Manaus, AM — Um golpe de sorte colocou na frente da curiosidade do biólogo André Antunes manifestos de carga de barcos da JG Araújo, outrora uma grande exportadora de produtos amazônicos. Em mais de cem anos anotados em livros, estavam relações de peles e couros de animais que chegavam a Manaus do interior da Amazônia para serem exportados. Um negócio lucrativo — se consideradas apenas as 11 espécies mais vendidas, gerou meio bilhão de dólares, em valores de 2015, entre as décadas de 1930 e 1960, quando a caça ainda era permitida.
O levantamento sobre este comércio, e do impacto dessa matança, está em um artigo publicado esta semana na revista Science Advances, por Antunes e pelos colegas Rachel Fewster, Eduardo Venticinque, Carlos Peres, Taal Levi, Fábio Rohe e Glenn Shepard. Para concluir a pesquisa, além das anotações, tornadas disponíveis pela família do comendador Joaquim Gonçalves Araújo, o biólogo ouviu muitas histórias de caça de populações do interior da região amazônica.
“É impressionante como a memória do comércio de peles é viva nas pessoas da Amazônia até hoje, a época da ‘fantasia’, como eles chamam”, conta André Antunes. A caça era uma atividade rentável, praticada por gente especializada, embora as comunidades também pudessem tirar proveito. “Ninguém matava onça para comer, mas se tivesse a oportunidade aproveitava. A pele de onça para a exportação custava cerca de 500 dólares”, conta.
O estudo estima que 23,3 milhões de animais, de vinte espécies de répteis e mamíferos, tenham sido abatidos no Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia entre 1904 e 1969. E este dado ainda é considerado conservador pelos pesquisadores responsáveis pela publicação, já que não entra na conta animais que tenham morrido em decorrência de ferimentos, ou peles que não tenham sido aproveitadas ou contrabandeadas.
Até 1912, o comércio era pequeno e focado no veado-vermelho. Logo após o declínio da borracha, se diversificou e atingiu um pico nas décadas de 1930 e 1940 e depois nos anos 1960, impulsionado pelo consumo de aumento dos preços nos Estados Unidos e Europa. Entre as peles e couros mais populares, estão onça-pintada, jaguatirica, gato-maracajá, ariranha, lontra, queixada, caititu, veado-vermelho, capivara, peixe-boi, anta, cutia, jacaré-açu, jacaré-tinga, iguana, sucuri, jiboia, jacuraru e jacuruxi.
Com os dados, foi possível avaliar também a capacidade de recuperação da fauna amazônica. A conclusão é que animais aquáticos entraram em colapso em poucas décadas, enquanto a exploração da maioria das espécies terrestres se manteve constante ao longo do anos. As ariranhas, que tem uma taxa de reprodução muito baixa, já haviam quase desaparecido de algumas regiões, como o entorno de Manaus, na década de 1930. Atualmente, está havendo um ressurgimento da espécie em algumas regiões.
Para André Antunes, a razão do colapso dos animais aquáticos está no acesso dos caçadores às áreas de refúgio. “Era mais fácil ir no remo pelo rio do que andar na mata em terra firme”, diz o biólogo. Isso indica, segundo ele, que hoje existe um grande risco também para animais terrestres.
“Se o principal fator de resiliência à caça são os refúgios, a inacessibilidade, quando você desmata e abre estradas, você tem perda de habitat e acesso às áreas de refúgio. Imaginamos que a resiliência na Amazônia vai decaindo”, alerta André Antunes, que atualmente é pesquisador da Wildlife Conservation Society (WCS).
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Pois agora em 2014, o governo FEDERAL e os ESTADUAIS devem, digo DEVEM reverter esta dizimação de nossa fauna. Certo, Com vontade e coragem, pois dinheiro tem. Basta observarem os valores arrecadados nos licenciamentos.
Vamos Ibama, Icmbio, Fatma, Iap, mexam-se.
Pobre do IBAMA e serviço público ambiental em geral, quando a questão é praticamente absolutamente política e não técnica ou da conta da vontade e esforço de servidores.