
Talvez pelo seu tamanho avantajado, visual peculiar (corpo de porco, cascos de boi, orelhas de cavalo e focinho de elefante) e por ser um pouco desastrada, a anta-brasileira (Tapirus terrestris) recebeu no Brasil uma fama de ter pouca inteligência. Quem nunca ouviu a frase ‒ ou até foi alvo dela ‒ “Você é uma anta”? Se engana, no entanto, quem pensa assim. Ao contrário, com uma enorme concentração de neurônios em seu cérebro, a anta tem memória comparável a de um elefante. É um animal extremamente inteligente.
Alcançando até 1,20 m de altura, 2 m de comprimento e 300kg, a tapir ‒ como também é conhecida ‒ é o maior mamífero terrestre nativo da América do Sul. Seu habitat são as florestas e campos da América do Sul, do leste da Colômbia até o norte da Argentina e Paraguai. Aqui, são mais encontradas nas áreas próximas aos rios Paraná e Paraguai, no Pantanal, na bacia do rio da Prata e na bacia do rio Amazonas. Sempre se mantém próximas aos rios porque, excelente nadadora, é neles onde busca refúgio de predadores, como onças-pintadas e onças-pardas. Se não há água, corre abrindo caminho pela mata fechada, derrubando desastradamente pequenas árvores e arbustos que aparecem pela frente.
Com todo este tamanho, natural que tudo na anta seja excessivo: um herbívoro de hábitos noturnos, ela chega a ingerir de oito a nove quilos por dia de uma grande variedade de gramíneas, folhas, sementes, frutos e outros tipos de vegetação; animal tipicamente solitário, precisa de extensas áreas para viver, território que demarca com a urina.
Para as fêmeas, o período de gestação dura aproximadamente de 390 a 400 dias (13 meses!), com intervalo entre concepções de cerca de 24 meses, nascendo apenas um filhote por vez. E muito ainda há para se descobrir sobre esse animal, trabalho empreendido por entidades como o Tapir Specialist Group, que se dedica à sua preservação e estudo.
Pela lista vermelha da IUCN, a Tapirus terrestris é classificada como vulnerável. Embora não seja considerado animal ameaçado de extinção pelo IBAMA, a anta perde áreas de habitat com a devastação de florestas e matas, pela competição com áreas de pecuária e com a caça ilegal para alimentação e esporte. O ciclo reprodutivo lento faz com que populações reduzidas por quaisquer razões tenham poucas chances de reestabelecimento. A população de antas sofreu uma redução de cerca de 30% nas últimas 3 décadas e, estudos sugerem que, nada sendo feito, o decréscimo poderá continuar pelas próximas três. Uma perspectiva alarmante, se considerada a importância do animal para o bioma: como uma verdadeira “jardineira das florestas”, seu processo metabólico permite, por meio de suas fezes, a dispersão natural de sementes pelo terreno, tornando fértil o solo das longas distâncias que percorre.
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