Não sei com que nome o documentário do Al Gore, premiado com o Oscar, chegou no Brasil, mas sei que o nome original é provocativo e excelente. Vi o filme. É daqueles que toda a humanidade deveria ver, mais de uma vez. Recomendar aos amigos, ter em casa. Ver e rever. Aprender na marra o que já devíamos saber de cor. Como dizia uma frase que ouvi recentemente, ‘faça agora o que você será obrigado a fazer no futuro’. Ou seja, está esperando o quê para começar a diminuir a sua pegada na Terra?
Eu nâo estou esperando nada – já estou fazendo há anos. Tantos, que não sei nem quanto. Fui aos poucos, que não sou perfeita, e continuo melhorando, aprendendo a cada dia e tendo acesso a discussões e leituras que não tinha até bem pouco tempo. Como diz Sarah Begg, a coordenadora de um projeto chamado Calgary Materials Exchange, da Clean Calgary Association, ONG onde trabalho: “Por mais que você já faça alguma coisa, sempre tem mais a fazer”.
Mais do que isso, me interesso por este assunto há muito tempo, mas só agora profissionalmente. E continuo fascinada. Às vezes, como depois de ver o documentário, fico triste, choro e me desespero com a falta de sensibilidade da maioria, o egoísmo de tantos e a ganância de poucos. Lembro, então, do Yvon Chouinard repetindo o que o ambientalista David Brower falou uma vez: ‘Não há negócios para serem feitos em um planeta morto’, já citado aqui. E lembro de Al Gore, com outras palavras, falando exatamente o mesmo.
Mas, afinal, o que importa se não estaremos aqui para ver tudo isso? Egoísmos à parte, não é este, em absoluto, o mundo que quero deixar para o filho que espero. Nestas horas, lembro da convivência com montanhistas que começaram a fazer montanha quando eu nasci, alguns muito antes, e contam com brilhos nos olhos histórias de um tempo que não volta mais. Onças e antas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro? Não, isso não é filme de ficção e existiu, em um tempo não muito longe de nossos dias atuais.
Talvez o que eu tenha gostado mais do filme seja o fato dele dar esperança e esse é um item que não pode faltar na mochila de ninguém, seja ele jovem ou velho, pessimista ou otimista, ambientalista de carteirinha, de atitude ou apenas de ouvir falar. Não sei se é verdade mas o Al Gore chama a atenção para o fato de termos revertido o buraco de ozônio na atmosfera. Portanto, não tenho dúvidas que podemos reverter a mudança no clima do mundo. Está nas minhas mãos. E nas suas. Vamos começar a fazer alguma coisa?
Algumas soluções são muito simples e podem ser começadas ainda hoje, ao terminar este texto, como trocar as lâmpadas de casa para aquelas de baixo consumo. Começar a reciclar materiais como metal, vidro, plástico e papel, mesmo que ainda não façam coleta seletiva na sua região – eu comecei a reciclar muito antes de fazerem coleta seletiva e nunca vivi em um lugar que tenha uma. Nem por isso deixo de fazer! Começar uma compostagem – mesmo morando em apartamento, você pode ter uma caixa com minhocas para reciclar seu lixo orgânico (isto reduzirá em mais de 40% o seu lixo!). Lembre-se que o lixo orgânico, uma vez jogado no lixão ou aterro sanitário, será responsável pela emisão de metano e, portanto, contribuirá com o aquecimento global. Você também pode fechar a torneira toda vez que escova os dentes, diminuir o tempo do seu banho e não lavar louça com a torneira aberta o tempo inteiro. Se tem máquina de lavar louça, só ligue quando estiver totalmente cheia – o mesmo para máquina de lavar roupa que, aliás, só deveria ser usada com água fria.
Outras são um pouco mais trabalhosas para quem não está acostumado a fazer nada – talvez não o seja para você! Como mudar seus hábitos de consumo, comprando materiais que possuam ao menos alguma porcentagem de reciclados em sua composição (é o que chamamos de ‘fechar o ciclo’). Arranjar uma bolsa ou mochila para compras, de preferência feita de algum material durável, e reutilizá-la incansavelmente, durante suas idas ao supermercado ou à feira. Não estranhe se o caixa do supermercado o olhar com uma cara de interrogação. Eles se acostumarão.
Eu uso mochila há anos. Fazia feira no Rio, há 5, 6 anos atrás, com uma mochila grande nas costas. Os feirantes já me conheciam e não me ofereciam mais sacos plásticos. Se oferecessem, ouviriam um ‘não, obrigada’, seguido de um sorriso e a tentativa de encaixar frutas e legumes no formato estranho da mochila. Mas sempre dava certo! Ainda hoje faço isso, aqui em Calgary, e ainda hoje vejo pessoas com cara de interrogação me olhando. Devem pensar porquê eu não quero uma sacola… Recentemente, pela primeira vez, ouvi uma pessoa me elogiar por não aceitar sacolas de plástico.
Uma loja sueca chamada Ikea, presente em vários países do mundo, acaba de instituir a cobrança de uma quantia como 5 cents por sacola de plástico. Se você não quiser ou não precisar da sacola, eles doarão este valor a alguma causa ambiental. A Mountain Equipment Co-op, uma cooperativa canadense de materiais esportivos (mas que só vende materiais para esportes onde o ‘motor’ que o impulsiona é o ser humano, como bicicleta, escalada, caminhada, esqui, caiaque etc), vem fazendo a mesma coisa há pelo menos um ano. E a sacola que ela dá aos membros da cooperativa é feita de milho – chama-se biobag e é 100% biodegradável. Custa, também, quatro vezes mais que uma sacola de plástico comum… E a cidade de San Francisco, EUA, acaba de proibir supermercados e grandes redes de farmácias de darem sacos plásticos feitos de petróleo (esta lei, recém-aprovada, surtirá efeito a partir do começo de outubro/2007), responsáveis não só pela poluição das ruas da cidade como pelo sufocamento de bichos marinhos. É a primeira cidade americana a tomar tal atitude.
Outra mudança no hábito de consumo é escolher produtos locais, que não precisaram viajar muito para chegar nas suas mãos e, com isso, não consumiram em transporte. Comprar a granel sempre que possível, bem como escolher produtos que não usem muita embalagem (alguns vêm embaladíssimos em plásticos e várias camadas de papel. Para quê, se você vai reciclar tudo mesmo, tão logo chegue em casa? Pior são as embalagens de isopor, que não se recicla!). Comprar produtos orgânicos – se, hoje, eles são caros, com o aumento do consumo a tendência é diminuir o preço dos produtos. Coma menos carne vermelha – as vacas são grandes emissoras de metano, através de sua dieta vegetariana e seus múltiplos estômagos. Consuma produtos frescos ao invés de congelados, que consomem até dez vez mais energia para serem produzidos.
Dirija menos e use mais o transporte público – se possível, caminhe mais ou ande mais de bicicleta. Nunca tive carro e comprei meu primeiro aqui, no Canadá, com 36 anos de idade. Ainda assim, vou trabalhar de ônibus – e sofro horrores com isso, já que esta cidade foi projetada para se andar de carro e o transporte público é muito ruim. Para piorar, a cidade sofre com o boom do crescimento, com muitos novos moradores, distâncias imensas para se percorrer, constante engarrafamento e, o pior, uma oferta de trabalho bem maior do que trabalhadores para preenchê-las. Assim, a empresa de transporte público do governo sofre também com a falta de motoristas. Como incentivo, este ano instituiram que podemos descontar o gasto com passes de transporte público do imposto de renda! Apesar de todas as dificuldades, não desista e use o transporte público sempre que possível.
Se você tem de dirigir, ao menos cuide especialmente de duas coisas: uma, não deixe seu carro ligado desnecessariamente. Mesmo em países frios como o Canadá no inverno, não é necessário mais do que 30 segundos para ‘esquentar’ o carro e sair. E mantenha os pneus calibrados – isso pode melhorar sua quilometragem em até 3%. Se todos fizerem isso, dá para imaginar a diferença que faremos, não?
Viaje menos de avião. Eu sei que esta é difícil, mas tente. Procure viajar apenas uma vez por ano, se for absolutamente imprescindível, durante as férias… Você já pensou em conhecer melhor o Brasil, de carro? Nosso país tem parques nacionais e estaduais deslumbrantes que valem qualquer tempo gasto para conhecê-los e ficam longe, precisam e merecem que umas férias inteiras sejam gastas apenas com eles…
Tente negociar um dia na semana ou mais com seu trabalho para que você trabalhe em casa. Mais e mais empresas estão aceitando este tipo de negociação, na certeza de que menos pessoas irão precisar usar meios de transporte para chegar no trabalho. Aliás, este é o motivo que trabalho dois dias por semana em casa. Quer mais inspiração? Faça uma busca no Google, mas não deixe de visitar www.climatecrisis.net – o site oficial do filme do Al Gore. Lembre-se que por menor que você considere a sua contribuição para o planeta, ela é fundamental. E, se você puder influenciar alguém a fazer o mesmo, um dia de cada vez, nós todos conseguiremos reverter a situação.
E então? Qual é a primeira coisa que você decidiu fazer pela sua casa?
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