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Newsletter O Eco+ | Edição #157, Julho/2023

Caviar brasileiro, zona de sacrifício e sebo nas canelas

Newsletter O Eco+ | Edição #157, Julho/2023

23 de julho de 2023

O caviar tradicional é feito com ovas do esturjão, espécie de peixe nativa dos mares Negro e Cáspio. Notoriamente caro, o prato tem experimentado um crescimento de consumo no Brasil e sobretudo no exterior graças a uma alternativa bem mais barata, feita com ovas de tainha. As ovas valorizam a pesca da tainha, mas a procura em alta pode estimular mais capturas excessivas e comprometer seus estoques naturais. A quantidade anual de tainhas a serem pescadas é fixada pelo Governo Federal desde 2018, mas a produção declarada pelo setor pesqueiro não bate com os volumes produzidos de ovas: as diferenças ultrapassam 10 mil toneladas de peixes. Aldem Bourscheit nos traz a análise inédita da ONG Oceana Brasil, que indica que a pesca excessiva de tainhas abastece parte do comércio de ovas da espécie, o “caviar brasileiro”.

Com população crescente, Macaé, cidade no norte do Rio de Janeiro, tem defendido uma agenda polêmica justamente quando o mundo discute a transição energética com base em fontes renováveis. Além de duas usinas termelétricas já em funcionamento, uma nova está em fase de pré-operação e outras dez vêm sendo licenciadas pelo Ibama ou pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), para que possam entrar em novos leilões de energia promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Aparentemente cega aos riscos ambientais, a Prefeitura local fala em “novo ciclo de desenvolvimento” e numa profusão de empregos. Emanuel Alencar conversa com Juliano Araújo, diretor da ONG Instituto Arayara, que vai à Justiça contra a instalação das termelétricas. “Macaé explora petróleo há 50 anos sem avanços sociais. Não precisamos do gás como modelo de transição energética, sob pena de atrasarmos o país em 25, 30 anos”, criticou Juliano.

Michael Esquer escreve sobre estudo recém-publicado na revista científica Plos One que revela que as espécies da floresta amazônica deverão enfrentar uma corrida contra o tempo para acompanhar o deslocamento dos nichos climáticos onde vivem, diante do avanço da crise climática. Estima-se que até 2050, elas tenham que migrar em velocidade muito acima da média global — quatro vezes maior que o ritmo médio de migração de cerca de 2km/ano — para conseguir se manter nos climas aos quais já estão adaptadas. Se as espécies irão conseguir ou não acompanhar as mudanças no bioma, o tempo dirá. Entretanto, o cenário projetado empurra a sobrevivências dessas para uma incógnita.

Boa leitura!

Redação ((o))eco

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· Conservação no Mundo ·

Razões para mudar (sua dieta). “Nossas escolhas alimentares têm um grande impacto no planeta. Reduzir a quantidade de carne e laticínios em sua dieta pode fazer uma grande diferença em sua pegada alimentar”, alerta o professor Peter Scarborough, da Universidade de Oxford, Inglaterra. Ele liderou uma recente pesquisa publicada na revista Nature Food que mostrou que as dietas veganas resultam em 75% menos emissões de aquecimento climático, poluição da água e uso da terra do que dietas nas quais mais de 100g de carne por dia são consumidos. Ainda segundo o estudo, as dietas veganas também reduzem a destruição da vida selvagem em 66% e o uso de água em 54%. O forte impacto da carne e dos laticínios no planeta é bem conhecido, e a pesquisa confirma que as pessoas nos países ricos terão que reduzir bastante o consumo de carne para acabar com a crise climática. [The Guardian]


O pior está por vir. O mundo está caminhando para um clima superaquecido não visto nos últimos 1 milhão de anos — antes da existência humana — porque “somos malditos idiotas” por não agir de acordo com os alertas sobre a crise climática, de acordo com James Hansen, o cientista americano que alertou o mundo do efeito estufa na década de 1980. Em recente comunicado, feito com outros dois cientistas, Hansen alertou que o mundo está se movendo em direção a uma “nova fronteira climática” com temperaturas mais altas do que em qualquer outro momento, trazendo impactos como tempestades mais fortes, ondas de calor e secas. Segundo ele, as ondas de calor recorde que atingiram os EUA, Europa, China e outros lugares nas últimas semanas aumentaram “uma sensação de decepção por nós, cientistas, não termos nos comunicado com mais clareza e por não termos eleito líderes capazes de uma resposta mais inteligente”. Este ano parece ser o mais quente já registrado globalmente. Mesmo assim, 2023 pode ser considerado um ano médio ou até ameno, pois as temperaturas continuarão subindo. “As coisas vão piorar antes de melhorar.” [The Guardian]

· Animal da Semana ·

O animal da semana é o tatu-canastra!

Esse animal é encontrado na América Latina e no Brasil vive nos biomas do Cerrado, Pantanal, Amazônia e Mata Atlântica.

Uma curiosidade da espécie é que o tatu-canastra é um dos mamíferos de grande porte menos conhecidos do Brasil, podendo alcançar 1,5 m de comprimento e pesar 60 kg.

Essa espécie é considerada rara na natureza por possuir hábitos noturnos e passar a maior parte do tempo embaixo do solo, o que torna sua aparição difícil para possíveis estudos. Atualmente é classificada como vulnerável nas listas nacional e mundial de espécies ameaçadas de extinção.

🎨 Gabriela Güllich (@fenggler)

· Dicas Culturais ·

• Pra assistir •

A Febre (2019) | Maya Da-Rin

Justino, um indígena Desana de 45 anos, trabalha como vigilante no porto de cargas de Manaus. Desde a morte de sua esposa, sua principal companhia é sua filha mais nova, com quem vive em uma casa modesta na periferia. Enquanto Vanessa se prepara para estudar Medicina em Brasília, Justino é tomado por uma febre misteriosa que o levará de volta a sua aldeia, de onde partiu vinte anos atrás.

Netflix

• Pra assistir •

Madalena (2023) | Madiano Marcheti

Luziane, Cristiano e Bianca não têm quase nada em comum, além do fato de morarem na mesma cidade rural cercada por plantações de soja no oeste do Brasil. Embora não se conheçam, cada um deles é afetado pelo desaparecimento de Madalena. Em diferentes partes da cidade, cada um à sua maneira, eles reagem à ausência dela.

Netflix

• Pra assistir •

Antes O Tempo Não Acabava (2022) | Fábio Baldo, Sergio Andrade

Em conflito com as tradições do seu povo, um jovem indígena contraria os líderes da sua comunidade para morar sozinho no centro de Manaus. Na cidade, Anderson experimenta novos sentimentos e enfrenta os desafios da descoberta da sua sexualidade.

Amazon Primevideo

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