Qualquer frequentador assíduo dos bancos estofados de um táxi sabe que os motoristas gostam de bater um papo sobre a previsão do tempo. É o calor, é o frio, a seca, a chuva. Mas se depender da Confederação Nacional do Transporte (CNT), entidade que congrega os sindicatos patronais do setor, em breve os taxistas vão agregar à conversa algumas boas informações sobre o aquecimento global. Nesta quarta-feira, a CNT deu largada a um amplo programa nacional de formação de motoristas em temas ambientais. Batizada de Despoluir, a iniciativa também pretende controlar as emissões de poluentes da frota de caminhões do país.
Tanto taxistas quanto caminhoneiros farão cursos para se tornarem, nas palavras da confederação “amigos do meio ambiente”. Após o curso, os condutores de táxi vão circular com um banner onde se poderá ler a singela mensagem: “eu sei como diminuir a emissão de CO2 [gás carbônico] do seu carro, me pergunte como?” Ao contrário das mensagens já conhecidas como “perca peso agora etc etc”, o motorista não vai oferecer nenhuma solução mágica (muito menos ervas medicinais), mas sim informação. “O taxista é um formador de opinião, ele vai chamar a atenção do usuário para questões como a inspeção veicular”, pontua o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, cooordenador do Despoluir.
A ação junto aos motoristas de taxi é apenas um dos aspectos do programa. A principal medida a ser adotada pelo setor será o início de uma série de inspeções em empresas de transporte rodoviário de carga. Cinquenta e quatro unidade móveis foram equipadas com um kit de medição da emissão de material particulado de motores a diesel e serão enviadas às federações estaduais. A aferição é feita por um opacímetro ligado ao cano de descarga. Ele consegue detectar através de um feixe de luz qual o grau de opacidade da fumaça; quanto mais negra pior. Os dados são enviados imediatamente a um lap-top, o que pemite um laudo instantâneo. Se as vistorias constatarem emissões acima daquelas permitidas pela resolução Conama 251 de 1999, os técnicos vão recomendar às empresas investimentos em novos equipamentos.
Iniciamente o Despoluir está voltado ao transporte rodoviário, que é responsável por 60% do deslocamento de carga e 95% dos passageiros no país. O próximo passo será combater emissões nos setores ferroviário e aquaviário, conta Batista. Outro ponto que será trabalhado é o incentivo ao uso de biocombustíveis. Por lei, a mistura obrigatória do óleo vegetal no diesel de petróleo será de apenas 2% até 2013. A CNT no entanto acha que é possível, ao estimular a demanda, antecipar metas de mistura mais elevadas, como 5% ou 10%. A Companhia Vale do Rio Doce tem se tornado exemplo neste quesito, pois passará a usar um composto de 20% em suas locomotivas já neste ano.
Queimadas
Batista explica que o Despoluir foi pensado de forma que o setor de transporte possa reduzir sua parcela de contribuição no total de emissões de gases estufa. De acordo com o inventário brasileiro de emissões, realizado em 1994 pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, o segmento de transportes é responsável por 9% da poluição no país. Embora esteja adotando uma estratégia ampla de redução das emissões, a CNT não especificou metas de quanto pretende reduzir os gases estufa no setor. Uma das apostas para que as medidas sejam bem sucedidas será trabalhar com os caminhoneiros autônomos, que hoje no Brasil somam 700 mil. Além das inspeções nas empresas, a confederação vai instalar postos em pontos com grande afluxo de trabalhadores para oferecer aferições de graça.
Uma das vantagens indiretas que surgirá com o programa da CNT será ampliar a base de dados sobre o setor de transporte no país. A confederação já aplica pesquisas para saber a idade e as especificações técnicas da frota brasileira de caminhões. Até mesmo o perfil sócio-econômico dos trabalhadores é melhor conhecido do que as relações entre o meio ambiente e os modos de transporte no Brasil. De agora em diante, relata Batista, as pesquisas da entidade vão conter questões sobre temáticas ambientais.
Os caminhoneiros, assim como os taxistas, poderão se tornar importante fonte de informação para a sociedade, prevê a CNT. Eles também passarão por cursos de formação em questões ambientais e receberão cartilhas. Talvez o papel mais importante que venham a desempenhar seja como vigilantes. A confederação criou um telefone gratuito para que os motoristas alertem o corpo de bombeiros sobre queimadas nas beiras de estrada. Batista afirma que o setor está consciente que desmatamentos e incêndios florestais são a principal causa de emissões no Brasil. “O fogo geralmente começa na beira de estratas e em todos lugares do país há um caminhoneiro passando. Ele pode tornar o combate ao incêndio muito mais rápido”, diz.
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