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Fotogaleria: Erosão costeira, memória e fé compõem a paisagem de Atafona, no Rio de Janeiro 

Atafona sofre com impactos erosivos intensos, devido às mudanças climáticas e ao avanço do mar na costa. Apesar disso, os habitantes preservam a memória, a religiosidade e o senso de pertencimento

Júlia Mendes ·
20 de agosto de 2025

Fotogaleria: Erosão costeira, memória e fé compõem a paisagem de Atafona, no Rio de Janeiro 

Atafona sofre com impactos erosivos intensos, devido às mudanças climáticas e ao avanço do mar na costa. Apesar disso, os habitantes preservam a memória, a religiosidade e o senso de pertencimento

Um dos seis distritos de São João da Barra, no Rio de Janeiro, Atafona têm cerca de 6 mil habitantes. Apesar dos efeitos das mudanças climáticas e da erosão refletirem em todo a costa do município, o distrito é conhecido mundialmente devido a sua vulnerabilidade geográfica, com o avanço do mar destruindo casas, ruas e a infraestrutura do local desde a década de 1970. Foto: Thiago Freitas
Os primeiros registros de impactos erosivos na região datam de 1954, na Ilha da Convivência, que ficava há 200 metros da costa de Atafona. Atualmente, a ilha não existe mais, dando lugar a um extenso areal conectado ao distrito. A outra parte da ilha, hoje como continente, pertence a São Francisco de Itabapoana, município vizinho a São João da Barra. Foto: Thiago Freitas.
Um estudo de 2018 da Revista Nature indicou que a praia de Atafona já recuou quase 180 metros, cerca de três quarteirões, em mais de 30 anos. Segundo especialistas, não é possível eleger causa específica para a erosão no distrito, mas os usos da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e os impactos das mudanças climáticas são duas das principais culpadas pelo problema. Foto: Thiago Freitas
Escombros ou resquícios de construções são comuns na praia de Atafona. Em locais mais críticos, uma placa da Defesa Civil alerta para o perigo de nadar em trecho da praia tomado por esses escombros de casas destruídas pelo avanço do mar. No entanto, ainda assim é possível ver pessoas usufruindo do mar na área indicada. Foto: Thiago Freitas

A região do Pontal de Atafona foi interditada pela Defesa Civil em 2021. 46 famílias tiveram que sair de suas casas e passaram a receber um auxílio financeiro da prefeitura. Foto: Thiago Freitas

A Avenida Atlântica é um dos meios de se chegar ao distrito e passou a ficar repleta de areia no asfalto devido à formação de enormes dunas no entorno e o vento intenso, impedindo carros e pedestres de transitarem. Com ajuda do Ministério Público e por meio de uma ação judicial, a SOS Atafona, associação da sociedade civil, conseguiu que a prefeitura tirasse periodicamente as areias da avenida – o que acontece até hoje. Foto: Thiago Freitas

Apesar de toda destruição ao longo do tempo, o avanço do mar parece ser secundário diante da possibilidade de viver no distrito até quando não for mais possível. Marina Leite passou todos os verões de sua vida em Atafona e, no futuro, pretende morar no distrito. “É isso que Atafona traz, você não quer ir embora. Você quer ficar aqui, apesar do mar, você não quer sair.” Foto: Thiago Freitas

Morador do distrito desde que nasceu, Kauan diz que a praia, o frescor e a natureza do local são aspectos diferenciais em lugares para se morar, como Atafona. Ele conta que não quer ver o distrito ser destruído por inteiro: “É uma coisa que a gente tem que levar a sério, porque se a gente não fizer nada, nós vamos sumir. Vamos perder nossa história”. Foto: Thiago Freitas.
Camila Hissa mora em Atafona desde sempre e não planeja ir embora. Com um filho de 7 anos, ela pretende continuar o criando no distrito, para que ele possa também ter boas memórias ao lado da família. “Enquanto existir Atafona, eu estarei aqui.” Foto: Thiago Freitas

A fé é um dos maiores alicerces de moradores e frequentadores de Atafona ao lidarem com a destruição. Moradora de Atafona há 27 anos, Sônia Ferreira perdeu sua casa para o mar em 2022. “Deus e Nossa Senhora precisam e dão muita força para a gente, porque senão a gente não aguenta tanta destruição. Então eu continuo com as minhas orações para agradecer que estou virando essa página.” Foto: Thiago Freitas

A fé é o que mantém firme a esperança da população de Atafona em ver um dia os problemas socioambientais do local solucionados. A apreensão de perder o Santuário para o mar, assim como outros cartões postais que já foram perdidos, é grande entre os devotos. Foto: Thiago Freitas

A Festa de Nossa Senhora da Penha, padroeira de São João da Barra, reúne milhares de fiéis todos os anos. Segundo a Irmandade, foram 35 mil pessoas presentes na festa de 2025. A ocasião apresenta uma extensa programação religiosa de 10 missas, cavalgada, carreata, romaria luminosa e procissões fluvial e terrestre. Foto: Thiago Freitas

A procissão terrestre é um dos pontos altos da festividade. Em 2025, vinte mil fiéis caminharam pelas ruas do distrito de Atafona em devoção à Santa. Os devotos carregam panos, velas, flores e uma infinidade de lágrimas, enquanto gritam a todo momento: “Viva a Nossa Senhora da Penha!”. Foto: Thiago Freitas
Na procissão, outros santos e santas também são homenageados, como a Nossa Senhora dos Navegantes, protetora dos pescadores de Atafona. Além do avanço do mar, o assoreamento do Rio Paraíba do Sul também ameaça fortemente a classe pesqueira no distrito. Foto: Thiago Freitas
Outra tradição da festa, a procissão fluvial é realizada por pescadores em barcos ornamentados, que homenageiam a padroeira pelas águas do Paraíba do Sul acompanhados de fiéis. Os barcos percorrem toda a parte do rio que antes dava lugar à Ilha da Convivência e aproximam-se da foz. Foto: Thiago Freitas
  • Júlia Mendes

    Estudante de jornalismo da UFRJ, apaixonada pela área ambiental e tudo o que a envolve

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