O surto de circovírus que atingiu o projeto de reintrodução da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) em Curaçá (BA) suspendeu de vez as solturas de aves previstas para este ano. A doença – sem tratamento – acendeu um alerta sanitário entre especialistas e autoridades públicas.
Onze ararinhas-azuis voando livres foram capturadas este mês para exames quanto à presença do patógeno. Os animais estavam sendo reintroduzidos na Caatinga baiana, sua única morada na natureza mundial, onde haviam sido extintas no início dos anos 2000, por tráfico e desmatamento.
Segundo relatos técnicos, os animais foram apreendidos sem complicações e, logo depois, dos mesmos foram coletadas amostras de penas, de sangue e da cloaca para um diagnóstico. Enquanto os resultados não são conhecidos, segue suspensa a soltura de novos animais.
O alarme para o circovírus soou em abril, quando a doença foi registrada num filhote nascido na natureza, no fim de 2024. Em junho, outras 13 ararinhas cativas, num recinto em Curaçá, testaram positivo. Na época, outras 72 aves no mesmo criadouro e 11 de vida livre ainda não haviam sido testadas.
Como ((o))eco relatou, seria a primeira vez que a enfermidade acomete aves livres da muito ameaçada espécie. Sem tratamento conhecido no mundo, a doença provoca perda de penas, deformação do bico, diarreia e pode ser fatal – inclusive para o projeto de reintrodução.

Diante dos casos confirmados, o ICMBio recomendou a recaptura e testagem de todas as ararinhas em vida livre para resguardar a espécie e conter a disseminação do vírus na Caatinga – pois outros animais podem ser contaminados.
Já a parceira do projeto de reintrodução, a ong Blue Sky, alegou riscos de ferimentos às aves e falta de estrutura para as isolar. Além disso, avaliou que um manuseio excessivo pode comprometer a adaptação e a sobrevivência de animais que recém tinham ganhado liberdade.
A divergência só foi resolvida pela Justiça, que reconheceu, em outubro, o poder de ação do ICMBio sobre o destino da espécie e manteve as capturas previstas, testagens e eventual isolamento como medidas de biossegurança.
Na prática e do ponto de vista internacional, a ararinha-azul segue uma espécie “extinta na natureza”. Afinal, a reintrodução só alterará esse status quando houver uma população livre que não dependa de solturas de aves em cativeiro e outras intervenções humanas para se manter.
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