O melhor presente de aniversário para o Parque Nacional do Iguaçu, que completou 66 anos no dia 10 de janeiro, não é tão visível quanto seus novos atrativos turísticos: um mirante, uma trilha ecológica e uma praça. Mas é muito mais importante.
Uma pequena revolução está em curso na área do entorno do Parque. Ano após ano, intensifica-se um amplo trabalho de educação ambiental junto às 14 cidades vizinhas, numa interação pouco vista nas unidades de conservação brasileiras. Esse trabalho já conseguiu mudar, senão os objetivos, pelo menos os métodos de quem defende a reabertura da Estrada do Colono, uma das mais acirradas disputas ambientais do país.
A Associação de Integração Comunitária Pró-Estrada do Colono (Aipopec), liderada por políticos e fazendeiros da região, ainda luta pela reabertura da estrada de 17 km que corta o Parque Nacional, mas já não conta com tanto apoio popular. Prova disso foram as eleições municipais de 2004. Pela primeira vez, a Estrada do Colono não foi alardeada como bandeira eleitoral pelos candidatos nas cidades do entorno do Parque. Ainda assim, os candidatos mais envolvidos com a causa – o deputado federal Irineu Colombo e os ex-prefeitos Walter Steffen (de Capanema) e Luiz Suzuke (de Medianeira) – foram derrotados nas suas bases eleitorais. Nilvo Perlin, ex-prefeito de Serranópolis do Iguaçu, não conseguiu a reeleição.
Inaugurada em 1950, a estrada, que liga Capanema a Serranópolis do Iguaçu, foi interditada pela pressão de ambientalistas em 1986 e assim permaneceu por dez anos. Em 1996, foi reaberta à força por invasores, que chegavam a cobrar pedágio dos cerca de 300 veículos que trafegavam por dia em pleno Parque Nacional. A invasão levou a Unesco a ameaçar o Brasil com a cassação do título de Patrimônio Natural da Humanidade concedido a Iguaçu. A Justiça acabou ordenando o fechamento da Estrada do Colono em outubro de 2004.
Ainda na ressaca da derrota eleitoral, o último encontro da Aipopec, em janeiro, não foi muito concorrido. Embora todos os prefeitos da região tenham sido convidados, apenas dois compareceram: Milton Kafer, de Capanema, e Elias Carrer, de Medianeira. O resultado da reunião revela que a entidade começa a se desvencilhar do extremismo que sempre a caracterizou. A Apoipec decidiu parar de promover invasões ao Parque como estratégia de pressão. Promete agora ser mais política. Segundo a imprensa local, sua nova bandeira de luta será um projeto do professor Célio Claret, que prevê a construção de um ecoviaduto de quase 20 quilômetros de extensão. O projeto, que já foi apresentado ao Ibama, estima em 35 milhões de dólares o custo da obra, e mais 65 milhões em programas de recuperação ambiental no entorno do Parque. “Está surgindo uma proposta que vai agradar a todos sem a necessidade de novos conflitos”, declarou Milton Kafer para a Gazeta do Paraná.
A mudança de mentalidade da população que convive com o Parque Nacional do Iguaçu pode estar associada ao crescente investimento em ações de proteção, pesquisa e educação ambiental nos municípios das regiões oeste e sudoeste do Paraná. A chave para a transformação foi a privatização da exploração turística do Parque, desde 1998 administrada pela Cataratas S/A. Liberados de se preocupar com a gestão do enorme fluxo de visitantes, os técnicos do Ibama, liderados pelo chefe do Parque, Jorge Pegoraro, podem se dedicar a tarefas genuinamente ambientais.
A sensibilização da vizinhança é uma delas, e a Escola-Parque é o principal instrumento desse trabalho. Em 2003, atendeu 14 mil pessoas e no ano seguinte 24 mil, a maioria estudantes e professores de escolas públicas. Eles participam de cursos e palestras, percorrem trilhas, fazem oficinas, organizam gincanas e concursos, conhecem os animais, árvores, plantas, rios, lagos, enfim, descobrem o Parque Nacional e a natureza do entorno.
A bióloga mato-grossense Valéria Casale coordena a escola e explica que as atividades se estendem aos zôos, estações de tratamento d’água, hortos e plantio de culturas próximas ao parque. Em Foz do Iguaçu, os projetos educativos resultaram na confecção de mapas, maquetes, visitas ao aterro sanitário, plantio de mudas nas nascentes dos rios – parte deles assoreados e poluídos – e até na escolha, através de voto, dos nomes dos rios.
Projetos similares foram realizados nas cidades de Matelândia, Vera Cruz do Oeste, Ramilândia, Lindoeste, Santa Terezinha de Itaipu, Serranópolis do Iguaçu, Medianeira, Capanema, São Miguel do Iguaçu e Céu Azul. Em Matelândia, os estudantes e professores fizeram passeatas ecológicas de sensibilização para a reciclagem do lixo e cuidados com o Parque Nacional. Em Lindoeste e Santa Terezinha de Itaipu foram feitos plantios de mudas para recuperação das matas ciliares e nas nascentes dos rios que cruzam o Parque Nacional. Em São Miguel do Iguaçu, os estudantes desenvolveram o projeto Memória Viva, entrevistando ex-moradores do Parque e coletando fotos, objetos e documentos. O trabalho resultou numa exposição itinerante que percorreu as escolas da região.
Em março de 2005 começa a segunda edição do curso de formação “Educação Ambiental no Processo Educativo”, dirigido a 200 professores das 14 cidades do entorno do Parque. Em 120 horas de curso, eles receberão aulas teóricas e práticas de temas que incluem educação ambiental, legislação, resíduos sólidos, recursos hídricos, fauna e flora, unidades de conservação, oficinas de reaproveitamento de materiais e elaboração de projetos.
Valéria Casali diz que já houve uma mudança de visão das comunidades em relação ao parque. “Os moradores estão buscando cada vez mais informações sobre o Parque Nacional do Iguaçu. Isso é um bom sinal”, aponta Valéria. Dinheiro não deve ser problema para dar continuidade às ações. A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) anunciou que vai destinar 2,4 milhões de reais para projetos ambientais no entorno do Parque até 2007.
* Zé Beto Maciel é editor do portal www.h2foz.com.br.
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