Os métodos de testagem são um dos pontos de discórdia na identificação das infecções de circovírus que já atingiram 31 ararinhas-azuis em Curaçá, na Caatinga baiana. Diante disso, um especialista defendeu os procedimentos adotados pelo governo, que são criticados pelo diretor do criadouro das aves.
Conforme o médico-veterinário e virologista Paulo Brandão, da Faculdade de Medicina Veterinária da USP (Universidade de São Paulo), o “PCR em tempo real” é o ideal para diagnosticar inúmeras doenças infecciosas em humanos e em outros animais.
“A técnica é imensamente menos sujeita à contaminação do que o PCR convencional”, destacou. Isso ocorre, segundo ele, porque no primeiro as amostras são analisadas automaticamente em equipamentos fechados e com muito menos manipulação humana.
Já o outro é “completamente manual”, com interferência de pessoas em várias etapas do processo, disse o cientista. “Há momentos de abertura de tubos e de manipulação de reagentes que são justamente as oportunidades de contaminação”, explicou Brandão.
O especialista apontou igualmente que o PCR “convencional” é bem menos sensível que o “em tempo real”, que permite identificar as quantidades de vírus, mesmo que bem pequenas. “O convencional indica apenas positivo e negativo”, afirmou.
Os testes que indicaram a contaminação de 11 ararinhas que retornaram à natureza em Curaçá usaram ambas as técnicas. O “em tempo real” indicou contaminação de todas elas, enquanto o “convencional” indicou três aves infectadas e oito isentas do vírus.
“Mesmo para as positivas o vírus não foi encontrado no sangue, somente em penas e swab cloacal o que pode ser inclusive uma contaminação”, descreveu ao Conexão Planeta o Criadouro Ararinha-azul.
Ao mesmo tempo, a instituição afirmou a ((o))eco que não questiona a técnica do PCR em tempo real, mas que é preciso calibrar o método antes de validar os testes, rodando amostras positivas e negativas e testando com vírus semelhantes para garantir resultados confiáveis e evitar falsos positivos.
“Que haja uma reavaliação, uma contraprova dos mesmos testes em outros laboratórios e até uma possível coleta de novas amostras”, pediu. “Afinal, houve uma divergência muito grande numa população cuja grande maioria das aves não apresenta sinais ou sintomas clínicos da doença”.
De acordo com Brandão, amostras positivas para circovírus com PCR em tempo real passam por um “sequenciamento de DNA”, o que permite enxergar uma “impressão digital” e confirmar de qual vírus se trata. “As sequências obtidas possibilitam montar uma ‘árvore genealógica’ e rastrear a origem do vírus”.

O PCR (sigla em Inglês de Reação em Cadeia da Polimerase) em tempo real não é um desconhecido: foi usado por milhões de brasileiros, sobretudo nos primeiros meses da pandemia de COVID-19, quando não haviam testes de farmácia, recordou Brandão.
“Todo mundo que teve o resultado positivo para Covid-19 naquele momento, foi feito por esta técnica”, disse. “Escolher um teste acurado e confiável para qualquer doença infecciosa é o fundamento de qualquer controle”, avaliou.
Como ((o))eco contou, a circovirose avícola foi descrita cientificamente pela primeira vez na Austrália, no fim dos anos 1970, embora registros anteriores datem de 1888. Daquele país, ongs apontam que o patógeno pode ter se espalhado pelo mundo de carona no comércio legal e ilegal de aves.
Ele é o principal causador da doença do bico e das penas em animais como araras, papagaios e periquitos. Ela não tem cura e mata na grande maioria dos casos. Os sintomas incluem deformidades no bico, mudança na cor e falhas na plumagem. O vírus não infectaria humanos nem aves de produção.
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Muita das vezes essas medidas punitivas que o Estado impõe às iniciativas da sociedade civil funcionam mais como um desencorajamento a qualquer atividade bem intencionada. De que adianta aplicar uma multa de 1,4 milhão de reais numa ONG que está tentando trazer uma espécie de volta da extinção? Nada! Só retira recursos preciosos que poderiam ser aplicados justamente na melhoria da infraestrutura do centro de reabilitação das ararinhas e desencoraja outras possíveis iniciativas privadas que poderiam ser empreendidas por nós meros cidadãos. Sou ambientalista roxo, amo a pássaros, animais silvestres e faço o que posso para proteger a vida selvagem dos lugares que atuo. Mas quando vejo esse tipo de conduta que o Estado empreende contra as iniciativas da sociedade civil, não entendo qual a finalidade dessas medidas.