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Assim caminha a humanidade

Nos últimos duzentos anos, a população humana cresceu a uma velocidade sem precedentes históricos. Quando tudo parecia fora de controle, o ritmo desacelerou.

19 de agosto de 2005 · 20 anos atrás
  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

Em 1987, a população humana era de 5 bilhões de pessoas. De acordo com estimativas das Nações Unidas, apenas doze anos mais tarde, em 1999, bateu a marca de 6 bilhões, e hoje já chega a 6,5 bilhões. Em termos históricos, é um crescimento extravagante. Só chegamos no primeiro bilhão em 1802 e levamos mais de cem anos para repetir a façanha.

Estima-se que, no ano 950, a população humana era de 250 milhões. Para dobrar, levou 650 anos. Ou seja, chegamos a 500 milhões em 1600. A partir daí, o tempo necessário para cada duplicação caiu rapidamente. Para chegar a um bilhão de pessoas em 1802 foram necessários 202 anos, menos de um terço do tempo anterior. A passagem pelo segundo bilhão, em 1927, precisou de 125 anos, quase metade. Em 1971, apenas 44 anos depois, chegamos aos 4 bilhões. De novo, um terço do tempo necessário para o número dobrar.

O aumento da população foi acompanhado de melhor nutrição, mais higiene e avanços na medicina. Não só o número de pessoas está aumentando, como estamos vivendo muito mais. Hoje, nos países desenvolvidos, as pessoas vivem cerca de 80 anos. Infelizmente, não é assim no mundo todo. Em países como Zâmbia e outros da África subsaariana, a expectativa de vida fica em torno dos 40 anos. De qualquer forma, melhor que a de gregos e romanos antigos, estimada em 25 anos. Ou mesmo da Inglaterra na época medieval, quando a situação já tinha melhorado, em 33 anos. Só no início do século XX, pudemos nos imaginar andando por aí com uns 50 anos.

Nos Estados Unidos, em 1901, a expectativa de vida era de 49 anos. Em 2000, chegou a 77 anos, um aumento de 57%. Na China e na Índia, era de 40 anos até a metade do século XX, contra 63 no fim do século. No Brasil, os progressos também foram notáveis. Em 2003, segundo o IBGE, os brasileiros já podiam esperar viver 71,3 anos, quase 9 anos a mais do que no, ainda próximo, ano de 1980, quando a média era 62,6 anos.

Viver mais é bom, principalmente porque os acréscimos ocorreram pela redução de doenças, fome e outras causas de morte prematura. Mas será que isso é sustentável? A população humana cresceu nos últimos 200 anos a taxas nunca vistas. Até hoje, a produção de comida cresceu mais rápido que a de gente. Mas, até quando e com que impactos ambientais?

Felizmente, as notícias recentes são tranqüilizadoras. O crescimento da população mundial está desacelerando drasticamente. Na Europa, a projeção é de queda. O número de europeus deverá cair perto de 13%, de 724 milhões em 2005, para 632 milhões em 2050. Um terço dos países já tem taxas de natalidade abaixo do limite de manutenção populacional, que é de 2,1 crianças por mulher. Nesse período, a população da Ásia, das Américas e da Oceania aumentará cerca de 30%. Só na África o crescimento continuará acelerado, chegando a 1,8 bilhão de habitantes, 103% de acréscimo.

Depois de justificado alarme, contra todas as previsões feitas até duas décadas atrás, o crescimento populacional parece estar parando. Os últimos cálculos indicam que o ápice no número da população estará próximo em 2050, quando viverão 8,9 bilhões de seres humanos no planeta Terra.

Essa freada implicará numa população, em média, bem mais velha. Os sistemas de previdência social do mundo inteiro estão falidos. Mas, particularmente, prefiro reformar a previdência a passar fome num planeta árido e marrom.

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