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Floresta de Zárate, conservação pela mão de 150 camponeses

No Peru, perto de Lima, uma comunidade campesina aposta em ecoturismo na luta para preservar 900 hectares de uma mata rara e biodiversa.

9 de abril de 2012 · 13 anos atrás
  • Maria Tereza Jorge Pádua

    Engenheira agrônoma, membro do Conselho da Associação O Eco, membro do Conselho da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Nat...

Maria Tereza e Antônio Brack, cientista e ex-ministro de meio ambiente do país
Maria Tereza e Antônio Brack, cientista e ex-ministro de meio ambiente do país
Floresta na neblina

“A pergunta é porque os camponeses, que sob qualquer ângulo são pobres, chegaram ao ponto que estão, de criar nas suas terras uma área de reserva no bosque de Zárate, com centro de visitantes, acesso novo, guardas, trilhas e tudo o mais que parece necessário.”

A floresta de Zárate é remanescente do que há séculos era uma ampla formação vegetal que se localizada entre 2.750 e 3.200 metros de altitude, no flanco ocidental dos Andes Centrais do Peru. A pergunta é porque os camponeses, que sob qualquer ângulo são pobres, chegaram ao ponto que estão, de criar nas suas terras uma área de reserva no bosque de Zárate, com centro de visitantes, acesso novo, guardas, trilhas e tudo o mais que parece necessário. Será que o fator motivador desta decisão foi à perspectiva de que a área vá atrair o ecoturismo e que disto eles obterão benefícios que compensem as variações de preço do carmim?

A resposta não é simples, pois o local já foi proposto como parque nacional desde 1964, pelo famoso casal de zoólogos alemães, Hans e Maria Koepcke, que morreram em um acidente de avião na Amazônia em que a única sobrevivente foi a filha deles, Juliana, cuja extraordinária aventura para sobreviver no mato deu motivo a um filme http://en.wikipedia.org/wiki/Juliane_Koepcke . Em 1978, outro cientista, o botânico Ramón Ferreyra também sugeriu uma unidade de conservação na região. Em 1988, Bárbara D’Achille, a famosa jornalista assassinada pelo Sendero Luminoso que se dedicava a temas ambientais, também emitiu sua opinião de que a área deveria ser protegida. Em 2004, a ONG ProNaturaleza se preocupou em proteger a área e, finalmente, em 2009 a área apareceu como proposta concreta no Plano Diretor de Áreas Naturais Protegidas do país.

Vsita do Bosque de Zárate
Vsita do Bosque de Zárate
Ecoturismo desenvolvido por Campesinos

“Me pergunto como é possível que 150 agricultores rurais pobres, que obviamente procuram manter os recursos hídricos, podem dar tanto valor a um ecossistema único e em vias de desaparecer.”

A proximidade de Lima faz com que os camponeses proponham desenvolver o ecoturismo. O acesso ao local é feito pela saída no quilômetro 56 da Carretera Central, à altura do povoado de San Bartolomé a margem esquerda do rio Rimac. A estrada construída pelos camponeses irá até o centro de visitantes, que já está em final de construção. Restarão apenas 6 km de agradável caminhada para se chegar até a floresta. Porém existe uma estrada alternativa, um pouco mais longa, que leva até o mesmo bosque, para aqueles que tenham dificuldade em andar em altitude.

O ecoturismo pode ser um sucesso, pois além da rica paisagem da região e da beleza especial dos seus últimos bosques nublados, dos quais resta apenas 10% da área original, a floresta de Zárate já é bem conhecida pela sociedade educada de Lima.  São muitos os campistas e outros amantes da natureza que já visitaram o lugar. O centro de visitantes é de primeira classe. O local oferece aos frequentadores a oportunidade de apreciação de vistas alucinantes e de observação da flora e fauna silvestres que ocorrem na região protegida. A lista é longa e variada e vai do puma, gato montês, zorro andino, veado campeiro, vizcacha, didelphis, condor e, com sorte, até ao urso de óculos. Entre as espécies endêmicas da região estão a cotinga e a andorinha. Da flora nativa, encontra-se o mamão (Carica candicans), duraznillo, pruna rígida e duas espécies de tomate. E novas descobertas continuam a acontecer.

No fim me pergunto como é possível que 150 agricultores rurais pobres, que obviamente procuram manter os recursos hídricos, podem dar tanto valor a um ecossistema único e em vias de desaparecer. Gastam recursos próprios ou de captação para ter uma infraestrutura e um acesso adequados, jogando uma última partida que aposta na melhoria de suas vidas através do ecoturismo, isso em um país que já oferece enormes atrações para o turismo receptivo.

Só posso torcer para que o esforço de pessoas como Brack e sua senhora Cecília, ou outros professores universitários, façam esforços ainda maiores para promover a ACP do Zárate, e que esta iniciativa prospere para o benefício de todos nós. Além disso, também farão uma merecida homenagem aos grandes ambientalistas que tanto lutaram pela região como os Koepcke e Bárbara D`Achille.

Urso de Óculos
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Condor
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Zorro andino
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