma feira de artesanatos, uma outra atração também me chamou a atenção dos participantes. ”Acerte a letra do Hino Nacional”. Achei espetacular! Aqueles que soubessem o hino de cabeça, levariam para casa um kit contendo uma mochila, um boné e uma camiseta, além de uma cartela para participar do bingo de uma bicicleta. Achei genial. Raro. Um lapso de patriotismo. Talvez um excelente exemplo para um país que anda precisando muito recuperar um mínimo de civismo.
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