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Por que o mar nos faz bem?

Em um contexto global de aumento da ansiedade e da depressão, estudos revelam como a proximidade do mar pode aliviar essas condições

11 de fevereiro de 2025
  • Rede Ressoa

    A Rede Ressoa é um projeto colaborativo de divulgação científica e comunicação sobre o Oceano.

  • Bárbara Queiroz

    Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual do Ceará. Pós-graduada em Neurociências e comportamento humano.

Se você se sente mais feliz perto do mar, isso pode não ser apenas uma questão de gosto pessoal ou coincidência. Estudos científicos têm revelado o que práticas terapêuticas antigas já sugeriam: a proximidade com o mar pode ter um impacto positivo na saúde mental. A urgência em debater esse tema é evidenciada pelo relatório da Organização Pan-Americana de Saúde, que revela que 300 milhões de pessoas no mundo convivem com a depressão. 

No Brasil, a situação é ainda mais alarmante: o país lidera os índices na América Latina, com 5,8% da população afetada pela doença, o que equivale a 11,7 milhões de pessoas. As mulheres são particularmente mais vulneráveis, e as causas estão associadas a problemas sociais estruturais, como alta carga tributária, baixa remuneração, precariedade nos serviços básicos e altos índices de violência.

A praia auxilia na redução do estresse e da ansiedade, porque há uma redução da atividade do sistema nervoso simpático e uma estimulação do sistema nervoso parassimpático, o que traz uma sensação de relaxamento e tranquilidade. Um estudo publicado em 2023 fez um experimento de realidade virtual para avaliar reações psicofisiológicas a imagens de praias versus de zonas urbanas e verdes, tendo como resultado que praias são mais eficientes na diminuição do estresse. O estudo, realizado com 164 adultos saudáveis de 18 a 65 anos na região norte da Bélgica, mostrou que a frequência respiratória diminuiu ao observarem imagens virtuais de praias, em comparação com zonas verdes e urbanas.

Mas, por quê? 

Um dos possíveis motivos para essa diminuição da frequência respiratória é a paleta de cores da praia, que é predominantemente azul. O azul tem uma associação com coisas positivas para a mente humana, representando o céu, o oceano, a pureza e a tranquilidade. É uma cor que comprovadamente induz o sono e o relaxamento por seu efeito calmante no cérebro. 

Um outro estudo, publicado em 2002, analisou a possível influência das cores na formação de memória visual. Foram apresentadas imagens de escala colorida e cinza a 36 participantes, e aquelas pessoas que viram imagens coloridas tiveram resultados de 5 a 10% melhores na memorização de imagens do que as que viram imagens em preto e branco. O mais impressionante é que esse desempenho melhor apenas acontecia quando elas viam imagens com congruência de cores, o que correspondia a padrões encontrados na natureza dos quais eles tinham conhecimento e não a um arranjo de cores artificiais.

Sendo assim, o estudo demonstrou que a cor e a luz tem uma influência sobre a formação de memória e processos de reconhecimento de imagens. Isso nos permite inferir que as cores estão associadas à memorização e a processos atencionais, o que pode ser uma pista para o porquê da praia melhorar a capacidade de concentração e de meditação.

Além da cor azul, os sons de ondas reduzem o estresse e a pressão arterial, estimulando dopamina e ocitocina, conhecidos como hormônios da felicidade. Foto: Natasha Zoellner / Pexels

O mar é fascinante

Psicologicamente falando, o mar é fascinante para as pessoas por sua beleza, imensidão e mistério. Crescemos escutando histórias sobre piratas e sereias, indo à praia para brincar e criar castelos de areia. O mar está ligado às memórias afetivas mais profundas, pelo menos, de quem podia ir à praia ocasionalmente. Isso faz com que percebamos a praia como um lugar seguro e relaxante. Além disso, o ser humano tem uma curiosidade especial por aquilo que é desconhecido e grandioso. 

As paisagens paradisíacas e encantadoras das praias mal cabem nos olhos e despertam um sentimento de liberdade e aventura. Outro estudo, este realizado na China com 68 estudantes universitários de 20 a 22 anos, analisou os impactos fisiológicos e psicológicos de imagens de paisagens naturais extraordinárias. Os resultados mostraram que quanto mais extraordinária a imagem, maior é seu efeito restaurador nas emoções. Para considerar uma imagem extraordinária, foram utilizadas cinco dimensões: admiração, distância, complexidade, mistério e singularidade. 

Desse modo, podemos concluir que a beleza ímpar e única da praia pode ter um forte efeito emocional sobre nosso bem-estar. Em muitos lugares, o mar é visto como sagrado e também está presente em mitos, lendas e contos. São muitos relatos sobre um sentimento de pertencimento em relação ao mar, talvez por que haja uma identificação com ele em decorrência de sua natureza aparentemente ilimitada, profunda, misteriosa e perigosa. Então, projetamos aspectos de nossa subjetividade nele, assim como também o utilizamos metaforicamente para falar sobre nossos sentimentos e pensamentos mais complexos. 

Construímos crenças e interpretações sobre o mar por conta de fatores culturais e espirituais. Foto: Nathan Hilton / Pexels

Mas não é tudo

No entanto, é importante deixar claro que, em hipótese alguma, o mar substitui o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Esses cuidados são fundamentais para tratar questões de saúde mental de forma responsável e eficaz. O mar pode ser um excelente aliado para amenizar os sintomas e reduzir o estresse, mas nunca uma alternativa exclusiva ao tratamento profissional capacitado.

A conexão com o mar vai além de uma simples busca por bem-estar; é um reconhecimento profundo da importância desse ecossistema em nossas vidas. O oceano nos proporciona saúde mental, alimentos, regula a temperatura do planeta, abriga uma biodiversidade única e serve como fonte inesgotável de inspiração. Ao desfrutarmos de seus inúmeros benefícios, devemos retribuir de maneira responsável e sustentável, garantindo que futuras gerações possam conhecê-lo em uma versão ainda mais vibrante e limpa. 

Saiba Mais

Pesquisas de índices de depressão: 

Estudos psicológicos mencionados: 

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