O capitão-de-cinta (Capito dayi) é uma vistosa ave endêmica da região central da Amazônia, isto é, que só pode ser encontrada nesta parte do globo. O local onde a espécie vive é uma das 237 áreas do Brasil apontadas como sendo importantes para a conservação das aves brasileiras endêmicas e ameaçadas. Por esse motivo, elas mereceriam especial atenção, mas a realidade mostra uma situação bem diferente: dos 94 milhões de hectares identificados como de grande importância, apenas 21% contam com mecanismos de proteção, enquanto 40% estão completamente desprotegidas. Os outros 39% possuem proteção parcial.
Os dados fazem parte de um mapeamento sobre as Áreas Importantes para a Conservação das Aves do Brasil (IBA, na sigla em inglês), divulgado este mês pela organização BirdLife/Save Brasil. Segundo o levantamento, o Brasil é um dos países com maior extensão territorial dedicada a IBAS, número que também reflete a liderança em espécies ameaçadas: são 122 num total de 1.882.
O estudo lançado pela SAVE é a segunda parte de um trabalho de mapeamento que começou em 2006 e que, nesta etapa, identificou as áreas nas regiões da Amazônia, Cerrado e Pantanal. O trabalho mostrou que nos estados do Norte e Centro-Oeste do país existem 74 áreas com requisitos para serem reconhecidas como IBAS, o que representa 82 milhões de hectares. Nelas, espécies importantes podem ser encontradas, como a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) e o pica-pau-da-Parnaíba (Celeus obrieni). Os mecanismos de proteção, no entanto, estão muito aquém do que as regiões precisam: apenas 12 das IBAS identificadas ficam dentro de Unidades de Conservação; 30 estão somente em partes protegidas e 32 não contam com nenhum mecanismo de proteção (veja e infográfico).
Para se chegar a este resultado, 450 áreas foram analisadas, considerando cerca de 700 espécies. Do número de espécies analisadas, 30 são classificadas como globalmente ameaçadas de extinção e 37 quase ameaçadas. As outras 240 são espécies restritas aos biomas estudados ou com área de ocorrência menor do que 50 mil km². Mais de 60 profissionais participaram desta etapa do projeto.
Situação geral
Com a publicação dos dados para as regiões Norte e Centro-Oeste, a SAVE conclui o mapeamento das IBAS em todo o país. Unindo as informações levantadas na primeira parte do projeto – na qual foram identificadas as IBAS dos biomas Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e parte do Cerrado – a organização identificou que 94 milhões de hectares são áreas importantes para a conservação das aves, e conseqüentemente de toda biodiversidade, o que representa 11% de todo o território nacional. Destes, mais de 70 milhões de hectares não estão sob mecanismos de proteção. “Existem muitas propostas de novas unidades de conservação, tanto na Mata Atlântica quando na Amazônia, mas ainda precisamos melhorar muito”, diz Pedro Develey, diretor de Conservação da SAVE Brasil.
Segundo ele, a identificação das IBAS é importante porque, além de funcionarem como direcionamento para a criação de novas unidades, elas servem para reforçar os argumentos de que determinada área é importante. O mapeamento anterior trouxe resultados neste sentido: todas as IBAS da Mata Atlântica, por exemplo, foram incorporadas pelo Ministério do Meio Ambiente no mapeamento de áreas prioritárias para criação de UCs; além disso, a identificação de IBAS ao longo do litoral paulista foi determinante para ampliação de unidades que já existiam por lá, como a Estação Ecológica Juréia-Itatins.
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