Reportagens

Aprovado o novo Código Florestal no Senado

Com 7 votos contra, o texto de Jorge Viana, que substitui o Projeto de Lei da Câmara (PLC30/2011), segue de volta aos deputados e, depois, para a sanção presidencial.

Daniele Bragança · Gustavo Faleiros ·
7 de dezembro de 2011 · 13 anos atrás
Jorge Viana (PT-AC) debate com Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) durante plenário de votação do PLC 30/2011, que altera o Código Florestal (foto:: José Cruz/Agência Brasil)
Jorge Viana (PT-AC) debate com Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) durante plenário de votação do PLC 30/2011, que altera o Código Florestal (foto:: José Cruz/Agência Brasil)
Após mais de um ano de disputa intensa no Congresso, o Senado Federal aprovou a alteração do Código Florestal Brasileiro, lei que vigora desde 1965. O texto, que substitui o Projeto de Lei da Câmara (PLC30/2011), segue de volta aos deputados e depois, para a sanção presidencial. Ele poderá receber pedidos de alteração no plenário da Câmara. No entanto, o documento base, advindo do relatório do senador Jorge Viana (PT-AC) na Comissão de Meio Ambinete foi aprovado com 54 votos a favor e 7 contra. Quase todos os partidos orientaram em favor da aprovação. Apenas o PSOL rejeitou o acordo.

                            +Código Florestal: lista de quem votou “sim” ou “não”

A proposta de Viana consolida áreas previamente desmatadas ao mesmo tempo que introduz novos incentivos econômicos para o reflorestamento de áreas de preservação permanente, em especial as matas ciliares. Além disso, traz novas regras para áreas verdes em espaços urbanos incluindo um mínimo de espaço por habitante.

O projeto aprovado foi comemorado pela bancada ruralista, pois entre seus principais pontos, permite a continuação de atividades econômicas em zonas ecologicamente sensíveis. O maior benefício foi dado aos pecuaristas que poderão deixar de recuperar 44 milhões de hectares de pastagem em morros com mais de 45º e nas margens dos rios. Tanto em relação à reserva legal e às APPs fixou-se a medida de 4 módulos fiscais em todo país como base de isenção.

Votação

Líderes das bancadas reunidos com os relatores da proposta do novo Código (foto: José Cruz/Agência Brasil)
Líderes das bancadas reunidos com os relatores da proposta do novo Código (foto: José Cruz/Agência Brasil)
Viana foi elogiado por todos os deputados que pediram a palavra, que reafirmaram durante toda a discussão que o Código votado era é um fato positivo para a legislação ambiental do país. A queda do desmatamento foi citada mais de uma vez como um fato que corroborava a tese de que o novo Código Florestal vai possibilitar a harmonia entre produção e conservação. Blairo Maggi (PR-MT) e Kátia Abreu (PSD-TO) enalteceram a redução na taxa oficial. “É o menor desmatamento em 24 anos”, repetiu 3 vezes a senadora.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, compareceu no plenário durante a votação e recebeu elogios como uma das principais arquitetas do acordo entre governo e maioria no Senado.

Em discurso na tribuna, Viana disse que seu relatório foi feito em colaboração com diversos senadores. Mas destacou a participação do senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), ex-governador de Santa Catarina, que em sua gestão aprovou um código estadual até hoje contestado no Supremo Tribunal Federal.

“Eu aprendi a lidar com a questão ambiental com Chico Mendes. Chico Mendes ao contrário do que muitos pensam não era um radical, era um exímio negociador. Foi no Acre que surgiu a primeira reserva que uniu produção com conservação”, disse Viana, que continuou em discurso inflamado: “Esse novo Código Florestal vai fazer o Brasil passar a contabilizar o quanto de floresta está sendo recuperada no ano”. Em outro momento garantiu que o projeto “não dá trela para à ilegalidade.”

Mas não foi bem isso que entendeu a solitária oposição do PSOL. Durante a votação, a senadora Marinor Brito, do PSOL do Pará, acusou a proposta aprovada de incentivar o “desmatamento desenfreado”. Seu colega de partido, Randolfe Rodrigues, do Amapá, disse que admitia a derrota, mas acusou o Senado de produzir um “falso consenso”.

Apesar da ser o PSOL o único partido a orientar contra a aprovação, 7 senadores de partidos variados votaram contra (veja a lista). O senador Marcelo Crivella (PRB/RJ) seu discurso mencionou a flexibilização para ocupação de APPs como fator negativo para populações sob risco nas cidades. Lindembergh Faria (PT-RJ) criticou a medida de 4 módulos fiscais e a permissão para recomposição de matas através de compensações em outros biomas.

Emenda do desmatamento zero

Muitas emendas que alteravam o texto da Câmara, relatado por Aldo Rebelo e considerado permissivo, não foram aceitas por Viana, que alegou desrespeito ao regimento da Senado. Apenas quatro delas foram levadas à discussão.

O senador Randolfe Rodriguez conseguiu derrubar proposta de Romero Jucá (PMDB-RR) que facilitava a redução das reservas legais em estados com mais de 65% de unidades de conservação. Segundo Rodriguez isso apenas prejudicaria o Amapá, o único estado com percentual superior aos 65% em todo país.

A emenda que de fato foi consenso entre senadores foi a apresentada por Valdir Raupp (PMDB-RO) e criou o prazo de 10 anos para moratória de novos desmatamentos. Sejam legais ou ilegais.

Mas os senadores rejeitaram proposta de Demóstenes Torres (DEM-GO) de aumentar as penas para aqueles que desrespeitem as novas regras.

  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

  • Gustavo Faleiros

    Editor da Rainforest Investigations Network (RIN). Co-fundador do InfoAmazonia e entusiasta do geojornalismo. Baterista dos Eventos Extremos

Leia também

Podcast
18 de novembro de 2024

Entrando no Clima#37- Brasil é escolhido como mediador nas negociações

Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil, que realiza a reunião final do G20 na segunda e terça-feira (18 e 19), mas isso não ofuscou sua importância na COP29. O país foi escolhido pela presidência da Cúpula do Clima para ajudar a destravar as agendas que têm sido discutidas na capital do Azerbaijão,

Notícias
18 de novembro de 2024

G20: ativistas pressionam por taxação dos super ricos em prol do clima

Organizada pelo grupo britânico Glasgow Actions Team, mensagens voltadas aos líderes mundiais presentes na reunião do G20 serão projetadas pelo Rio a partir da noite desta segunda

Notícias
18 de novembro de 2024

Mirando o desmatamento zero, Brasil avança em novo fundo de preservação

Na COP29, coalizão de países com grandes porções florestais dá mais um passo na formulação de entendimento comum sobre o que querem para o futuro

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.