O Cerrado e na Mata Atlântica são os biomas que mais espécies possuíam, embora seja comum associar um mandacaru a qualquer imagem da Caatinga. As cactáceas, no entanto, estão presentes em todos os biomas encontrados no Brasil. Na Caatinga, são comuns, inclusive na beira das estradas que ligam o litoral ao sertão e sob a placa vende-se.
São cerca de 30 barracas na BR-232, no trecho entre Serra Talhada e Custódia, em Pernambuco (essas barracas são encontradas também em outras estradas e em outros estados nordestinos). Os vendedores são gente simples da região que mantém as barracas como fonte de renda alternativa à agricultura. Moram perto da rodovia e retiram os cactos dali mesmo, alugns das serras próximas. Algumas dessas espécies estão presentes na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, como o quipá (Tacinga inamoena) e a palmatória (Tacinga palmadora). Nas barracas, também se encontra o rabo-de-onça (Arrojadoa rhodantha), mandacaru (Cereus jamacaru), rabo-de-raposa (Harrisia adscendens), coroa-de-frade (Melocactus zehntneri), facheiro (Pilosocereus pachycladus) e xique-xique (Pilosocereus gounellei).
São vendidos de cinco a dez cactos por mês em uma das barracas (3.500 a 7.000 plantas por ano). Os preços vão de acordo com o tamanho dos cactos e podem variar de R$ 2,00 a R$ 10,00 para as coroas-de-frade, R$ 10,00 a R$ 30,00 para os cactos colunares (xique-xique, mandacaru e facheiro) e de R$ 5,00 a R$ 15,00 para as palmas (quipá e palmatória).
Os cactos não são cultivados e, os próprios vendedores revelam, até mesmo as espécies colunares (como o mandacaru, facheiro e xique-xique), que podem permanecer vivos após a retirada de um braço (ramo), são derrubados. O pesquisador Marcos Vinicius Meiado, do Laboratório de Sementes (LAS) da Universidade do Vale do São Francisco, atesta. “Não existe manejo sustentável dessas espécies que têm apelo comercial”. E pode ser ainda pior. ”Algumas plantasm como a coroa-de-frade, quipá e palmatória são retiradas integralmente da natureza (o indivíduo todo)”, relata.
Um ecossistema tem um equilíbrio a ser preservado, ensina Marcos Meiado. “Todos os cactos da Caatinga produzem frutos com polpa, que são utilizados como recurso alimentar para a fauna local, principalmente na estação seca”, conta. Outro aspecto na vida dos cactos é que o seu ciclo de vida cactos é lento e demoram décadas para que um cacto chegue à idade reprodutiva.
O quadro é ruim e pode ser pior. “Existem alguns estudos feitos com cactos de outros ecossistemas que demonstram que é necessária a produção de mais de 10 milhões de sementes pra que estas germinem e uma única planta consiga chegar à idade adulta”, relata o professor da Univasf. Dessa forma, a retirada desses indivíduos das áreas naturais, mesmo que não sejam retirados na sua totalidade, pode trazer prejuízos de médio em longo prazo.
A violência contra a natureza é encontrada perto e longe dessa mãe de todos nós. Bem, bem distante do sertão seco, na temperatura do ambiente onde você está lendo essa reportagem, na boa (e má) web, também é possível se encontrar diferentes sites, nacionais ou estrangeiros, com cactos à venda. Nem todas as espécies são nacionais, algumas exóticas mexicanas são populares (e até mesmo cultivadas para esse fim). Esse mercado revela o grande interesse que esses exemplares que gostam de água, com parcimônia, despertam.
Todos interessados em uma família com cerca de 1.300 espécies. A exceção da Rhipsalis baccifera, todas as outras espécies são americanas. O Brasil abriga o terceiro centro de diversidade das cactáceas, depois do México e do sul dos Estados Unidos, da região andina que inclui a Bolívia, a Argentina e o Peru. O Brasil possui 184 espécies encontradas apenas em nosso territória. As regiões com maior diversidade, no Brasil, são Bahia e Minas Gerais, além do Sul do Rio Grande do Sul.
Saiba mais:
Plano de Ação Nacional para a Conservação das Cactáceas
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