Manaus, AM — Pesquisadores do Instituto Mamirauá, no interior do Amazonas, avaliam o uso de sonares para acompanhar populações de peixes-bois-da-amazônia (Trichechus inunguis). A tecnologia pode, pelo menos em teoria, permitir que pesquisadores identifiquem a presença do animal, mesmo quando está submerso e a distâncias que dificilmente seria visto pelos olhos humanos.
Os estudos haviam começado há seis anos. Após serem suspensos, foram retomados há cerca de dois anos. Ainda está nas fases iniciais, de ajuste de configurações. Os pesquisadores tentam reconhecer as imagens deixadas pelo peixe-boi na tela dos equipamentos.
“A gente tem feito vários experimentos para reconhecer as formas dos animais na tela”, conta a oceanógrafa Miriam Marmontel, pesquisadora do Instituto Mamirauá. “Já está bem clara a imagem produzida pelo boto, a gente já reconheceu ninho de pirarucu e já temos uma ideia do jacaré. Mas o peixe-boi, a gente ainda não sabe a forma que ele aparece”, completa.
O equipamento usado é um sonar de varredura lateral. Ele emite feixes de sons que ecoam ao encontrar uma superfície sólida. Com base no tempo de reflexão, ou seja, o intervalo entre a emissão e o retorno do som, o equipamento é capaz de identificar formas e movimentos. A imagem é mostrada em uma tela de 9 polegadas, equivalente a um tablet. A tecnologia já é usada na pesquisa de peixes-bois marinhos.
Miriam afirma que acompanhou o uso de equipamento em um lago nos Estados Unidos, onde funcionou perfeitamente. Porém, na Amazônia, existem algumas dificuldades. Ela cita os sedimentos na água, que podem estar prejudicando a qualidade da imagem.
Em dezembro, pesquisadores fizeram uma expedição ao Lago Amanã, que dá nome à Reserva de Desenvolvimento Sustentável vizinha à Mamirauá. Lá o sonar foi usado para identificar as áreas de maior profundidade, onde os peixes-bois se refugiam durante a seca. “A intenção é fazer uma figura 3D do fundo do lago, para saber onde são os poços para buscar ali os peixes-bois na seca”, diz Miriam Marmontel.
A pesquisadora do Instituto Mamirauá, Camila de Carvalho, destaca a importância de acompanhar a população da espécie nos rios amazônicos. “Uma das maiores questões, desde o tempo da caça comercial do peixe-boi amazônico, é saber quantos indivíduos restaram e se a população tem se recuperado desde o período da exploração”, afirma.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é uma organização social fomentada e supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A pesquisa é financiada pela Fundação Rufford, do Reino Unido.
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