Sete regiões da Mata Atlântica concentram as áreas habitadas pelo maior felino das Américas, que está criticamente ameaçado de extinção no bioma. Uma dessas regiões, na Serra do Mar localizada no Paraná, atualmente possui dez indivíduos, sendo nove adultos – seis machos e três fêmeas – e um filhote, monitorados pelo projeto de Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar. Os pesquisadores consideram que as onças usam a área para patrulhamento e reprodução.
“O registro anual dos mesmos indivíduos, nas mesmas áreas, revela que eles não estão apenas passando pelo local, mas ocupando essa região. Com isso, podemos classificar que é uma população de onças com potencial reprodutivo. Ainda é muito cedo para afirmarmos sobre a tendência da população. A expectativa mais otimista é de que ela cresça em um futuro próximo, desde que a pressão de caça por perseguição e retaliação sobre a onça e suas presas sejam reduzidas”, analisou Roberto Fusco, coordenador técnico do Programa e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).
O primeiro registro da espécie na região foi feito em 2018 e até 2022, o monitoramento já havia apontado a presença de 10 indivíduos. Os registros foram obtidos por 93 estações com armadilhas fotográficas, uma das metodologias utilizadas na pesquisa em campo que possibilitam análise científica das imagens.
O projeto, apoiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e WWF-Brasil, também capturou vídeos que permitem acompanhar alguns comportamentos das onças-pintadas na natureza, como o de comunicação entre os indivíduos, de relaxamento, de marcação de território e até mesmo de maternidade, com mãe e filhote.
A presença dessa população amplia em 9% a área de ocupação da onça-pintada na Mata Atlântica e 46,9% na Serra do Mar, o que torna a região a maior área prioritária para a conservação dessa espécie no bioma, de acordo com um estudo do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar divulgado na revista científica Oryx e publicado pela universidade britânica de Cambridge.
Menos de 300 indivíduos habitam a Mata Atlântica.
Além das armadilhas fotográficas, os pesquisadores também registraram vestígios de pegadas e entrevistas com moradores de comunidades rurais, que indicam as áreas com um potencial de presença do animal. A pesquisa pela ocorrência das onças no estado do Paraná foi feita em 6.500 quilômetros quadrados de floresta. Ainda segundo o pesquisador Roberto Fusco, embora essa população seja essencial para a conservação da espécie na região, ela é considerada pequena em comparação ao tamanho da floresta. “Há locais na Serra do Mar do Paraná onde o animal não foi registrado, nem há sinais de sua presença”, disse.
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