Um grupo de especialistas brasileiros e americanos se reuniu em São Paulo no início de março para discutir os dois primeiros volumes de uma série de seis do Guia de Campo Wildlife Conservation Society Aves do Brasil. O Guia tem tudo para alavancar o crescimento da observação de aves no país e aprofundar o interesse dos observadores na conservação do meio ambiente.
O Brasil tem uma das mais diversas e atraentes avifaunas do planeta, mas a observação de aves ainda é tratada como uma atividade para iniciados. Um incentivo para aumentar o número de adeptos é um bom guia de campo, ferramenta que países vizinhos como Argentina, Peru e Venezuela já têm. Por aqui, o guia de campo de Deodato Souza, reconhecidamente imperfeito, continua sendo disputado a tapa pelos amantes de pássaros.
Um guia de campo é uma obra de referência que permite conhecer e reconhecer as aves de uma determinada área, país, região, estado ou unidade de conservação. Ele deve ser completo, mas também fácil de usar. Mas a própria biodiversidade brasileira cria um problema. São em torno de 1750 espécies de aves, das quais 228 endêmicas – ou seja, não existem em nenhum outro lugar – e 120 ameaçadas. Seria impossível colocar todas elas em um só volume, especialmente quando o objetivo é fazer um livrinho que cabe no bolso de um casaco.
Mas há excelentes razões para enfrentar esse desafio. A observação de aves cresce a olhos vistos no Brasil. Alguns dos destinos mais populares entre praticantes estrangeiros – como o Cristalino no Mato Grosso, o Serra dos Tucanos e a REGUA no Rio de Janeiro, o Parque do Zizo em São Paulo, só para citar alguns – têm recebido números cada vez maiores de observadores. E do lado brasileiro, iniciativas como o Centro de Estudos Ornitológicos da USP, a lista de discussão BirdWatchingBR e o Avistar Brasil têm gerado repercussão cada vez maior.
A tendência é animadora e indica um bom público potencial para livros sobre o assunto. Inclusive, capazes de mostrar que a atividade de observar pássaros não é um mero passatempo, mas um momento de apreciação da natureza. Portanto, exige conservação.
Esta é a filosofia por trás do grupo de especialistas que se reuniu para planejar o Guia de Campo WCS Aves do Brasil em São Paulo. Os coordenadores são o americano John Gwynne – autor das pranchas que ilustram esta matéria – e a brasileira Martha Argel. Eles contam com a colaboração de gente como Robert Ridgely e Guy Tudor, autores de vários guias e do enciclopédico Birds of South America, do qual já foram publicados os volumes I e II. Do lado brasileiro, participam ornitólogos como Fernando Straube e Dante Buzzetti, entre outros.
O plano da obra prevê seis volumes, cada um deles dedicado a uma região do país. O primeiro, “Brasil Central”, deve ser publicado até o fim do ano. O segundo da série cobrirá a Mata Atlântica e tem publicação prevista para 2008. Vêm na seqüência os volumes Nordeste, Sul, Amazônia Norte e Amazônia Sul. Serão duas edições para cada volume, em português e em inglês.
A preocupação com a conservação do meio ambiente e com a difusão do conhecimento são partes centrais do projeto. Cada volume contará com uma seção dedicada às prioridades de conservação da sua região, ilustrada com fotos e mapas. Essas prioridades partem das definições do Ministério do Meio Ambiente e das “IBAs” – Áreas importantes para a conservação das aves da BirdLife, referência internacional em conservação de aves, e da SAVE, que conduz seus programas no Brasil. Os autores do Guia também tentarão alertar os leitores sobre a importância estratégica de determinadas áreas ricas em aves e ameaçadas de degradação. O objetivo é fazer com que os leitores ajudem a pressionar pela proteção dessas áreas.
Falta pouco para que o projeto chegue às livrarias. O desafio agora é fechar os patrocínios. Produzir um guia de aves não é tão caro, mas atingir o público desejado pelos organizadores requer um certo investimento. A tiragem planejada para as versões em português e inglês é substancial para os padrões do mercado brasileiro. E os organizadores desejam oferecer um preço de capa acessível. Isso implica em necessidade de dinheiro. O pessoal da Wildlife Conservation Society, ONG centenária que surgiu no Zoológico do Bronx, em Nova York, busca apoio no Brasil e no resto do mundo. A meta é ambiciosa, mas o objetivo é nobre.
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