Servidores do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Ibama e Instituto Chico Mendes (ICMBio) estão em greve em todo o país desde o dia 7 de abril. O movimento foi desencadeado pela intransigência do Ministério do Planejamento diante de propostas de negociação da reestruturação da carreira dos servidores, o que envolve melhorias salariais, mas sobretudo condições dignas de trabalho. O analista Alexandre de Matos M. Pereira, do Ibama de Mato Grosso do Sul, enviou a O Eco uma carta detalhando a gravidade da situação. Confira, na íntegra.
“Não estou aqui para pedir apoio à greve de um grupo de servidores públicos federais, afinal de contas, o senso comum (infelizmente) prega que todo servidor público federal ganha bem e é vagabundo por ser um servidor público.
A questão é que os servidores públicos federais da área ambiental estão com suas atividades paralisadas (greve!) desde o dia 7 de abril reivindicando melhores condições de trabalho, um plano de carreira decente e que condiz com a complexidade e seriedade que a questão ambiental brasileira exige.
Em momentos em que o Brasil é visto mundialmente como uma das maiores esperanças para a Terra por possuir o maior estoque de carbono vivo do planeta, capaz de equilibrar o clima do mundo, enquanto os países desenvolvidos discutem metas para reduzir suas emissões, em que governo do Presidente Lula diz ao mundo que o Brasil cresce “sustentavelmente” protegendo suas florestas e com combustível “verde”, em que as mega-obras do PAC1 e PAC2 (como Belo Monte, p.ex) exigem diversos especialistas na área ambiental para avaliarem a viabilidade desses projetos, etc; este mesmo governo que tem como uma das suas vitrines da vaidade para o mundo a questão ambiental brasileira é o mesmo que denigre e não respeita a luta dos servidores públicos federais da área ambiental para proteger e conservar essa vitrine que o governo apresenta ao mundo.
Estou aqui para mostrar que, com atitudes como esta, o governo Lula demonstra quão frágil é a vitrine que ele apresenta. É com atitudes como esta que técnicos experientes e capacitados nas melhores universidades do país e que ingressaram no serviço público por concorridíssimos concursos esvaziam os órgãos ambientais para ocuparem locais na iniciativa privada ou até mesmo em outras carreiras públicas que apresentem melhores condições de trabalho e remuneração condizente com a especificidade e complexidade das suas funções.
Talvez a intenção seja essa mesmo, que técnicos e especialistas de gabarito saiam dos órgãos ambientais fiscalizadores e licenciadores para que as mega-obras e o desenvolvimento do país não sejam “barrados” pela ecochatice dos funcionários do IBAMA, do ICMBio, do SFB, do MMA.
Por fim, se o governo Lula e os seus representantes continuarem a negligenciar as discussões e negociações para melhoria das condições de trabalho e uma nova estrutura na carreira de especialista em meio ambiente, a única coisa que me resta é lamentar por todos nós.
Grato e espero que, pelo menos, sirva para refletir.
Alexandre de Matos M. Pereira
Ecólogo
Analista Ambiental
PREVFOGO/DIPAM/IBAMA-MS”
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