Parece mesmo um contrasenso, mas alguns cientistas americanos andaram sugerindo que queimadas controladas, aquelas que são mantidas em níveis baixos e não saem lambendo tudo quanto é mata de uma vez, podem ajudar a reduzir emissões dos incêndios florestais. Uma reportagem do jornalista Douglas Fischer, um dos vencedores do Earth Journalism Awards de 2009, mostra qual é a lógica dessa idéia.
Ela é baseada num estudo publicado na revista Environmental Science and Technology feita pelo Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos Estados Unidos e Universidade do Arizona. Os pesquisadores observaram florestas secas do oeste americano e concluiram que as emissões provienientes de queimadas foram reduzidas a um quarto naquela região. Em algumas florestas, a diminuição das emissões chegou a 60%.
“Se nós reintroduzirmos as queimadas nos nossos ecossistemas, nós podemos proteger árvores maiores e reduzir significativamente a quantidade de carbono liberada na atmosfera nos incêndios de grande porte”, argumenta a pesquisadora Christine Wiedinmyer. Ela acrescenta que a queima de áreas com pouca biomassa, como matas de sub-bosque, protege a vegetação mais densa na medida em que, se o fogo entra em épocas mais quentes e secas, a matéria orgânica ali contida não permitirá que ele “pule” para as áreas com maiores estoques de carbono.
Os autores do estudo lembram, no entanto, que este é um primeiro passo na avaliação de queimas controladas como maneira de aumentar a estabilidade de contenção de carbono de algumas florestas. Variáveis como o intervalo em que se ateia o fogo e eficiência na combustão podem comprometer os resultados, dizem eles.
Os números são na verdade a comprovação de uma estratégia vista ainda como polêmica pelos gestores ambientais brasileiros. Por aqui, conforme entrevista com o ex-coordenador do Prevfogo no Mato Grosso, Rodrigo Falleiro, o manejo do fogo dentro de unidades de conservação, feito com o propósito de reduzir a possibilidade de haver grandes e incontroláveis incêndios em áreas propícias, não é uma questão muito aceita pelas autoridades ambientais. Obviamente a promoção de queimadas controladas não convém em qualquer bioma. É uma estratégia que pode ser muito bem vinda em áreas de Cerrado, por exemplo.
Saiba mais sobre este assunto na segunda parte da série “A trajetória da fumaça”.
Leia também

Decisão de Trump sobre mineração submarina acende alerta global
A medida engrossa a lista de ataques da administração dos Estados Unidos às pautas ambientais de interesse mundial →

Empresa usa documentos falsos na disputa de terras em parque no MT
Testemunhas afirmaram desconhecer qualquer ligação da companhia com a unidade de conservação estadual →

Orçamento para meio ambiente é 11 vezes menor que recurso destinado a emendas parlamentares
Orçamento aprovado na LOA 2025 para pasta do Meio Ambiente e Mudança do Clima cai ligeiramente em relação a 2024. MMA nega que recursos da pasta estejam estagnados →