No dia 2 de agosto de 2010 foi oficialmente criado no Brasil um escritório da International Union for the Conservation of Nature (IUCN), organização de grande abrangência na área da conservação. Realizado em Brasília, o evento contou com a presença da diretora geral da IUCN, Julia Marton-Lefèvre e dois conselheiros gerais, sendo um brasileiro, Claudio Maretti (WWF) e Miguel Pellerano da Argentina. Os presidentes de duas das seis comissões que compõem a organização participaram: Piet Wit de Manejo de Ecossistemas, e Keith Wheeler de Educação e Comunicação. Desta última, estavam também presentes, dois ex-presidentes, Frits Hesselink e Denise Hamú, além de mim, que hoje atuo como vice-presidente para a America do Sul. Filmando todos nós, estava também Ricardo Carvalho, membro de nossa Comissão, que há anos produz materiais tocantes sobre nosso grupo e como atuamos.
O novo diretor para a IUCN Brasil, Luiz Fernando Merico, terá pela frente muitos desafios, como é comum com quem trabalha com as questões ambientais, mas terá o apoio de vários membros brasileiros das diversas comissões, ou mesmo das instituições afiliadas. A IUCN em nosso país ainda tem um número tímido de organizações membros, mas com a presença formal do escritório nacional o número tenderá a aumentar.
A IUCN tem grande abrangência internacional, influenciando tomadores de decisão a partir de suas comissões, que são: (1) Educação e Comunicação; (2) Políticas Públicas; (3) Espécies Ameaçadas; (4) Legislação Ambiental; (5) Manejo de Ecossistemas; e, (6) Áreas Protegidas. Mais de 12 mil voluntários compõem essas Comissões, sendo que muitos de seus integrantes estão dentre os maiores especialistas das suas áreas de conhecimento. Aglutina membros governamentais e organizações não governamentais, propiciando o diálogo entre países do Norte com os do Sul, ou trocas de informações e cooperações diversas entre todas as regiões do mundo. Hoje, a IUCN é uma referência na geração de conhecimentos, ao levantar questões e ajudar a fornecer dados para guiar ações nos mais diversos campos da conservação.
A IUCN é uma mega-organização que tem adquirido credibilidade crescente no decorrer dos anos. Promove enormes reuniões a cada quatro anos em diferentes regiões do mundo, além de encontros temáticos que dependem do potencial de organização de cada Comissão, ou de fundos que seus membros levantam. Mas, destaca-se por seu potencial de orientar decisões e ajuda a influenciar rumos de questões variadas ligadas à conservação. Dentre suas inúmeras publicações está, por exemplo, a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, que tem servido de base para governos, ONGs e empresas tomarem decisões que afetam os habitats naturais que remanescem no planeta.
Qual a relevância da IUCN no Brasil?
A IUCN parece exercer um certo magnetismo entre aqueles que convivem com a instituição. Consegue aglutinar agências governamentais e não governamentais e, mais recentemente, também o setor privado. Esse foi o retrato do evento de Brasília. Organizado em três mesas redondas compostas por representantes dos diferentes setores, muitas idéias foram trocadas sobre o futuro da IUCN em solo nacional.
Em fala contundente sobre a importância do escritório IUCN Brasil, Claudio Maretti reforçou a idéia de que a organização não podia se considerar totalmente internacional sem uma presença efetiva no Brasil. Por conter uma das mais ricas diversidades do planeta, nosso país representa um ganho inquestionável para a instituição, e para nós a IUCN será uma aliada, principalmente por seu potencial de influenciar nacional e internacionalmente a conservação e o desenvolvimento com bases na sustentabilidade.
Muitos apontaram como uma de suas principais fortalezas a importância da IUCN influenciar políticas públicas. Este foi o caso da Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), que ressaltou para o fato de os anseios econômicos serem sempre priorizados em face às necessidades ambientais. O poder catalisador da IUCN de integrar os diferentes setores poderá influenciar decisões e, assim, contribuir para reverter este quadro em nosso país.
Claudio Padua, do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, valorizou as redes que se formaram por meio de grupos temáticos e das Comissões da IUCN. A capilaridade dessas teias de conexão impressiona por atingir o mundo todo, e por atrair os melhores especialistas de diversas áreas do conhecimento de maneira voluntária, criando sinergias e trocas de informações de qualidade. Muitas decisões regionais, nacionais e internacionais são influenciadas por essas redes, que vêm acabam ajudando na proteção de espécies e ecossistemas em toda parte. Claudio chamou a atenção para o pioneirismo da IUCN nesse processo, pois teve início no final da década de 1940 quando a comunicação nem sonhava em ter a eficácia da que se conhece na atualidade.
Na mesma linha de pensamento, a importância das Comissões foi ressaltada várias vezes devido a alta qualidade de seus integrantes. Alguns produtos como a publicação da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, por exemplo, tornaram-se referências para guiar decisões que afetam os destinos de muitas regiões do planeta.
A história da IUCN no Brasil foi lembrada por vários palestrantes como Denise Hamú e Russ Mitermeier, ambos tendo citado José Pedro de Oliveira Costa e Soninha Rigueira, responsáveis pela presença da instituição em nosso país. A Biodiversitas também foi mencionada, por ter sido a instituição que durante muitos anos atuou como ponto focal para os membros nacionais. Por conta de uma descontinuidade no processo, o novo escritório é visto como uma oportunidade de sinergia que nutre renovadas esperanças para a conservação em nosso país.
Miguel Pellerano, da Argentina, membro do Conselho internacional da IUCN, reforçou a importância de se ter uma presença forte do Brasil, país que considera ícone para a América Latina devido a sua riqueza natural. As chances de se trabalhar além das fronteiras são assim maiores, como apontado também pela Rafaela Nicola da ECOA, já que os países que compartilham biomas terão novas oportunidades de cooperarem por meio da IUCN.
Finalmente, o tema do mundo empresarial estar cada vez mais está presente dentre as ONGs, inclusiva a IUCN, foi trazido por Dalberto Adulis da ABDL. Um exemplo concreto desenvolvido pela ITAIPU foi apresentado pelo Nelton Miguel Friedrich.
Do governo, representantes importantes participaram do evento: Paulino Franco Neto das Relações Exteriores; do Ministério do Meio Ambiente, mais precisamente da Diretoria de Biodiversidade, Maria Cecília Wey de Brito; o Presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Melo; e, da Organização Tratado de Cooperação Amazônica, Manuel Picasso. A presença de tantas notoriedades indica não só a importância atribuída à IUCN em geral, mas a expectativa de sua presença mais efetiva no Brasil.
O Ministro do Supremo Tribunal da Justiça, Antonio Herman Benjamin, membro ativo da Comissão de Legislação Ambiental da IUCN, deu apoio antes e durante o evento, pois recepcionou calorosamente os diretores e representantes que vieram de outros países. Compartilhou o fato de a IUCN estar promovendo um portal ambiental que contribuirá para que os juízes possam tomar decisões com bases em informações confiáveis.
Para a Comissão de Educação e Comunicação (CEC), o novo escritório pode ter uma relevância adicional. Como Keith Wheeler mencionou, haverá o potencial de expandir ainda mais, fortalecendo o escopo de sua missão. Keith tem inovado ao trazer a CEC para a era da modernidade. Combina mudanças na forma de lidar com sua rede de colaboradores e na gestão do conhecimento, utilizando-se da comunicação como estratégia para o aprendizado. Seu propósito é aumentar o impacto da ciência da biodiversidade e, sempre que possível, influenciar políticas públicas. Mas, a beleza de sua forma de trabalhar é que não trata os campos isoladamente, mas os conecta de formas variadas e, sempre que possível, integra a CEC a outras Comissões ou a iniciativas de conservação e de sustentabilidade.
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Como faço para entregar em contato com a sede IUCN aqui no Brasil?