Dentre os felinos neotropicais, o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) é um dos menos conhecidos e mais ameaçados, classificado como Em Perigo (EN) de extinção pela Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção e Vulnerável (VU) pela Lista Vermelha da IUCN. As populações do Nordeste, Norte e Centro-Oeste foram recentemente descritas como uma espécie distinta, Leopardus emiliae, o que torna ainda mais urgente as ações para a conservação desta nova, endêmica e desconhecida espécie.
Apesar do pequeno porte, de 2,4 kg em média, o felino enfrenta grandes problemas. A Caatinga, onde está concentrada a maior quantidade de registros da espécie, possui apenas 2% de sua área coberta por Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral, e mais de 45% da sua cobertura vegetal original já foi perdida ou fragmentada. A exploração dos recursos do semiárido por uma população humana de 23 milhões de habitantes vêm ameaçando a espécie, que é vítima da pecuária extensiva, extração de lenha, caça predatória, atropelamentos e retaliação por se alimentarem dos animais de criação em áreas rurais.
Esta situação crítica levou um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte a reunir esforços para a conservação do gato-do-mato-pequeno. Desde 2013, os pesquisadores vêm estudando sua distribuição e identificando áreas prioritárias no estado, além de desvendar as principais ameaças a essas populações. Os primeiros resultados foram publicados recentemente numa importante revista científica da área de mastozoologia. Segundo o biólogo Paulo Henrique Marinho, coordenador do projeto, os esforços até o momento foram concentrados em conhecer a espécie em áreas privadas. “As áreas privadas são importantes por serem onde está a maior parte do que resta da Caatinga. Agora pretendemos focar nossas ações em uma importante UC do Bioma, para garantir mais efetividade nas ações de conservação da espécie”, frisou ele.
Recentemente, o grupo recebeu um reforço do The Mohamed bin Zayed Species Conservation Fund, um fundo privado e filantrópico que financia iniciativas de conservação de espécies no mundo inteiro, por meio do projeto “Ecologia e conservação do gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) no Parque Nacional de Furna Feia, na Caatinga semiárida brasileira”. O financiamento prevê um monitoramento de longo prazo que possibilitará o desenvolvimento de estratégias de conservação do gato-do-mato, por meio da definição de seu status populacional, preditores de ocorrência e percepção humana sobre a espécie. Os resultados do projeto também subsidiarão o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Pequenos Felinos do ICMBio e o Plano de Manejo do Parna Furna Feia, que se encontra em elaboração.
De acordo com Paulo Marinho, a equipe de pesquisadores irá atuar junto com a gestão do Parque Nacional para conhecer a população de gatos que existe ali e traçar estratégias para mantê-la. “Mas para isso, precisamos de recursos, e o The Mohamed bin Zayed Fund entrou com seu aporte financeiro e credibilidade, nos tornando um dos 1.676 projetos apoiados por eles, que envolvem 1.132 espécies e subespécies”, explicou.
Os estudos serão desenvolvidos no Furna Feia, o primeiro e único Parque Nacional do Rio Grande do Norte, criado em 2012. O Parque possui 8.517,63 hectares e está localizado entre os municípios de Baraúna e Mossoró. A UC protege importantes fragmentos de Caatinga, além de conter um valioso patrimônio espeleológico e arqueológico.
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Segundo este artigo, na Caatinga, teria ainda 45% da cobertura vegetal original. Aonde seria isso? No Ceará, por exemplo, tem talvez ainda 1% (um porcento) da vegetação original. Talvez. O resto e Caatinga secundária ou capoeira. Nas UCs também. Mas o Felis tigrinus se adapta, mais ou menos. Na RPPN Mãe-da-Lua, temos ele no meio da Caatinga secundária: http://www.mae-da-lua.org/port/species/felis_tigr…
Oi Hermann, realmente a Caatinga é tão degradada que dá essa impressão de restar pouca coisa, e preservado resta pouco mesmo. Apesar de ainda restar esses 45%, na verdade é bem como você falou, isso que resta em geral é secundário, degradado pela retirada de madeira, pastejo, fogo etc…
Sobre Leopardus tigrinus/amiliae, ele parece mesmo se adaptar a diversos ambientes na caatinga, mas ocorre principalmente em áreas arbóreas e longe de assentamentos humanos, olha nesse link aqui: http://www.ufrn.br/imprensa/noticias/8629/projeto…