Sabe aqueles animais com jeitão diferente, como o pangolim-malaio ou a salamandra oxolote? Talvez poucas pessoas os conheçam e seja melhor falar em elefantes ou peixes-bois-da-amazônia. Pois todos eles, pouco ou bem conhecidos, têm em comum justamente serem espécies que têm uma história evolutiva única e atualmente possuem poucos parentes espalhados pelo mundo. São chamadas de espécies EDGE, sigla em inglês para Evolutionarily Distinct and Globally Endangered, ou Distintas Evolucionáriamente e Ameaçadas Globalmente.
A Sociedade Zoológica de Londres (ZLS na sigla em inglês) lidera a iniciativa EDGE of Existence para proteger estas espécies e está lançando um mapa interativo com as áreas prioritárias para a conservação dos mamíferos e anfíbios EDGE em todo o mundo com informações sobre cada um deles. O mapa é resultado de um estudo publicado na edição de 15/5 da revista científica PLOS One.
No Brasil, áreas do Cerrado e Sul e Sudeste da Amazônia aparecem com a maior ocorrência de espécies EDGE, mas existem muitos destes animais incomuns espalhados pelo país. É o caso do roedor Cavia intermedia. Encontrado em ilhas do litoral de Santa Catarina, é considerado o roedor mais raro do mundo. A preguiça-de-coleira, encontrada na Mata Atlântica, também faz parte da lista.
Zonas prioritárias para conservação de mamíferos (direita) e anfíbios (esquerda). | Clique para ampliar. |
O mapa demonstra diferenças entre as áreas prioritárias para conservação de mamíferos e anfíbios. Mamíferos raros e ameaçados existem principalmente no Sudeste Asiático, enquanto por aqui, na América do Sul, e também na América Central, há uma concentração maior de anfíbios em situação de risco. É o caso do Odontophrynus moratoi, um sapo que vive em um ambiente restrito de menos de 10 quilômetros quadrados de floresta em São Paulo.
“Os resultados desse exercício de mapeamento são alarmantes. Atualmente apenas 5% das áreas que nós identificamos como prioritárias para mamíferos EDGE e 15% das áreas para anfíbios EDGE são protegidas”, afirma o diretor de Conservação da ZSL, Johathan Baillie. “Todas essas áreas destacadas devem ser prioridade para a conservação global, porque elas contêm espécies que são não apenas altamente ameaçadas mas também únicas na aparência, vida e comportamento”, destaca o professor.
O líder do estudo, Kamran Safi, do Instituto de Ornitologia da Sociedade Max Planck, da Alemanha, destaca que esse é o primeiro mapa global a levar em conta a singularidade das espécies e as ameaças. “Agora que já foram identificadas as áreas prioritárias EDGE para mamíferos e anfíbios, é preciso continuar a protegê-las de forma eficaz”.
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