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Newsletter O Eco+ | Edição #147, Maio/2023

O Menino, o bioma exclusivamente desconhecido e um agudo recorte

Newsletter O Eco+ | Edição #147, Maio/2023

13 de maio de 2023

“Acabamos de ter os oito anos mais quentes já registrados, embora tenhamos tido um resfriamento de La Niña nos últimos três anos e isso funcionou como um freio temporário no aumento da temperatura global. O desenvolvimento de um El Niño provavelmente levará a um novo pico no aquecimento global e aumentará a chance de quebrar recordes de temperatura”, disse o Secretário-Geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Prof. Petteri Taalas, no comunicado intitulado “Prepare-se para o El Niño”. De acordo com a  Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), agência estadunidense do clima, há 90% de chances de o fenômeno El Niño ocorrer com intensidade no segundo semestre deste ano. Ele se manifesta principalmente no aquecimento das temperaturas da superfície do Oceano Pacífico na região equatorial e na redução dos ventos nesta mesma região. Com a modificação do padrão de circulação atmosférica, o El Niño também muda a distribuição de chuvas e altera a temperatura em várias partes do planeta. A reportagem de Cristiane Prizibisczki mostra que, para a Amazônia, isso pode significar uma temporada intensa de incêndios, com cenários devastadores.

“A Constituição foi escrita em 1988. A visão que se tinha de conservação estava relacionada a combater o desmatamento da Amazônia, Mata Atlântica, o Pantanal também tinha muita visibilidade. Mas não tem nenhuma razão para a Caatinga não ter entrado nessa lista, a não ser um lapso, uma visão equivocada do bioma”, comenta Roberta del Giudice, secretária-executiva do Observatório do Código Florestal (OCF). Pela Constituição Federal, a Caatinga não é considerada um patrimônio nacional – logo não recebe tratamento especial de proteção –, mesmo sendo este o único bioma exclusivamente brasileiro. O impacto dessa invisibilização está refletido no fato que, atualmente, menos de 9% da Caatinga está legalmente protegida em algum nível, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Também se reflete no bioma com o segundo maior aumento percentual da taxa de desmatamento de 2020 para 2021 – um aumento de quase 90%. Do desconhecimento à falta de vontade política, Michael Esquer enumera os entraves à valorização da Caatinga.

O Parque Nacional dos Aparados da Serra foi criado em 1959 no Rio Grande do Sul com 13 mil hectares, reduzidos aos atuais 10,2 mil hectares em 1972. Seu plano de manejo de 1984 descreve que o Morro Agudo “não apresenta maior interesse para o Parque” porque teria, em grande parte, “campos e fazendas com benfeitorias de alto custo”. Sob a alegação de que a região “não faz parte dos planos da área a ser protegida” há décadas e que sua redução “corrige erros na descrição de limites do parque que causam insegurança jurídica para o correto entendimento das delimitações daquela unidade de conservação”, o senador ruralista Luis Carlos Heinze (PP/RS) quer remover outros 13% do parque nacional através do Projeto de Lei nº 698/2023. Aldem Bourscheit escreve sobre este projeto de lei, sugerido pelo próprio ICMBio, que pode reduzir a proteção de campos de altitude, araucárias e fauna silvestre do estado.

Boa leitura!

Redação ((o))eco

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· Conservação no Mundo ·

Dívida-por-natureza. O Equador lançou um plano que eliminaria efetivamente os juros de parte de sua dívida em troca da proteção das Ilhas Galápagos, uma das regiões marinhas de maior biodiversidade do mundo. Um acordo de dívida em troca da natureza que eliminará US$ 1,6 bilhão em pagamentos de juros, permitindo ao país converter essa dívida comercial em um empréstimo de US$ 656 milhões emitido como título pelo banco de investimento global Credit Suisse. Este é o maior acordo de dívida-por-natureza do mundo até hoje. Ao longo de 18 anos, o Equador pagaria esse novo empréstimo e também forneceria cerca de US$ 18 milhões por ano para a conservação das águas ao redor das Ilhas Galápagos. Grande parte desse financiamento se concentrará na gestão da recém-criada Hermandad Marine Reserve, da Reserva Marinha de Galápagos e nos esforços sustentáveis de pesca e resiliência climática. [Mongabay]

 


 

Mudança de dieta. “Aqueles meses foram particularmente difíceis para nós, pois os tigres atacaram tanto o gado quanto os humanos”, disse Dharma Prakash Tharu, porta-voz de Geruwa, um município rural no oeste do Nepal. Até alguns meses atrás, os moradores costumavam correr para suas casas antes do anoitecer para se proteger dos tigres que rondavam a área, próxima ao Parque Nacional de Bardiya, lar de um terço dos tigres-de-bengala (Panthera tigris) do Nepal. Enquanto a comunidade global aplaude a conquista do Nepal de quase triplicar sua população de tigres em 12 anos, o conflito humano-tigre emergiu como um dos maiores desafios para a conservação dos grandes felinos, com pesquisadores explorando as possíveis causas e soluções. Um fator para isso é a falta de presas de grande porte para os grandes felinos. Conservacionistas apontam a necessidade de reintroduzir ou aumentar grandes populações de presas em habitats destes tigres. [Mongabay]

 

· Animal da Semana ·

O animal da semana é o Gaturamo-verdadeiro!

Algo interessante sobre essa espécie é que o gaturamo-verdadeiro é um dos melhores imitadores. Um único macho pode se manifestar em poucos minutos na voz de 10 a 16 espécies de aves diferentes. São imitações perfeitas, mas traduzidas para sua própria força vocal reduzida. O repertório do gaturamo se torna a cópia fiel da avifauna da região em que vive. 🎼

🎨 Gabriela Güllich (@fenggler)

· Dicas Culturais ·

• Pra ler •

Mar de Tormentas (2021) | Stuart B. Schwartz, Paulo Geiger (Tradução)

O autor constrói uma história dos furacões no Caribe e analisa como podemos compreender as dimensões políticas e sociais dessas catástrofes para enfrentá-las melhor no futuro.

Companhia das Letras

• Pra assistir •

Folha de lótus, escorregador de mosquito (2018) | Fernando Reinach

Nesta segunda coletânea de crônicas do biólogo Fernando Reinach, reencontramos sua fórmula única de humor, boa prosa, inventividade e rigor científico. Publicadas entre 2010 e 2017, as crônicas reunidas neste volume são tão informativas quanto cheias de graça. O livro é um passeio inesquecível pelas lentes de microscópios dos principais cientistas do mundo, em que conhecemos também um pouco mais sobre nós mesmos.

Companhia das Letras

• Pra ouvir •

O Século da Escassez (2016) | Marussia Whately e Maura Campanili

Historicamente vista com um recurso infinito, a água começou a faltar em diversas partes do mundo. Escrito de modo claro e acessível, O século da escassez convida estudantes, poder público, ambientalistas e a população em geral a refletirem juntos sobre um tema cada vez mais crucial. 

Companhia das Letras

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