Londres – “Os empresários ainda não entenderam a questão.” O alerta não vem de ambientalista, mas sim de um dos chefes da maior consultoria do mundo, a PricewaterhouseCoopers.
Diretor-global de Sustentabilidade da firma, Malcom Preston coordenou neste ano uma série de entrevistas com presidentes de grandes empresas em diferentes regiões do mundo sobre a importância da biodiversidade e do serviços ambientais prestados pelos ecossistemas. O resultado: apenas 27% entre os entrevistados consideram que seus negócios correm risco com a perda massiva da biodiversidade.
No mínimo um contrasenso, pondera Preston, pois a maioria das empresas depende de serviços que a natureza presta de graça, como a recarga dos rios pelas matas ciliares ou as chuvas geradas pela transpiração da floresta amazônica, ou ainda o controle de pragas agrícolas e a saúde do solo por insetos e microorganismos. Isso apenas para citar alguns exemplos.
Surpreendentemente, quando vista em perspectiva regional, a pesquisa revela que entre os empresários com menor conhecimento da importância da biodiversidade estão os americanos e os europeus ocidentais – só 14% e 18%, respectivamente. A maior taxa de preocupação com a perda da diversidade natural do planeta foi registrada na América Latina e na África, 53% e 45% dos empresários em cada continente. Talvez um reflexo da maior dependência dos recursos naturais.(veja tabela ao lado)
Os números da pesquisa da PricewaterhouseCoopers fazem parte de um amplo estudo voltado para o setor privado da série “A economia dos ecosssistemas e da biodiversidade” ou TEEB, como é conhecido na sigla em inglês (The economics of Ecossystems and Biodiversity – www.teebweb.org). Lançado na manhã desta terça em Londres durante o 1o Simpósio Global de Negócios e Biodiversidade, o TEEB é um ambicioso projeto liderado pelo economista Pavan Sukhdev que busca criar nova visão sobre o papel da natureza na geração de riquezas ao redor do mundo.
As conclusões apresentadas em Londres não são pessimistas garante Sukhdev. Na verdade, o que existe no momento é um problema de linguagem: os empresários simplesmente não dão importância ao termo biodiversidade. Quando se fala em plantas e animas, as empresas logo pensam em medidas de filantropia, em patrocinar a conservação, conta o economista. “Mas o que estamos tentando fazer é captar os valores econômicos em três níveis, dos serviços prestados pelos ecossistemas, da importâncias das espécies para o ser humano e dos próprios genes, que podem garantir a cura de muitas doenças”, explica Sukhdev.
Escolhas e oportunidades
Quem é Pavan Sukhdev
O economista é um dos mais importantes diretores de fundos de capital do Deutsche Bank e fundados da iniciativa verde dentro do banco. Como um estudioso dos valores econômicos da biodiversidade foi convidado pelo G8 e pela ONU em 2008 para coordenar uma série de estudos, cuja versão completa será lançada em outubro deste ano. |
O relatório TEEB já havia mostrado em 2009 que a perda econômica com a degradação de ecossistemas e redução da biodiversidade– como por exemplo o desmatamento da Amazônia – é responsável por um prejuízo de aproximadamente 44 trilhões de dólares por ano, algo como 3 vezes o PIB dos Estados Unidos. O objetivo da iniciativa, que é financiada por diversos governos do G8 (grupo das nações mais ricas do mundo) é exatamente ser o que foi o Relatório Stern para o problema da mudança climática. Em 2006, o ex-economista-chefe do Banco Mundial, Nicholas Stern lançou um estudo bombástico mostrando que se não agissem agora para interromper o aquecimento global, governantes poderiam perder entre 5% a 20% de suas riquezas num futuro muito distante.
Embora muitas vezes criticado por tentar colocar um preço na natureza, Sukhdev explica que seu trabalho trata mais de mostrar o valor da biodiversidade do que simplesmente achar um preço de mercado para ela. “Gostem ou não, a economia é a moeda da política, onde constantemente estamos fazendo opções”, argumenta. Durante o evento de lançamento, o exemplo mais usado foi o da substituição de manguezais por fazendas de camarão. Olhando por uma lógica estritamente monetária faz sentido botar a abaixo quilômetros de mangue e fazer dinheiro fácil com a produção de camarão. Mas no longo prazo, a falta do mangue diminui a diversidade dos mares (pois atua como berçario de peixes), eventualmente piorando a qualidade de vida das comunidades costeira e até gerando doenças nas áreas de produção. Ou seja, lucro agora, mas prejuízo futuro na certa.
O coordenador do capítulo de negócio lançado neste terça, o economista-chefe da União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN), Joshua Bishop, afirma que, embora neste momento o setor privado esteja arriscando seus negócios ao destruir a biodiversidade, já existem bons sinais de que o futuro pode ser melhor. Por exemplo, produtos agrícolas certificados hoje movimentam um mercado de 40 bilhões de dólares/ano, mas estimativas mostram que em 2050 podem movimentar, 900 bilhões de dólares. Crescimentos também são esperados nos mercados de carbono, pagamentos pelo uso da água, madeira certifica. Para que realmente ocorram, mais incentivos aos ‘negócios-verdes’ são necessários, diz Bishop. “Antes de tudo, temos que parar de dar dinheiro a quem destrói a natureza”, conclui.
Lançamento no Brasil
A série de publicações do TEEB vai continuar até o mês de setembro, quando um sumário para tomadores de decisão será lançado para subsidiar os negociadores que vão à 10a Conferência das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, que ocorrerá em outubro na cidade japonesa de Nagoya.
Sukdhev revela que já acertou os detalhes com o ministra do Meio Ambiente, Isabella Teixeira, para que o Brasil tenha um capítulo específico no estudo da economia de sua biodiversidade e seus ecossistemas. O versão brasileira está marcada para ser lançada no dia 19 de setembro em um evento em Curitiba, com apoio da Fundação Avina e da ONG Global Canopy Programme. Já Confederação Nacional da Indústria (CNI), presente nesta terça no lançamento do capítulo de negócios do TEEB, anunciou que vai realizar um seminário no Brasil também em setembro voltado ao empresariado brasileiro e com um versão traduzida dos dados apresentados hoje em Londres.
A perspectiva das empresas
Fazer o empresariado entender a importância da biodiversidade é realmente um desafio. Este foram os casos contados por representantes de duas grandes empresas presentes no lançamento do relatório TEBB-Business. O vice-presidente para Sustentabilidade da Univeler, Gavin Neath, explicou que a dificuldade principal da empresa é quantificar os resultados das medidas de cuidado com a biodiversidade. “Para um gerente da áreas de refrigerantes é fácil entender a importância de água limpa, mas não tão fácil entender a influência de algumas plantas raras no meio da floresta”. O chefe de Meio Ambiente da Royal Caribbean Cruises, Jamie Sweting, explicou que uma das formas que ele tem avançado na introdução do tema da biodiversidade em sua empresa é no planejamento de novo investimento. Como umas das maiores empresas de turismo do mundo, a Royal Caribbean está olhando para qual seria o impacto de perder ambientes de beleza cênica sobre os seus negócios. Um grande navio-cruzeiro requer um investimento de 1,4 bilhão de dólares e funciona por até 30 anos.”Se as paisagens e praias visitadas por nossos cruzeiros desaparecerem, nós ficaremos no prejuízo, por isso estamos olhando para os ecossistemas”, disse Swetting. |
(Gustavo Faleiros)
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