As árvores da Mata Atlântica brasileira estão tentando fugir da elevação das temperaturas provocada pela crise climática global, demonstra um estudo pioneiro publicado esta semana na revista científica Journal of Vegetation Science.
Lideranças políticas mundiais prometeram, em 2015, agir para limitar o aumento da temperatura média planetária em 1,5 ºC, em comparação às taxas pré-industriais. Todavia, topamos com um aumento de 1,52 ºC entre fevereiro de 2023 e janeiro deste ano.
Frear o calorão evitaria prejuízos ainda piores do aquecimento global, como novas tragédias similares à que se abateu este ano sobre o Rio Grande do Sul e a aceleração das perdas de biodiversidade, das variadas formas de vida interagindo em ambientes naturais.
O abrasamento ameaça a saúde e a vida sobretudo de quem não pode se abrigar ou fugir. Animais têm vantagens naturais, se deslocam mais facilmente do que as plantas. Todavia, mesmo essas já ensaiam um “sebo nas canelas” tentando driblar a crise climática.
A pesquisa publicada nesta terça (23) revela que a maioria das árvores avaliadas em montanhas na Mata Atlântica brasileira está migrando morro acima buscando temperaturas mais agradáveis para sobreviver.
“O preocupante é que espécies adaptadas às temperaturas mais frias correm risco de extinção à medida que o mundo continua a aquecer”, alerta Rodrigo Bergamin, pesquisador da Universidade de Birmingham (Reino Unido) e principal autor do estudo.
“Espécies de altitudes mais altas são geralmente mais sensíveis à temperatura e, aquelas que precisam de frio, têm menor poder de competir com espécies que preferem temperaturas mais quentes”, detalha Sandra Müller, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coautora do estudo.
Mas, enquanto a maioria das árvores escala as montanhas, em florestas de baixa altitude elas descem a ladeira. “O porquê ainda é um mistério para nós, mas nossa hipótese é que essa migração esteja sendo causada por mudanças na competição entre espécies”, diz Rodrigo Bergamin.
Para alertar sobre como a crise climática pode bagunçar a composição da flora nativa, os pesquisadores avaliaram 627 espécies de árvores em 96 diferentes pontos de Santa Catarina. A pesquisa buscará agora um cenário geral de como as florestas do bioma respondem às alterações do clima.
“Esse passo é fundamental para conservá-la [a Mata Atlântica]”, avalia Adriane Esquivel Muelbert, professora associada da Universidade de Birmingham e coautora do estudo.
A Mata Atlântica é uma das regiões naturais mais ricas em formas de vida no mundo e, no Brasil, se estende do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul e pelo interior do país até o Paraguai e a Argentina.
Também assinam o artigo cientistas ligados às universidades Regional de Blumenau (SC), Federal de Goiás (GO), de Évora (Portugal) e do brasileiro Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).
*Com informações da Gerência de Comunicação da Universidade de Birmingham.
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