Palmeiras são árvores emblemáticas nas paisagens tropicais e que cumprem um importante papel ecológico na produção de frutos essenciais no cardápio de vários animais. O Brasil é o lar de 282 destas espécies. Apenas no estado do Rio de Janeiro, nos domínios da Mata Atlântica fluminense, existe uma diversidade de 22 espécies nativas de palmeiras. Um estudo mapeou a distribuição das espécies para entender os locais de conservação prioritária que ainda abrigam uma grande diversidade destas importantes árvores tropicais e, através de uma modelagem científica, estimou a distribuição original das espécies, para entender quanto se perdeu com o desmatamento.
O artigo foi publicado no dia 25 de julho, no periódico científico Frontiers in Forests and Global Change, por uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Ecologia Vegetal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Laboratório de Ecologia Florestal e Conservação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
A pesquisa cruzou a modelagem de distribuição das espécies de palmeiras com as unidades de conservação para identificar, dentre as áreas com maior riqueza de espécies de palmeiras, quais estão dentro de UCs e quais ainda estão desprotegidas.
Das 22 espécies nativas do estado do Rio, a pesquisa abrangeu 15, que são as que possuem mais de 10 pontos de localização e boa previsibilidade de modelagem. Dentre as sete espécies deixadas de fora do mapeamento, sobre as quais não há informações suficientes, está a palmeirinha-de-Petrópolis (Syagrus weddelliana), exclusiva da Serra dos Órgãos. A espécie é considerada pelos pesquisadores a que está em situação mais crítica no estado, já que a falta de dados impede até mesmo uma análise preliminar do seu status de conservação.
Atualmente, a Mata Atlântica cobre cerca de 31% do estado do Rio, majoritariamente composto por fragmentos florestais, isolados pelo desmatamento. De acordo com o estudo, o estágio avançado de fragmentação e desmatamento da Mata Atlântica no estado diminui, em média, 50% da área de ocupação possível das palmeiras nativas da região.
Este impacto é maior para espécies com distribuição restrita, como o guriri (Allagopetra arenaria), palmeira típica de restingas da costa brasileira. Atualmente, a espécie ocupa apenas 3% da sua área original no estado. Entre as espécies com maiores distribuições potenciais, como o palmito-juçara (Euterpe edulis), o impacto também é expressivo, com redução de aproximadamente 20%.
Pela modelagem, a maior extensão de alta riqueza de palmeiras estaria no litoral norte do estado, com gradativo aumento de diversidade do interior para a costa. Ao analisar, entretanto, onde estão os remanescentes de vegetação natural, a maior área contígua que resta com abundância de palmeiras está nas florestas no centro do estado, na região da Serra dos Órgãos, com riqueza classificada como média a alta.
Em prol da conservação das palmeiras nativas da Mata Atlântica fluminense, o estudo recomenda que as espécies cujas distribuições potenciais foram reduzidas drasticamente sejam alvo de programas específicos de conservação e que seus habitats sejam protegidos. “De especial importância é o guriri (Allagopetra arenaria), palmeira que ocupa a vegetação de restinga, ameaçada pela ocupação agressiva e desordenada das praias do estado”, alertam os pesquisadores.
Dentre as áreas protegidas, o estudo destaca a importância de dois parques estaduais: da Pedra Branca, no município do Rio de Janeiro, e da Serra da Tiririca, entre Niterói e Maricá. Ambas as unidades de conservação, apesar de inseridas em contextos urbanos, são as que mais contribuem para a conservação das palmeiras no estado. Na Pedra Branca há condições favoráveis para 15 das 22 espécies, enquanto na Serra da Tiririca há registros de 10.
“É necessário que as unidades de conservação que contribuem mais para a conservação das espécies de palmeira do estado do Rio sejam reconhecidas e tenham seu investimento público garantido e, se possível, ampliado. Ademais, é necessário que se incentive a pesquisa e a descrição da flora daquelas unidades para as quais não se tem registros de espécies de palmeiras nativas, apesar de apresentarem as condições ambientais necessárias para a ocorrência dessas espécies”, defendem os pesquisadores.
Entre os parques estaduais dos Três Picos e do Desengano há ainda remanescentes de Mata Atlântica adequados ambientalmente para várias espécies de palmeiras nativas que não estão protegidos, atualmente, por nenhuma unidade de conservação. Os pesquisadores reforçam a importância de, através de ações de restauração, integrar estes fragmentos desprotegidos e criar um corredor florestal estratégico entre os dois parques estaduais fluminenses. A conexão beneficiaria não apenas as palmeiras, mas diversas espécies de plantas e animais.
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