Apresentado este mês, um relatório do WRI, sigla em Inglês do Instituto de Recursos Mundiais, põe uma lupa sobre cinco tipos de crimes ambientais e suas costumeiras conexões com ilegalidades financeiras, corrupção e atropelo de direitos humanos. Problemas brasileiros são citados.
Conforme o publicado pela ong, baseada em Washington (Estados Unidos), não é possível enfrentar de verdade a mudança do clima, a perda de biodiversidade e a injustiça social sem frear ilícitos como na mineração, extração de madeira, pesca, comércio de vida selvagem e grilagem de terras.
“Esses crimes destroem alguns dos ecossistemas mais cruciais do mundo e geram violência e medo nas comunidades. Eles são complexos e dependem da corrupção em níveis locais e da criminalidade nos sistemas financeiros globais e nas cadeias de suprimentos”, destaca o trabalho.
As complicações brasileiras citadas nas cerca de 80 páginas do relatório incluem, por exemplo, o desmatamento, a apropriação de terras públicas, a exploração criminosa de madeira e ouro, o comércio ilegal ou o uso desmedido de vida selvagem.
O desmatamento na Amazônia brasileira cai desde 2022, mas a degradação florestal bate recordes e a formação de pastagens para a boiada segue como um dos principais motores do desmate ilegal no país, aponta o documento. O crime é muitas vezes associado à tomada de terras públicas.
Um episódio lembrado é do município de São Félix do Xingu (PA), um dos líderes em destruição da Amazônia. Seu prefeito foi acusado de liderar redes para desmatar e grilar, até terras indígenas. O mandatário já foi multado em mais de R$ 7,5 milhões pelo Ibama.
De acordo com o relatório, a exploração criminosa de madeira e seus lucros estimulam o desmatamento e estão frequentemente associados à corrupção e ao crime organizado. As madeiras ilícitas viriam sobretudo de áreas desmatadas para agropecuária.
Quanto à mineração ilegal no Brasil, a análise aponta que ela se expandiu quase 500% em territórios indígenas, entre 2010 e 2020. Conhecida como “capital do ouro ilegal”, a cidade de Itaituba (PA) resiste a esforços governamentais para combater o ilícito.

Sobre o comércio ilegal ou exploração excessiva de vida selvagem, o documento destaca que Brasil, Uganda, Tanzânia, Vietnã e Índia são os países que mais fornecem bexigas natatórias de peixes para países asiáticos, como a China, ou de 58% a 70% do comércio mundial.
Por aqui, a captura e o comércio de vísceras de espécies como a a pescada amarela (Cynoscion acoupa) e a corvina do Atlântico (Micropogonias spp) crescem ao longo das costas norte e nordeste do país, inclusive associadas à pescarias ilegais em áreas protegidas, como mostrou ((o))eco.
Adiante, o relatório da WRI diz que enfrentar crimes ambientais exige estratégias como fortalecer estruturas jurídicas, sanções, abordagens multissetoriais, ferramentas e tecnologias inovadoras, reduzir ilícitos financeiros e corrupção, bem como proteger comunidades rurais e indígenas.
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