Notícias

Quais os problemas brasileiros citados em relatório global sobre crimes ambientais?

Não se enfrentará realmente injustiças sociais, a crise do clima e a perda de biodiversidade sem frear ilícitos em variados setores

Aldem Bourscheit ·
23 de abril de 2025

Apresentado este mês, um relatório do WRI, sigla em Inglês do Instituto de Recursos Mundiais, põe uma lupa sobre cinco tipos de crimes ambientais e suas costumeiras conexões com ilegalidades financeiras, corrupção e atropelo de direitos humanos. Problemas brasileiros são citados.

Conforme o publicado pela ong, baseada em Washington (Estados Unidos), não é possível enfrentar de verdade a mudança do clima, a perda de biodiversidade e a injustiça social sem frear ilícitos como na mineração, extração de madeira, pesca, comércio de vida selvagem e grilagem de terras.

“Esses crimes destroem alguns dos ecossistemas mais cruciais do mundo e geram violência e medo nas comunidades. Eles são complexos e dependem da corrupção em níveis locais e da criminalidade nos sistemas financeiros globais e nas cadeias de suprimentos”, destaca o trabalho.

As complicações brasileiras citadas nas cerca de 80 páginas do relatório incluem, por exemplo, o desmatamento, a apropriação de terras públicas, a exploração criminosa de madeira e ouro, o comércio ilegal ou o uso desmedido de vida selvagem.

O desmatamento na Amazônia brasileira cai desde 2022, mas a degradação florestal bate recordes e a formação de pastagens para a boiada segue como um dos principais motores do desmate ilegal no país, aponta o documento. O crime é muitas vezes associado à tomada de terras públicas. 

Um episódio lembrado é do município de São Félix do Xingu (PA), um dos líderes em destruição da Amazônia. Seu prefeito foi acusado de liderar redes para desmatar e grilar, até terras indígenas. O mandatário já foi multado em mais de R$ 7,5 milhões pelo Ibama. 

De acordo com o relatório, a exploração criminosa de madeira e seus lucros estimulam o desmatamento e estão frequentemente associados à corrupção e ao crime organizado. As madeiras ilícitas viriam sobretudo de áreas desmatadas para agropecuária.

Quanto à mineração ilegal no Brasil, a análise aponta que ela se expandiu quase 500% em territórios indígenas, entre 2010 e 2020. Conhecida como “capital do ouro ilegal”, a cidade de Itaituba (PA) resiste a esforços governamentais para combater o ilícito.

Bexigas natatórias secas à venda na ilha de Lantau, em Hong Kong, um território autônomo no sudeste da China. Elas são usadas especialmente em sopas. Foto: Shankar S/Creative Commons

Sobre o comércio ilegal ou exploração excessiva de vida selvagem, o documento destaca que Brasil, Uganda, Tanzânia, Vietnã e Índia são os países que mais fornecem bexigas natatórias de peixes para países asiáticos, como a China, ou de 58% a 70% do comércio mundial.

Por aqui, a captura e o comércio de vísceras de espécies como a a pescada amarela (Cynoscion acoupa) e a corvina do Atlântico (Micropogonias spp) crescem ao longo das costas norte e nordeste do país, inclusive associadas à pescarias ilegais em áreas protegidas, como mostrou ((o))eco. 

Adiante, o relatório da WRI diz que enfrentar crimes ambientais exige estratégias como fortalecer estruturas jurídicas, sanções, abordagens multissetoriais, ferramentas e tecnologias inovadoras, reduzir ilícitos financeiros e corrupção, bem como proteger comunidades rurais e indígenas.

  • Aldem Bourscheit

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

Leia também

Notícias
18 de outubro de 2024

Presos por crimes ambientais representam apenas 0,04% de todos os encarcerados no país

Congresso tem 90 dias para dizer se aprova projeto do Executivo e autoriza aumento de pena para crimes ambientais. Pena sobe para 6 anos de reclusão

Salada Verde
11 de outubro de 2024

Aplicativo permite a denúncia de crimes ambientais pela população

Além da geolocalização, a ferramenta possibilita que o usuário acompanhe o andamento da denúncia. O aplicativo está disponível para Android e IOS

Salada Verde
19 de setembro de 2024

Garimpo destruiu mais de 13 mil hectares em Unidades de Conservação na Amazônia

Crimes são estimulados por maior valor do ouro, fiscalização fraca e afrouxamento de leis, sobretudo no governo Bolsonaro

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.