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Pesquisadores explicam aumento das cheias na Amazônia

Ciclos de aumento e diminuição da temperatura dos oceanos afetam chuvas na região. Mas efeitos do aquecimento global também contribuem

Vandré Fonseca ·
19 de setembro de 2018 · 6 anos atrás
Cheia de 2009. Foto: Jochen Schöngart.

Manaus, AM — O aquecimento global está contribuindo para o aumento da frequência e magnitude de cheias na Amazônia. Ao causar mudanças na circulação de águas nos oceanos, o acirramento do efeito estufa tem possibilitado que águas quentes do Oceano Índico cheguem e aqueçam o Atlântico. “Parcialmente temos influência do ser humano nesta história”, afirma o cientista florestal Jochen Schöngart, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). “Essa importação das águas quentes do Oceano Índico para o Atlântico está associado ao efeito estufa”, completa.

Há dois anos, Schöngart organizou um evento em Manaus que reuniu pesquisadores de diversos países para discutir as causas das mudanças climáticas que têm ocorrido nos últimos anos na Amazônia. A partir desse encontro, foram desenvolvidos estudos que resultaram em um artigo publicado nesta quarta-feira na Science Advances, que desvenda as causas de terem sido registradas na Bacia Amazônica cheias maiores e em intervalos menores nos últimos 30 anos.

Com base em registros feitos em Manaus desde 1903, ele verificaram que, no início do século 20, cheias acima da cota de emergência (29 metros) ocorriam somente a cada 20 anos. Agora, são registradas a cada 4 anos. Cinco entre as dez maiores cheias do Rio Negro em Manaus ocorreram a partir de 2008. Em 2012, foi registrada a maior cota até hoje, 29,97 metros, o superou o recorde em anterior. Em 2009, a régua chegou a medir a cota de 29,77 metros. Com o aumento das cheias, a amplitude (diferença entre a cota máxima e mínima) delas também tem crescido. A cota do Rio Negro é uma medida tirada a partir da régua, para comparação com outros anos, que não tem relação com o nível do mar.

Bovinos ilhados na cheia de 2012. Foto: Jochen Schöngart.

Os pesquisadores explicam que a intensidade da estação chuvosa está associada ao comportamento de células de circulação atmosféricas, ou seja, deslocamento de grandes massas de ar. Nas regiões tropicais, essas massas de ar são aquecidas e ganham altitude, carregando grandes quantidades de umidade. Ao resfriarem lá no alto, retornam. No caso específico da Amazônia, as cheias estão associadas à chamada Célula de Walker, que se desloca no eixo Oeste-Leste, levando para a América do Sul massas de ar que estavam sobre o Pacífico e o Atlântico.

Eles concluíram que dois fenômenos naturais são historicamente responsáveis pelas cheias, o resfriamento das águas do Pacífico e o aquecimento do Atlântico. Com a ocorrência concomitante desses dois fenômenos nos últimos anos, mais e maiores cheias estão sendo registradas na região. Além disso, devido a mudanças na ocorrência de ventos ao sul do Trópico de Capricórnio, o Oceano Índico agora também interfere nas chuvas da região.

“Observamos que o cinturão de ventos no Hemisfério Sul ficou em posições de latitudes mais altas (mais ao sul)”, explica Schöngart. “Isso abriu uma porta para que águas quentes do Oceano Índico entrassem pelo Sul da África, aumentando mais as temperaturas superficiais do Atlântico. Com isso, mais importação de águas quentes do Atlântico para a Amazônia”, conclui.

Os autores do estudo lembram que cheias extremas que se prolongam por semanas têm consequências desastrosas, podendo contaminar a água usada por comunidades, espalhando doenças, destruir casas. Atividades econômicas como agricultura e criação de animais também são fortemente afetadas. Schöngart afirma que há uma leve tendência de agravamento das secas nos últimos anos, mas que não é tão evidente quanto às cheias. “Essa tendência não é não é significativa ainda, mas pode mudar no decorrer do tempo”, declarou.

 

Saiba Mais

Artigo: “Recent intensification of Amazon flooding extremes driven by strengthened Walker circulation”.

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