A ambientalista e ornitóloga suíça Anita Studer faleceu nesta segunda-feira (15), em Genebra, aos 81 anos. Segundo nota da Associação Nordesta, ela estava com a saúde “frágil e debilitada pela idade” e havia sido internada nos últimos dias, na capital suíça.
Nascida em Brienz em 26 de fevereiro de 1944, Anita formou-se bióloga, tornou-se PhD e dedicou a vida à conservação da Mata Atlântica nordestina. Em 1985, criou a ong Nordesta – Reflorestamento e Educação, em Genebra, para financiar projetos sociais, educação ambiental e reflorestamento.
Anita veio ao Brasil pela primeira vez em 1976 para estudar aves. No início da década de 1980, na Serra de Pedra Talhada, viu o raro anumará (Curaeus forbesi) e decidiu que, antes de estudá-lo, precisava proteger a floresta das derrubadas. Essa seria sua missão por quatro décadas.
“Primeiro eu vou salvar a floresta, e depois tenho todo o tempo do mundo para estudar o anumará”, disse ela à época.
Liderada por Anita, a mobilização alcançou prefeitos, professores, moradores e políticos e culminou na proteção oficial daquele território. Em 13 de dezembro de 1989, o Governo Federal criou a Reserva Biológica de Pedra Talhada, com 4,5 mil ha, em Pernambuco e Alagoas.

Adiante, a ativista articulou viveiros, corredores florestais e proteção de nascentes junto a escolas e comunidades. Tais iniciativas resultaram em milhões de mudas plantadas e em reconhecimento internacional. Em 1990, o projeto foi impulsionado pelo prêmio Rolex Award for Enterprise.
O trabalho de Anita angariou igualmente homenagens científicas: a perereca Dendropsophus studerae, que só vive na região de Quebrangulo, e o líquen Astrothelium studerae, foram batizados em sua homenagem.
Ao longo dos anos, ((o))eco acompanhou e destacou a importância da Pedra Talhada no mosaico da Mata Atlântica nordestina e citou o papel histórico de Anita em reportagens e análises.
Em 2008, noticiou ações de fiscalização contra madeireiras clandestinas na Rebio. Em 2022, reforçou a unidade como um dos grandes remanescentes do Centro de Endemismo de Pernambuco, e, num texto sobre o uru-do-nordeste (Odontophorus capueira plumbeicollis), mencionou os esforços de conservação em Pedra Talhada.
Durante sua rica trajetória, Anita costurou ciência, políticas públicas e mobilização comunitária. Deixou uma unidade federal de proteção integral, uma rede social e educativa ativa e paisagens novamente verdes onde havia clareiras. Um legado digno de poucos.
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