Fim de ano, época de pesar conquistas, avaliar erros e fazer planos. Tempo de recesso em que cada um pode fazer um balanço de objetivos alcançados, traçar novas metas e ampliar perspectivas. Tempo para reflexão pessoal, mas tempo para pensar nas cidades em que vivemos. As mudanças nos governos municipais, com novos prefeitos e vereadores assumindo seus cargos, podem ser uma boa oportunidade para outras transformações. Sendo a favor ou contra os eleitos, é hora de participar, se envolver, cobrar melhorias. Com o intuito de colaborar com os debates necessários, este blog apresenta dez ideias relacionadas à mobilidade, meio ambiente urbano e redução de poluentes.
1 – Transporte coletivo barato ou de graça – Em vez de ampliação de avenidas, construção de túneis e pontes, que as prefeituras invistam em transporte coletivo de qualidade e subsidiem parcial ou totalmente o sistema. A ideia de tarifa zero não é nova (leia mais em tarifazero.org) e pode parecer radical ou inviável – mas frente ao colapso de trânsito nas metrópoles, é hora de se pensar em medidas extremas. As prefeituras que, nos últimos anos, continuaram priorizando investimentos em infraestrutura de transporte individual não obtiveram resultados significativos em redução de congestionamentos. Com o dinheiro que se gasta constamente para ampliação da malha viária seria possível reduzir ou zerar as tarifas de transporte. São Paulo, onde a aposta nos últimos quatro anos foram avenidas prolongadas e alargadas, é o maior exemplo dos limites de tal modelo. A Marginal Tietê passou a ter onze faixas em alguns trechos e, ainda assim, trava regularmente.
2 – Ônibus mais limpos e confortáveis – Não adianta ampliar o sistema sem melhorá-lo. Existem tecnologias que permitem emissão reduzida de poluentes. Os ônibus movidos a hidrogênio, por exemplo, não apenas emitem água em vez de fumaça, como também fazem menos barulho e são mais confortáveis. Que investir na modernização do sistema, tirando de linha os velhos ônibus a diesel sucateados, seja prioridade.
3 – Ampliação dos sistemas de transporte sobre trilhos – Seja em parceria com governos estaduais e federais, seja com recursos de bancos ou programas especiais para desenvolvimento sustentável, sistemas de transporte sobre trilhos devem ser construídos ou ampliados. E, se é impossível cavar metrôs com a urgência que se faz presente, que os prefeitos tenham a coragem de substituir asfalto por trilhos em alguns trechos, abrindo espaço para circulação de bondes ou trens por superfície no lugar antes exclusivo para carros. Istambul, capital da Turquia, é um bom exemplo de rede de transporte sobre trilhos na superfície. Em Berlim, na Alemanha, bondes complementam a rede de metrô.
4 – Criação de redes cicloviárias – Mais do que ciclofaixas de lazer e construção de ciclovias isoladas da cidade, que as prefeituras preocupem-se em criar redes de deslocamento, incentivando o uso da bicicleta como transporte. Redes cicloviárias são compostas por ciclovias, ciclofaixas e faixas compartilhadas – onde os demais veículos são obrigados a respeitar limites de velocidade. Que as prefeituras sinalizem, organizem e pensem em redes, incluindo acessos e caminhos ligando as regiões mais ricas da cidade às áreas periféricas, observando as redes de deslocamento de milhares de pessoas que vivem fora da cidade, trabalham no centro e usam a bicicleta como transporte.
5 – Manutenção da taxa de inspeção veicular e ampliação dos programas de monitoramento – Quem polui deve pagar pelo monitoramento e fiscalização dos poluentes que emite. Simples assim. Não tem sentido onerar toda a população subsidiando a inspeção veicular, sendo que quem se transporta de carro nas cidades é uma minoria – minoria esta responsável por níveis de poluição alarmantes. Que os sistemas de inspeção veicular sejam ampliados em 2013.
6 – Cobrança de taxas pelo uso de espaço público para estacionamento privado – Ruas não são estacionamento; ou não deveriam ser. Que, em 2013, quem tem carro, providencie uma vaga ou pague pelo espaço que for ocupar na rua. E que outras alternativas para o espaço ocupado pelos carros parados sejam consideradas, como a criação de jardins e hortas comunitárias, a instalação de paraciclos, calçadas e ciclovias. E que o dinheiro obtido com tais taxas seja encaminhado para melhorias no sistema de transporte coletivo.
7 – Ampliação e melhorias das calçadas – Que o pedestre seja valorizado ao máximo e tenha espaço para existir. Em vez de reduzir calçadas e asfaltar jardins, que as prefeituras estreitem avenidas ou limitem a circulação de automóveis para abrir espaço para as pessoas – no exterior, tais medidas são comuns. Em Paris, por exemplo, o trânsito de carros nas margens do Rio Sena foi proibido. Multiplicam-se as zonas livres de carro (carfree, em inglês). Que elas se consolidem e prosperem nas áreas centrais das grandes cidades brasileiras.
8 – Redução dos limites de velocidade – Não adianta falar que o pedestre deve ter prioridade sempre e não adotar medidas concretas para garantir sua segurança. Que a velocidade máxima seja reduzida, especialmente em zonas residenciais, e que os motoristas sejam estimulados a respeitar tais limites não só pela repressão, mas também por campanhas preventivas. Disseminar informação sobre impactos e riscos de se dirigir rápido pode ser uma ferramenta importante para alterar comportamentos. As chance de um pedestre atropelado sobreviver são inversamente proporcionais à velocidade do carro que o atingir. Que as campanhas foquem no motorista e em comportamentos irresponsáveis e não no adestramento de pedestres. Não adianta ter pedestres acostumados a atravessar só na faixa enquanto os motoristas dirigem como se o mundo fosse acabar a qualquer instante.
9 – Que as ruas de lazer se multipliquem – Fechar ruas ou trechos de ruas nos fins de semana pode ser um bom estímulo à ocupação positiva do espaço público – leia-se crianças jogando bola, jovens de skate, convivência, diálogo, boa vizinhança. Em vez de priorizar o acesso a parques entupidos de gente disputando por uma vaga para estacionar, que tal priorizar o lazer nas ruas? Que tal pensar em ruas arborizadas e não apenas em árvores em espaços fechados, restritos? Que tal pensar a cidade como um parque gigante?
10 – Cidades acessíveis – Que a preocupação com acessibilidade seja uma obsessão em todas as prefeituras. Que quem tem dificuldades de locomoção seja considerado e respeitado. Medidas como o rebaixamento de guias para facilitar a vidad de cadeirantes são simples, mas fazem toda a diferença. Que os políticos pensem em cidades com diversidade, que imaginem soluções e, assim, transformem realidades.
Que 2013 seja um ano de cidades mais limpas e equilibradas. São os votos do Outras Vias e do site ((o)) eco para todos os leitores que acompanham o blog.
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